17/8/2019 0 Comentários Saúde Ambiental: o impacte do ambiente em perigo na saúde do indivíduo em riscoA relação entre o ambiente e a saúde humana é observada há séculos.
Em anos recentes, a investigação efetuada adicionou ao nosso conhecimento a compreensão de como o ambiente pode proteger e ser sustentável para a vida humana ou, ao invés, contribuir para a incapacidade e/ou morte prematura. Se, por um lado, podem ocorrer situações ambientais promotoras de saúde – espaços recreativos e de promoção do exercício, camada de ozono estratosférico para proteção dos raios ultravioletas, ar, água e solos com qualidade para os fins a que se destinam – por outro, algumas situações ambientais podem ser ameaçadoras para a vida – disrupções ambientais, como as situações de catástrofe, contaminação de cursos de água, poluição atmosférica, entre outros. O ambiente é reconhecidamente um dos quatro grandes determinantes do estado de saúde de uma população, juntamente com os fatores genéticos, os comportamentos e estilos de vida e a qualidade da prestação dos cuidados de saúde. Quando nos debruçamos sobre os problemas de saúde ambiental constatamos que os mesmos são de uma enorme complexidade, por dois motivos:
Mas o ser humano, ao estar exposto a estes fatores de risco de natureza ambiental, apresenta modos de reação que revelam uma grande variabilidade entre os indivíduos – a adaptação humana aos diversos fatores de risco e às mudanças que se operam no ambiente é notável. Contudo, nem sempre a adaptação dos seres humanos corresponde a uma melhoria. Alguns grupos populacionais específicos, como os idosos, as grávidas, as crianças, as pessoas com problemas de saúde (cardiovasculares, imunitários, entre outros) são especialmente sensíveis e devem ser protegidos prioritariamente, dado que nem sempre a sua capacidade e forma de adaptação é a que melhor satisfaz as suas necessidades de saúde. A adaptação muitas vezes realiza-se mediante uma tolerância em que se sacrifica algo na vida. É o caso, por exemplo, da adaptação do ser humano ao ruído, que se paga pela deterioração de parte do sistema auditivo. Poder-se-ia referir uma elevada panóplia de exemplos. É esta a situação típica dos problemas de saúde mais graves com origem nas matrizes ambientais – não se morre, mas paga-se um preço elevado para viver. Um outro aspeto a realçar relativamente aos problemas de saúde ambiental tem a ver com a lentidão da evolução clínica das manifestações relacionadas com fatores de risco ambientais. Por exemplo, entre uma exposição ao amianto e o aparecimento de um mesotelioma da pleura ou do peritoneu podem decorrer 30 ou 40 anos. Para o aparecimento de uma catarata após a exposição a ultravioletas podem ocorrer 10 anos. Desta situação sempre resultou, portanto, um atraso na definição das redes de causalidade. É do senso comum que cada indivíduo está cercado por uma multiplicidade de fatores ambientais de índole diversa, cuja intensidade e tempo de atuação variam, podendo ser maiores ou menores. Esta panóplia de fatores conduz a fenómenos de saúde e doença tão diversos quanto as causas que lhe estão subjacentes. Em 1965, o estatístico britânico Sir Austin Bradford Hill propôs um conjunto de características que deveriam ser procuradas quando se decide se uma relação entre um determinado fator ambiental e uma doença é causal ou apenas uma associação – a relação temporal entre causa e efeito, a força da associação, a relação dose-resposta, a associação reversível, a consistência, a plausibilidade biológica, a especificidade e a analogia. Em última análise, o que se pretende com a epidemiologia ambiental é contribuir para a prevenção e controlo da doença e promoção da saúde por intermédio da investigação das causas de doenças e dos meios que as podem modificar, sabendo-se que estamos a lidar com os fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e psicológicos no ambiente. É consensualmente aceite a existência de uma conjugação/potencialização dos efeitos dos fatores inseridos nas matrizes ambientais. Quanto maior a multiplicidade, a variabilidade, a sinergia, a intensidade e o tempo de atuação dos fatores, maior a repercussão na saúde da população. Há ainda a salientar uma outra característica deste tipo de fatores que influenciam a saúde – a sua natureza qualitativa e não somente quantitativa. Há circunstâncias em que uma pequena variação num dos fatores tem consequências desastrosas para um indivíduo, uma família ou uma comunidade. Contudo, grandes variações podem não ter consequências tão graves. São os casos em que o qualitativo se sobrepõe ao quantitativo. Face a este contexto, pode concluir-se que a Saúde Ambiental tem de compreender a inter-relação entre o ambiente e o indivíduo que nele vive e desenvolver as ações que potenciam o equilíbrio de ambos, até porque a gama dos efeitos das exposições a fatores de risco de natureza ambiental sobre a saúde é muito ampla – todos os aparelhos e sistemas do organismo podem ser perturbados a vários níveis pelos fatores de risco de natureza ambiental. Um Planeamento correto para intervenção em problemas de Saúde Ambiental, deverá considerar três aspetos fundamentais: a regulamentação existente relativamente a cada uma das situações que estiver a ser abordada, a localização geodemográfica das comunidades em análise e a comunicação do risco em cada situação, tendo sempre a consciência do necessário ajustamento da perceção de risco que as pessoas envolvidas têm, relativamente ao risco real. No atual quadro de alterações climáticas, quiçá um dos mais importantes problemas ambientais da atualidade, deve ter-se a consciência de que o ser humano não pode ser vítima da tecnologia que elabora ou da forma nem sempre correta como se relaciona com o ambiente. Face à complexidade desta relação há que dar provas de uma grande modéstia e reconhecer que é enorme a nossa ignorância relativamente a muitas destas questões de natureza ambiental e de como elas influenciam a nossa saúde. António Tavares, PhD, MD
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