25/10/2017 2 Comentários A Saúde Pública e os incêndiosAs notícias sucedem-se nos meios de comunicação e nas redes sociais de modo alucinante. Temperaturas altas, incêndios em todo o país, mortes, meios de socorro, pedidos de ajuda. É difícil continuar passivamente a observar, a tentar compreender o porquê de tanta desgraça que assolou o nosso País antes e depois do período de oficial de verão. Será a responsabilidade das alterações climáticas? Da organização dos serviços públicos? Dos cidadãos? Será por ventura o acaso? Estes pensamentos que se entrecruzam provocam-nos desespero, horror, por vezes raiva perante a impotência. Pensei escrever a minha opinião, assim a quente. Optei por esperar, pois a mensagem que quero passar é positiva. Como vamos melhorar, sem apontar dedos a nada nem ninguém, mas procurando um caminho melhor para todos nós. O que podem os Serviços de Saúde Pública fazer perante a calamidade dos fogos florestais, para melhor apoiar as populações da sua área de intervenção? A área da prevenção e da educação para a saúde com aumento da literacia da comunidade é um dos pontos de partida na saúde pública, alicerçada por uma avaliação do risco e um diagnóstico correto da situação de cada concelho ou região, onde o perfil traçado nos permita reconhecer quais as necessidades prioritárias na saúde, de modo a implementar estratégias que conduzam a ganhos em saúde. A actuação no dia-a-dia e particularmente em situações de crise, deve ter como base um estudo e o desenvolvimento de planos anteriores. Como Autoridades de Saúde temos assento na Protecção Civil Municipal e a disponibilidade permanente permite-nos acorrer em qualquer momento, disponibilizando os serviços necessários, consagrados na legislação. Riscos, quais são os que se apresentam devido aos incêndios florestais? Desde logo, o impacto ambiental das alterações climatéricas e do aumento de temperatura na saúde das populações, agravado pela poluição ambiental, dos solos e aquíferos e águas superficiais decorrente dos incêndios. As repercussões na saúde são várias desde o agravamento das doenças crónicas, principalmente respiratórias, pela perda de bens e pelo stress e luto eventual que possa decorrer, pela desorganização ou eventual destruição dos serviços e organizações que dificulta a avaliação dos doentes, a perda de informação e a deficiente comunicação, a necessidade de instalação de serviços temporários. Foram lançados alertas e pedidos de reforço de recursos na rede de cuidados de Saúde Pública? Como nos organizamos para situações semelhantes? Ainda hoje tive conhecimento de colegas que andam de lugar, em lugar junto das populações atingidas, a inquirir necessidades e ajudar com apoio em cuidados de saúde ou bens essenciais. Outros houve que voluntariamente reúnem esforços, procurando indagar o que falta a esses nossos irmãos e como podem ajudar. Recebem em troca a informação que necessitam de artigos de higiene e limpeza, alimentos para bebés ou fruta… É urgente, por exemplo, a criação de planos e modelos de acção na área da dietética e nutrição e do modo de fazer chegar às populações esses bens essenciais. A organização desses planos passa pela implementação de equipas móveis pluridisciplinares nos serviços de SP, para apoio em situações de catástrofes, sejam elas incêndios florestais, cheias, sismos, eventos de massas, epidemias ou deslocados. Equipas prontas a actuar e onde a gestão de recursos, serviços de saúde, informação e comunicação com todas as entidades esteja facilitada e disponha de registos fiáveis. Mas como sempre, para isso é necessário trabalhar antecipadamente, prevenir, estar alerta, agir quando necessário. Partilhar conhecimento e informação. Principalmente estar organizado e pronto para dar corpo e voz ao conceito que é a disponibilidade permanente. Estar organizado e pronto para a gestão, organização, acção e avaliação dos serviços de saúde, funcionando em equipa, em rede e como se de um só se tratasse. É hora de aprender com o passado e o presente recente, se queremos uma Saúde Pública com Futuro. Filomena Horta Correia
Assistente Graduada Sénior de Saúde Pública Mestre em Medicina de Catástrofe
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