2/11/2021 0 Comentários A investigação e o Médico Interno de Saúde Pública: da formação em contexto de internato à formação avançadaA investigação de problemas de saúde com repercussão populacional e seus determinantes é uma competência essencial à prática do Médico de Saúde Pública.(1) A investigação e as suas metodologias podem ser utilizadas como um recurso para a produção de novo conhecimento científico ou para o apoio à prática da saúde pública, numa perspetiva de saúde pública baseada na evidência (evidence-based public health). Assim, podemos perspetivar a formação em investigação para condução de novos estudos de investigação ou utilização do conhecimento já existente. Ambas as perspetivas são uma constante no Internato Médico de Saúde Pública. Para a primeira, o estágio de investigação epidemiológica em saúde pública constitui o exemplo mais fulcral. Para a segunda, o estágio de intervenção em saúde pública é um exemplo paradigmático - a escolha de uma intervenção adequada à resolução de um problema de saúde requer conhecimento do efeito da intervenção a implementar. Adicionalmente, durante o Curso de Especialização em Saúde Pública irão desenvolver conhecimentos e competências em metodologias de investigação. Contudo, todos estes momentos são pensados para a formação de um Médico de Saúde Pública em geral e poderão não dar resposta a necessidades e interesses mais específicos. Discussões com o orientador de formação e outros colegas poderão ser úteis para melhor compreender o decorrer destes momentos de formação. A investigação em saúde pública abrange várias áreas do conhecimento e poderá ser vista de diferentes perspetivas. Como tal, para os que têm interesse na área de investigação será importante identificar em concreto qual a área de maior interesse a aprofundar – conduzir estudos de investigação ou desenvolver a capacidade crítica para analisar estudos prévios. Também existem áreas distintas que poderão guiar a procura de formação – e.g. investigação epidemiológica em contexto de epidemiologia de campo, investigação em metodologias quantitativas, metodologias qualitativas, avaliação económica, entre outros. Mediante a escolha da área poderão existir programas de formação mais adequados. Por exemplo, o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) disponibiliza o European Programme for Intervention Epidemiology Training (EPIET),(2) programa direcionado aos que pretende formação avançada na área da epidemiologia de campo. Por outro lado, aos que pretendem robustecer os conhecimentos numa área metodológica específica existem mestrados ou pós-graduações em áreas focadas nas metodologias aplicadas em saúde pública. São exemplo disso os programas na área da epidemiologia, bioestatística/estatística médica e metodologias de investigação. Outra opção são os cursos online abertos e massivos (do inglês Massive Open Online Course, MOOC), que apresentam grande flexibilidade mas menor acompanhamento individual. Integrar equipas de investigação no âmbito de estágios do internato ou de forma paralela poderá ser uma boa forma de conhecer de forma mais aprofundada um tema ou as dinâmicas de trabalho em contexto de investigação. Finalmente, os programas de doutoramento são tradicionalmente a resposta formativa para quem pretende conduzir investigação.
O doutoramento corresponde ao grau académico mais elevado do ensino superior.(3) Reserva-se aos que, entre outros requisitos, compreendem a sua área de estudo, dominam as metodologias de investigação dessa área e demonstram capacidade de conceber, desenhar, implementar e adaptar projetos de investigação. Esta capacidade deve contribuir para o avanço no conhecimento. Embora o doutoramento seja o grau que prepara os profissionais a desenvolver investigação, nem sempre é a resposta para as necessidades de formação de cada interno. A estrutura dos programas de doutoramento em saúde pública varia de acordo com o país e a instituição onde são realizados. Desde logo é importante distinguir os vários tipos de programas e o seu propósito.(4) A nível internacional existem programas clássicos, os PhD (Philosophiæ Doctor) orientados para a preparação dos seus candidatos a desenvolver investigação. Em alguns locais (e.g. Estado Unidos da América e Reino Unido) existe um outro programa doutoral, o DrPH (Doctor of Public Health). Este constitui um grau de avançado em saúde pública que prepara os seus candidatos para posições de liderança. Relativamente à duração dos programas de doutoramento estes variam habitualmente entre 3 e 5 anos, consoante os países. Alguns locais incluem uma parte curricular estruturada enquanto que noutros o trabalho a desenvolver foca-se mais no projeto de investigação. Em Portugal, os programas de doutoramento na área da saúde pública têm habitualmente a duração de quatro anos. O primeiro ano corresponde à componente curricular com conteúdos avançados em metodologias de investigação em saúde pública. Este termina com a apresentação de um protocolo que serve de base ao trabalho a desenvolver no âmbito do projeto de investigação. O projeto será depois conduzido durante o restante período de doutoramento. O doutoramento termina com a entrega da dissertação e apresentação da mesma em contexto de provas públicas. Conciliar a formação médica e a de investigação pode colocar alguns desafios. O Estatuto do Interno Doutorando constitui um modelo de conciliação entre o internato médico e os programas de doutoramento. Através deste estatuto é possível realizar o Internato em tempo parcial ou até mesmo suspender o internato. Poderão encontrar mais informação na Newsletter dos Internos de Saúde Pública de Dezembro 2014, disponível aqui.(5) Em edições subsequentes da Newsletter têm também disponíveis testemunhos de colegas que optaram por realizar o seu doutoramento conciliando com o internato. Para os internos que pretendem desenvolver as suas competências na área de investigação sugiro que explorem as diversas possibilidades, considerando a formação disponível no âmbito do internato e os seus interesses e necessidades pessoais. Foram apresentadas algumas possibilidades que podem dar resposta a essas necessidades. Aos que pretendem ingressar em programas de doutoramento é importante que considerem qual o programa mais adequado e o local em que pretendem desenvolvê-lo. Se o fizerem durante o internato o Estatuto do Interno Doutorando poderá apoiar na conciliação. De uma forma geral, não existe uma resposta única a todas as necessidades. As decisões em formação avançada na área de investigação requerem uma reflexão individual e discussões com o orientador de formação e outros colegas. Autora Andreia Leite ([email protected])
Edição Nuno Do Amparo Bibliografia
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Fevereiro 2024
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