22/10/2021 0 Comentários A participação jovem como valiosa aliada na prevenção de obesidade infantil e na criação de populações mais saudáveisA obesidade infantil persiste como um dos desafios de saúde pública mais relevantes da atualidade e as perspetivas não são as mais animadoras: em 2025, estima-se que uma em cada cinco crianças na Europa apresente excesso de peso (1). Esta condição tende a perpetuar-se na adolescência e na idade adulta, aumentando igualmente o risco de apresentação de doenças crónicas não transmissíveis numa fase mais precoce da vida (2). Deste modo, a sua prevenção é imperativa e diversas intervenções têm vindo a ser implementadas para fazer face a este problema. Intervenções focadas unicamente na educação e ao nível do indivíduo não são suficientes nem eficazes no combate à obesidade. Hoje temos consciência que este problema não é reversível sem intervenções intersectoriais que permitam a capacitação e o empoderamento dos cidadãos em conjunto com a modificação de ambientes, de modo a promover e facilitar a escolha de opções alimentares saudáveis, bem como a existência de mais oportunidades de atividade física. Estão descritas na literatura estratégias bem-sucedidas que visam a melhoria dos hábitos alimentares através da modificação do ambiente e da oferta alimentar, limitando a exposição a fatores de risco alimentares, tais como impostos sobre determinados produtos alimentares com baixa qualidade nutricional, reformulação nutricional, utilização de modelos de rotulagem “consumer-friendly”, regulação do marketing e publicidade destinado a grupos-alvo específicos como, por exemplo, a crianças (3). Apesar dos esforços e progressos na inclusão de diversos sectores no processo político e na elaboração de estratégias promotoras de saúde, a participação da sociedade civil apresenta ainda uma expressão reduzida neste processo. Mais concretamente em relação à obesidade infantil e na adolescência, se ambicionamos ser bem-sucedidos no seu combate, é necessário incluir as perspetivas das faixas etárias mais jovens para a construção de políticas que efetivamente respondam às suas reais necessidades. Neste sentido, a decorrer desde 2018, o projeto CO-CREATE “Confronting obesity: Co-creating policies with adolescents”, financiado pelo Programa Horizonte 2020 da União Europeia, tem como missão desenvolver propostas políticas que promovam ambientes mais saudáveis ao nível da alimentação e atividade física e, consequentemente, prevenir a obesidade infantil, com adolescentes. Um aspeto chave e inovador do projeto CO-CREATE prende-se em assegurar que as decisões que afetam os jovens são desenvolvidas em conjunto com os mesmos. Como agentes ativos da sociedade e próxima geração de decisores políticos, adultos e pais, os jovens devem estar envolvidos no desenvolvimento de políticas e na tomada de decisão, tanto no presente como no futuro. Durante os últimos três anos, jovens de cinco países Europeus (Portugal, Holanda, Polónia, Noruega e Inglaterra) foram desafiados a refletir sobre os principais fatores que contribuem para a obesidade infantil, identificando uma variedade de aspetos que afetam a sua saúde e bem-estar. Os jovens foram capacitados para abordar a obesidade como um problema a nível sistémico e estrutural e, curiosamente, nos cinco países participantes, foram identificados fatores bastante semelhantes. Entre eles, destacam-se o fácil acesso a alimentos e bebidas não saudáveis devido ao seu custo reduzido, o stress, ansiedade, depressão e a pressão com a imagem corporal, frequentemente relacionados com a utilização das redes sociais (4). Fonte: Savona N, Macauley T, Aguiar A, Banik A, Boberska M, Brock J, et al. Identifying the views of adolescents in five European countries on the drivers of obesity using group model building. European Journal of Public Health. 2021. 31(2), 391-396. A partir dos fatores identificados, os jovens desenvolveram diversas propostas políticas que têm vindo a ser discutidas com stakeholders relevantes na área da educação, indústria, governo, nutrição, desporto, investigação, política, educação, municípios, entre outros, explorando possíveis soluções para a prevenção da obesidade infantil.
Para além da abordagem compreensiva da obesidade como um problema a nível sistémico e de ação integrada com diversos setores, incluir as experiências e perspetivas dos jovens no processo político deve ser parte da solução. O reconhecimento desta necessidade por parte dos profissionais de saúde é um passo de extrema importância. Médicos de saúde pública com forte presença nos Cuidados de Saúde Primários têm um papel privilegiado pela proximidade à comunidade e conhecimento da realidade da mesma, devendo utilizar esta vantagem para o desenvolvimento de estratégias e ações de empoderamento e capacitação da população para a adoção de estilos de vida saudáveis. São também cruciais para o desenvolvimento de políticas que tenham como objetivo a modificação de ambientes obesogénicos. Adicionalmente, uma maior articulação e sinergia entre médicos de saúde pública, nutricionistas e outros profissionais de saúde, constituindo equipas multidisciplinares, poderiam desenvolver ações (idealmente realizadas a longo prazo e não apenas como um evento isolado) que, em conjunto com ambientes propícios e favoráveis a estilos de vida saudáveis, teriam uma maior probabilidade de sucesso não só na prevenção da obesidade infantil, mas também na melhoria da saúde e bem-estar em geral. Autora: Sofia Mendes:
Nuno Do Amparo Bibliografia
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