A Itália é o país europeu que foi mais afetado pela primeira vaga de COVID-19. É também o país da União Europeia onde se observa maior mortalidade por COVID-19 (2,03 mortes por 1000 habitantes)(1). A Lombardia, com um total de 808 046 casos confirmados (3/05/2021), foi a região mais afetada do país, o que motivou a que a vacinação em massa fosse prioritária e assumisse uma especial atenção relativamente às restantes regiões(2). A 13 de março de 2021, a presidência do conselho de ministros de Itália divulgou o Plano Nacional de Vacinação contra a COVID-19. Este tinha como finalidade superar a emergência sanitária e assegurar a segurança dos cidadãos. Além do mais, fornecia diretrizes para completar o mais rapidamente possível a campanha vacinal, com o objetivo de vacinar 80% da população até setembro de 2021(3). Uma vez que, em janeiro de 2021, ainda não existiam orientações nacionais, e por forma a otimizar o processo de vacinação na região, foi pedida consultoria a um grupo multidisciplinar no sentido de projetar a conversão do Hospital de Campanha da Feira de Milão num centro de vacinação massiva. A implementação do novo modelo, teoricamente, permitiria uma otimização dos processos e da área (m2), mediante redução do espaço morto, o que daria a possibilidade de aumentar o número de inoculações diárias de 1250 para 5500 (4,4 vezes mais). Com este modelo haveria necessidade de um aumento do número de médicos em 1,8 vezes, mantendo o rácio dos restantes profissionais. Adicionalmente, o grupo estabeleceu o objetivo de planear um modelo de vacinação em massa adaptado ao território e população da Lombardia, que servisse não só a conversão do Hospital da Feira de Milão, mas também outros potenciais centros de vacinação. O grupo de trabalho, com profissionais de diversas áreas (arquitetura, engenharia, medicina e gestão), representava as seguintes entidades: AREU (Agência de Emergência Regional, equivalente ao INEM), ARIA (Agência Regional Operativa da região, onde são feitas as compras, os contratos, entre outros), Fondazione IRCCS Ca’Granda (Policlínico de Milão), Fondazione Fiera Milano(entidade responsável pelo espaço da feira), Politecnico di Milano (Departamento de Engenharia de Gestão e Departamento de Arquitetura, Ambiente construído e Engenharia civil) e EY Consulting. A metodologia utilizada para definir o modelo otimizado para os centros de vacinação massiva pode ser visualizada na Figura 2. Figura 2 Metodologia utilizada para definir um modelo otimizado para centros de vacinação em massa. Os exemplos são referentes ao Hospital da Feira de Milão. Legenda: Rosa – tarefas conjuntas; Azul – tarefas dos arquitetos; Laranja – tarefas dos engenheiros de gestão industrial. Fonte: Região Lombardia, Realizzazione polo vaccinale massivo, janeiro de 2021.
De forma a apoiar a implementação dos modelos por parte dos gestores, foi desenvolvida uma ferramenta em Excel, que permitia prever os equipamentos, espaços, custos e número de operadores conforme o número de unidades vacinais pretendidas e o número de vacinas por dia, e uma checklist para validação dos centros vacinais, que resumia os vários critérios referentes ao layout(requisitos estruturais gerais e específicos). Portugal conta com referências nacionais para os centros de vacinação contra a COVID-19 (CVC)(4). A coordenação dos mesmos ficou entregue às entidades locais (Agrupamentos de Centros de Saúde e Unidades Locais de Saúde) com uma maior ou menor participação das Unidades de Saúde Pública. A Orientação nº 003/2021, da Direção Geral da Saúde foi construída com base em normativas anteriores para aspetos como os equipamentos de proteção individual, o tipo de ventilação, a rede de frio, limitação de pessoas e os materiais para reações anafiláticas. Não foram estabelecidas metas, nem cenários, que permitissem realizar a adaptação dos centros vacinais à realidade epidémica ou geodemográfica local, como é, no entanto, referido no primeiro ponto da orientação. Não foi realizado um projeto piloto, onde fossem mapeados os processos e respetivas características, pelo que provavelmente não foi feita uma abordagem de otimização dos mesmos. A limitação de indivíduos nos espaços (a 25 pessoas na sala de espera pré-vacinação) não tem em conta o número de módulos, o número de vacinas por dia ou as dimensões do espaço. A orientação deixa à responsabilidade local a escolha de realizar a vacinação nos centros de saúde ou em espaços adaptados para vacinação massiva, sem fazer referência à eficiência de cada uma das opções. Por estes motivos, a aplicação da metodologia lombarda em Portugal poderia ter vários benefícios, entre os quais a resiliência e a otimização do processo de vacinação contra a COVID-19. Autora: Regina Sá, Médica, Interna de Saúde Pública, ACES Baixo Vouga, ARSC Agradecimentos: Arq Andrea Brambilla e Arqª Silvia Mangili (POLIMI), Drª Ana Vieira e Dr Rui Leitão (ACES BV) Referências 1. COVID-19 situation update worldwide, as of week 16, updated 29 April 2021 [Internet]. European Centre for Disease Prevention and Control. [citado 3 de Maio de 2021]. Disponível em: https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases 2. Ministero della Salute. Covid-19 - Situazione in Italia [Internet]. [citado 3 de Maio de 2021]. Disponível em: http://www.salute.gov.it/portale/nuovocoronavirus/dettaglioContenutiNuovoCoronavirus.jsp?lingua=italiano&id=5351&area=nuovoCoronavirus&menu=vuoto&gclid=Cj0KCQjwvr6EBhDOARIsAPpqUPGuf7JoLT1IYBOqxRmVD2kFxIMyGWkkEn4-m8c4eK4l8gaLsBTxW9saAqPaEALw_wcB 3. CSCovid19 AT PianoVaccini [Internet]. www.governo.it. 2021 [citado 3 de Maio de 2021]. Disponível em: https://www.governo.it/it/dipartimenti/cscovid19-pianovaccini/16417 4. Direção Geral da Saúde. Orientação no 003/2021: Centros de Vacinação COVID-19. 2021.
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