29/6/2017 3 Comentários Redes Sociais e Saúde PúblicaO papel das redes sociais na Saúde é hoje inultrapassável. Há diversas questões conexas com este fenómeno que tem merecido crescimento exponencial. Por um lado as redes sociais são hoje fundamentais como ferramenta e oportunidade de comunicação. Por outro lado, as redes sociais são uma fonte de informação relevante para a vigilância epidemiológica. Abordando desde já as questões da comunicação, vivemos hoje tempos de uma enorme complexidade de comunicação. As redes sociais vieram dar acesso à informação a milhares de pessoas e a produção de conteúdos passou a estar ao alcance de qualquer pessoa com acesso à internet. Efectivamente, estes conteúdos passaram a estar disponíveis de forma rápida, acessível e atractiva, com recursos muito reduzidos. Inclusivamente, considera-se as redes sociais como tendo capacidade de reduzir as desigualdades, na medida em que qualquer cidadão pode receber (e produzir) conteúdos em condições idênticas. Contudo, esta “democratização” do acesso veio introduzir um problema que se prende com a validação da informação, pois se no passado os media procediam a alguma verificação de fontes e da veracidade dos dados, hoje em dia isso tornou-se virtualmente impossível. E os fenómenos dos movimentos anti-vacinação ou das terapêuticas ditas alternativas têm ganho uma projecção que seria impensável há poucos anos. Importa que os médicos e os profissionais de saúde sejam interventivos no esclarecimento destas questões, com suporte científico sólido. A título de exemplo deixo a referência a duas iniciativas interessantes: a Comunidade Céptica Portuguesa (http://comcept.org/) e o SCIMED (http://www.scimed.pt/). No que toca à vigilância a experiência internacional é vasta e em crescimento permanente. Há múltiplas ferramentas que utilizam dados das redes sociais para detecção precoce de surtos e fenómenos de doença. Várias dessas ferramentas assentam no Twitter, pois a informação é livremente pesquisável. Um dos exemplos mais carismáticos é a plataforma desenvolvida por John Brownstein, para detecção de surtos de doença gastrointestinal. Foi desenvolvido um dicionário de termos associados a doença gastrointestinal e sempre que um tweet tenha esse conteúdo, é enviada uma mensagem privada para o utilizador, solicitando confirmação dos sintomas e mais dados sobre eventuais exposições. Assim, é possível tentar identificar fontes comuns que possam ter estado na origem de um eventual surto. Tendo em conta que a maioria das situações de queixas gastrointestinais são autolimitadas e sem recurso a cuidados de saúde, este torna-se efectivamente a única maneira de obter estes dados e encontrar eventuais clusters de casos. Em Portugal, contudo, a taxa de penetração do Twitter é relativamente baixa e portanto não há grande incentivo para a implementação deste tipo de soluções. Sem prejuízo disso, a participação dos cidadãos é fortemente incentivada, sendo de destacar o projecto Socientize (http://www.socientize.eu/) e há vários projectos de ciência cidadã implementados em Portugal. Exemplo disso é a plataforma de vigilância participativa Gripenet (www.gripenet.pt), em que é semanalmente solicitado aos participantes que relatem os eventuais sintomas gripais verificados na semana anterior. Isto permite obter informação de forma precoce e de índole comunitária, permitindo antecipar o início do período gripal e o pico da epidemia sazonal com algumas semanas de antecedência. No entanto, há algo que tem que ser dito no que toca ao papel dos sistemas baseados em redes sociais, que não podem ser encarados como substitutos das plataformas convencionais, mas antes como um complemento que permite aceder a informação de base comunitária, de uma forma mais rápida. Genericamente, também diria que as redes sociais podem não trazer saúde para todos, mas são seguramente uma ferramenta de literacia e capacitação que os profissionais de saúde não podem ignorar. Ricardo Mexia
Declaração de interesses: Sou coordenador do Gripenet Portugal, a plataforma de vigilância participativa da Gripe, gerida pelo Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
3 Comentários
6/7/2017 16:58:22
Esta plataforma informativa de gastroenterites permite acesso a doenças de notificação obrigatória nacionais e outras. Quais são as suas funcionalidades ?
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17/7/2017 17:01:52
Obrigado pela pergunta. De facto, tal como é referido no texto, é uma plataforma usada nos EUA. A baixa utilização do Twitter em Portugal torna a sua utilização muito difícil. De qualquer forma para saber um pouco mais, aqui fica um link: https://blog.twitter.com/official/en_us/a/2015/twitter-data-public-health.html
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