16/2/2020 1 Comentário Planos de ContingênciaNeste momento em que a Saúde Pública a nível global está fortemente empenhada na contenção do surto de COVID2019, torna-se relevante abordar um tema que nem sempre está na ordem do dia: Os Planos de Contingência. Os Planos de Contingência são ferramentas essenciais de gestão do risco, antecipando ameaças e planeando a resposta. É reconhecido que qualquer organização tem de se precaver para eventos inesperados e que podem comprometer a sua capacidade operacional. E também não é menos reconhecido que não é possível funcionar em pleno, perante algumas ameaças internas e externas. Importa, portanto, priorizar as tarefas essenciais, identificar quem são os responsáveis por cada uma delas, e quem os poderá substituir em caso de ausência, diversificando os profissionais capazes de desempenhar essa tarefa. Todas as tarefas deverão ter Procedimentos Operacionais Padrão – POP (mais conhecidas no anglicismo SOP -Standard Operating Procedures), para poderem ser realizadas por qualquer profissional, assegurando simultaneamente eficiência, qualidade e uniformidade. Mas antes disso, é fundamental fazer uma análise de risco, identificando quais os eventos que podem ter um potencial disruptivo nas actividades das organizações. Essa identificação implica subsequentemente a construção de um cenário plausível, para melhor poder aferir as implicações, eventualmente com alguma quantificação. Muito relevante é também implementar sistemas de vigilância que possam sinalizar eventuais desvios e que permitam então um diagnóstico mais rápido, activando precocemente o Plano de Contingência. Como em qualquer abordagem de Saúde Pública, a intervenção de forma preventiva é uma das maneiras que temos ao nosso dispor para redução dos impactos de um qualquer evento disruptivo. Assim, a comunicação do risco é essencial, promovendo comportamentos que possam minimizar o risco e reduzir o dano. Por outro lado, criar uma cultura de partilha de responsabilidades e tarefas, com alguma redundância, torna-se então um factor diferenciador, permitindo que todos os agentes possam encarar qualquer eventualidade com confiança e percepção clara sobre qual o papel esperado que desempenhe. Na preparação da resposta torna-se desde logo claro que é essencial um inventário adequado dos recursos disponíveis, mas também de recursos externos que possam ser mobilizados. Estes recursos incluem os profissionais de saúde, os equipamentos, os consumíveis, as instalações e toda a logística necessária para que possam funcionar em pleno. Os Planos de contingência também devem ser sistematizados, incluindo uma definição clara de quais são os objectivos, as actividades a desenvolver, os indicadores que irão ser utilizados e ainda as metas para cada uma das fases. Para que um Plano de Contingência possa ser operacionalizado, uma das ferramentas que tem de ser desenvolvida é um Plano de Acção. Este deve identificar as necessidades, prever a dotação de recursos e os passos necessários para adquirir essas capacidades. Infelizmente, muitas vezes, os recursos humanos não são suficientemente valorizados e a sua diferenciação é demasiadas vezes ignorada. Possivelmente subsiste até algum receio que alguém que adquira mais e melhores capacidades ambicione desempenhar funções noutra organização. Há uma expressão famosa no mundo dos Recursos Humanos que é, numa tradução livre do inglês original: “O que acontece se treinar os seus profissionais e eles saem da organização?”. Mas a chave está precisamente em outra pergunta: “E o que acontece se não os treinar, e eles ficarem?”. Uma vez elaborados, torna-se também importante aferir a capacidade e funcionalidade desses planos. Portanto realizar exercícios de simulação e treinar as diversas componentes são também actividades que permitem capacitar os profissionais e identificar eventuais lacunas ou disfuncionalidades. Mais ainda, importa aproveitar ocasiões em que ocorram eventos que possam ser enquadrados no Plano de Contingência para testar a operacionalidade do mesmo. Algo que não é feito regularmente é a avaliação após o evento. Ou seja, após uma determinada ocorrência, fazer a análise da resposta, da articulação entre as entidades, da comunicação, da agilidade e rapidez e dos resultados. Só assim poderá ser possível melhorar para uma próxima ocorrência, aumentando o nível de confiança por parte de todos os intervenientes. Em Portugal temos diversos exemplos de Planos de Contingência, mas talvez o que mais divulgado foi seja o que foi criado por ocasião da Pandemia gripe em 2009. E que na prática tem servido de ponto de partida para outros que foram sendo criados entretanto, para fazer face a outras situações. No actual surto de COVID19, as Autoridades de Saúde têm desempenhado um papel fundamental em diversos contextos. A nível Nacional, com um empenhamento relevante na preparação da resposta e das diversas orientações técnicas, acompanhando em tempo quase real o desenvolvimento de conhecimento e boas práticas. A nível Regional, com as equipas em campo, quer do ponto de vista da Sanidade Internacional, quer na mobilização dos recursos. E também amplamente a nível local, com as Unidades de Saúde Pública empenhadas em disseminar a informação necessária às populações e capacitar as diversas unidades de saúde em como lidar com um caso suspeito e, ainda, na identificação de potenciais contactos. Portanto, não só estamos fortemente envolvidos na implementação, mas também é responsabilidade da Saúde Pública elaborar planos de contingência no âmbito do Ministério da Saúde e, tendencialmente, pode também ter um papel importante na elaboração desses planos para os diversos parceiros. Todos os profissionais e, mais ainda, os Médicos de Saúde Pública, pelo seu papel de liderança, devem envolver-se activamente nestas tarefas, proporcionando condições para que qualquer adversidade possa ser ultrapassada de forma ágil, permitindo uma melhor protecção da saúde das populações, a promoção da saúde nos diversos grupos populacionais e sermos eficientes na prevenção da doença. Ricardo Mexia MD MPH EPIET
1 Comentário
Carlota
18/2/2020 08:37:07
Bom resumo sobre como desenvolver planos de contingência. Estes são preparados para minimizar os riscos para a população certo?
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Fevereiro 2024
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