Os mosquitos desempenham funções importantes em vários ecossistemas. No entanto, podem ser vetores importantes de microrganismos patogénicos causando danos à saúde humana. Ao longo da história têm sido relatados muitos milhões de casos de doenças transmitidas por estes vetores, as quais são responsáveis por grande mortalidade e morbilidade. Apesar de as regiões tropicais serem as mais atingidas, por terem condições climáticas mais favoráveis para o vetor, sempre houve endemias e epidemias autóctones na Europa. No entanto, o aumento da dispersão das espécies de mosquitos vetores, principalmente devido ao aumento da circulação de pessoas e bens, leva ao agravamento do risco para outras regiões. Por isso, algumas das doenças transmitidas por vetores estão a surgir, ou a reaparecer após longas ausências, enquanto outras estão a expandir-se. A sua ocorrência está muitas vezes associada a alterações nos ecossistemas, comportamentos humanos e clima. A probabilidade de sobrevivência e o posterior estabelecimento de espécies invasoras em áreas geográficas distintas aumentam se as condições ecológicas lhes forem favoráveis. Os mosquitos não estão adaptados nem a temperaturas muito baixas nem a temperaturas muito altas. No entanto, se as alterações climáticas conduzirem a um aumento das temperaturas mínimas, pode aumentar o risco de dispersão destes vetores. A temperatura é um fator importante tanto na densidade do vetor como na sua capacidade vetorial, aumentando ou diminuindo a sobrevivência do vetor, condicionando a taxa de crescimento das suas populações, interferindo na sua suscetibilidade aos agentes patogénicos, alterando o período de incubação do agente no vetor e mudando a atividade e padrão de transmissão entre estações. Aumentando a temperatura da água nos criadouros, a transformação larva-adulto ocorre mais rapidamente, acelerando o ciclo reprodutivo. Os limites de temperatura para a transmissão de doença por mosquitos são 14-18°C, no limite inferior, e 35-40°C, no limite superior. Um pequeno aumento no limite inferior poderia dar lugar a um aumento na transmissão de doenças. No entanto, um aumento do limite superior levaria à morte do mosquito. Os mesmos fatores climáticos desempenham também um papel crucial na sobrevivência e transmissão dos agentes patogénicos que eles transmitem. Devido às alterações climáticas, países com um clima temperado, como é o caso de Portugal, correm o risco de adquirirem condições mais favoráveis para doenças transmitidas por vetores. Na Europa, as espécies consideradas como as maiores ameaças à saúde pública, são Aedes aegypti e Aedes albopictus, tendo já sido responsáveis por vários casos de doença. Em Portugal, foi detetada a presença de Aedes albopictus, pela primeira vez em 2017, nas instalações de uma empresa que se dedica ao comércio de pneus usados, em Penafiel, e posteriormente no Algarve de forma mais dispersa. Também Aedes aegypti está presente na ilha da Madeira desde 2005, tendo causado um surto de Dengue em 2012 e é neste momento motivo de preocupação por parte das autoridades de saúde, devido à probabilidade de reintrodução no continente. Com a finalidade de conhecer exatamente quais as espécies de vetores presentes em Portugal, em que regiões e qual a sua capacidade vetorial, foi criada uma Rede de Vigilância de Vetores, designada REVIVE, a nível nacional. A rede visa também avaliar a transmissão de agentes patogénicos, sendo efetuada a pesquisa de flavivírus (que incluem os vírus West Nile, Dengue, Febre Amarela, Zika e outros) com maior impacto em saúde pública, presentes ou em risco de serem introduzidos em Portugal. Das espécies mais abundantes em Portugal Continental, duas merecem especial atenção: Culex pipiens e Culex theileri ambos reservatórios e vetores do vírus West Nile e ambos já responsáveis pela transmissão de doença em Portugal. Na Europa já houve registo de várias doenças transmitidas por mosquitos. Dengue, Chikungunya, West Nile, Malária e Filariose são as mais importantes. As doenças transmitidas por vetores são um grupo específico de infeções que apresentam uma ameaça para a Europa e requerem a vigilância das espécies de mosquitos exóticos como Aedes albopictus, Aedes aegypti, Aedes atropalpus, Aedes japonicus, Aedes koreicus e Aedes triseriatus. O vetor mais importante para a Saúde Pública na Europa é Aedes albopictus, devido à sua expansão e competência vetorial. Foi identificado pela primeira vez em 1979, na Albânia. A colonização na Europa continuou em Itália em 1990 e foi-se dispersando gradualmente para outros países (Figura 1). Esta expansão continua a verificar-se, o que representa um sério risco para a Saúde Pública. Aedes albopictus foi o vetor responsável por uma epidemia de Chikungunya em 2007, perto de Ravena, Itália. Em 2010 foi o responsável pelo registo de casos de Dengue em Marselha e na Croácia, e de dois casos de Chikungunya em França. Outro vetor importante é Aedes aegypti que tinha desaparecido da Europa nos últimos 50 anos. Foi reintroduzido recentemente em torno do Mar Negro no sul da Rússia, Abkhazia, Geórgia e em Portugal (na ilha da Madeira), aumentando a preocupação das Autoridades de Saúde. Desde o início do surto, a 3 de outubro de 2012, até ao dia 1 de setembro de 2013 (últimos dados divulgados pela DGS, a 12 de setembro de 2013), foram notificados 2187 casos prováveis de febre de Dengue, sem qualquer óbito.
O principal objetivo da vigilância epidemiológica é a deteção precoce de casos de introdução ou alteração da abundância de espécies de mosquitos, para que as medidas de controlo sejam iniciadas atempadamente, de modo a evitar novas ocorrências, prevenindo-se assim as epidemias. O European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) foi criado em 2005. É uma agência da EU, sediada em Estocolmo, Suécia, com o objetivo de reforçar as defesas da Europa contra as doenças infecciosas. O ECDC é a entidade responsável pela identificação, avaliação e comunicação de ameaças, de doenças infecciosas, para a saúde humana. O Regulamento Sanitário Internacional (RSI) estabelece procedimentos que visam prevenir a disseminação de doenças a nível internacional, através da monitorização, vigilância e resposta a emergências em Saúde Pública. Assim, de acordo com o RSI, o Estado deve estar munido de programas e de pessoal treinado para o controlo de vetores e reservatórios nos seus pontos de entrada (portos, aeroportos e fronteiras). As ações de controlo passam pela redução de criadouros, tratamentos com inseticidas e campanhas de educação junto da população, promovendo a proteção individual e das populações. Márcia Marques Técnica Superior de Saúde Ambiental, Mestre em Qualidade e Gestão do ambiente (Especialização em Ecologia) [1] Fonte: European Centre for Disease Prevention and Control/Vbornet, 2020. Disponível em: https://www.ecdc.europa.eu/en/publications-data/aedes-albopictus-current-known-distribution-may-2020 Consulta a 22-04-2021.
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Fevereiro 2024
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