2/10/2018 0 Comentários Miguel Cabral @ Instituto de Saúde Pública da Escola Médica da Universidade Católica do Sagrado Coração, Roma, ItáliaNome
Miguel Cabral Instituição, Cidade e País Instituto de Saúde Pública da Escola Médica da Universidade Católica do Sagrado Coração, Roma, Itália. Como foi o processo de candidatura? O processo informal foi muito simples. Um colega interno de Saúde Pública de Malta esteve em Lisboa para uma reunião de trabalho e, entre um café e um pastel de Belém, disse-lhe que estava a pensar fazer o meu estágio opcional de internato em Roma. Ele garantiu-me que conhecia a pessoa perfeita para me orientar nesse estágio e, no dia seguinte, tinha na minha caixa de email uma proposta genérica de temas que poderiam ser abordados no mesmo, por parte do seu coordenador. Como a minha mulher disse, eram muitas palavras que eu gostava juntas, pelo que formalizei a minha candidatura. A parte seguinte do processo demorou um pouco mais e implicou o envio de cartas de autorização por parte do meu orientador e do meu Coordenador de Internato, uma extensão territorial dos meu seguros profissionais e um pagamento de 300€ pelo estágio. Quais foram as tuas funções? De uma forma geral, podem resumir-se a contribuir para alguns dos trabalhos que já estavam em desenvolvimento no Instituto. Inicialmente o meu estágio iria abordar 2 temas: Health Technology Assessment (HTA) e liderança em Medicina [o Instituto é um centro colaborativo da Organização Mundial de Saúde (OMS) neste tema]. Acabei por abordar também o tema dos cuidados de saúde baseados em valor, uma vez que o instituto estava também associado a uma Spin-off da Universidade que trabalhava nesta área. No que se refere à HTA, ajudei o meu orientador na compilação de informação sobre HTA no âmbito da diálise peritoneal, para uma apresentação num congresso. No que toca o tema da liderança em Medicina, colaborei no desenvolvimento de um artigo científico nesta área e na preparação de um evento europeu neste tema. Já sobre os cuidados baseados em valor, colaborei na elaboração de 2 documentos com base em eventos ocorridos sobre o tema. Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as maiores aprendizagens? Foi muitíssimo enriquecedora. Mesmo tendo em conta a formação adicional que tenho em administração hospitalar, pude adquirir e aprofundar conhecimentos em todas as áreas que abordei. Pela novidade em relação ao que é tipicamente discutido em Portugal, destaco (i) o modelo para HTA realizado pela EUnetHTA e (ii) a perspectiva de Sir Muir Gray de valor triplo num contexto de Serviço Nacional de Saúde, que expande os conceitos de Porter, tipicamente o único autor mencionado nesta área em Portugal. Para além destes conhecimentos mais específicos, a possibilidade de frequentar algumas aulas de uma pós-graduação em liderança foi também uma oportunidade incrível. Destaco ainda a possibilidade de perceber melhor o funcionamento do serviço nacional de saúde e do internato de saúde pública italianos. Mesmo a nível profissional, não posso deixar de destacar as relações que estabeleci durante o estágio, quer a nível de colegas, quer a nível de profissionais mais seniores, italianos e de outras nacionalidades. Por exemplo, tive a oportunidade de conhecer o Sir Muir Gray e o Dr. Jani Anant, autores de destaque na área do valor em saúde. Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas? Apesar do estágio ser relativamente curto, tive a oportunidade de conhecer e colaborar com vários colegas internos e recém-especialistas, pois o instituto era um centro formativo para vários internos, em diferentes pontos do seu internato. Fui muitíssimo bem acolhido e estou certo de que estas relações continuarão no futuro, certamente também com benefícios profissionais, dada a elevada qualidade técnica destes colegas e as relações interpessoais que desenvolvemos. O que achaste da cidade? Achei que precisava de um estágio maior para a descobrir devidamente. Tive a sorte de realizar o estágio em Roma na mesma altura em que a minha mulher também lá estava a realizar um estágio do seu internato. Tentámos aproveitar para visitar não só Roma, mas também outras cidades em Itália. E se em Roma parece que há cultura e história em cada esquina, também em qualquer cidadezinha/vila se podem encontrar monumentos de interesse. Não vale a pena falar na comida, resumo dizendo que é óptima. Os únicos pontos negativos foram o trânsito e a escassez de transportes públicos viáveis. Vivi no sul de Roma, bastante afastado do Instituto em que trabalhei, em que uma viagem de 20 minutos sem trânsito, chegava a 1h40 com trânsito. O que mais te marcou nesta experiência? A nível profissional, foi muito marcante comprovar como uma experiência pode ser tão enriquecedora em tão pouco tempo. A possibilidade de trabalhar e viver com a minha mulher no estrangeiro foi também muito positiva a nível pessoal. E numa mistura entre o profissional e o pessoal marcou-me também o conjunto de novos contactos que pude estabelecer junto dos colegas e especialistas no instituto. Por outro lado, acho que também não me vou esquecer tão cedo de ter dado boleia a um antigo engenheiro da Ferrari. Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? No meu caso, tive a sorte de encontrar esta oportunidade única através de uma conversa informal com um colega. Apesar de considerar que esta é uma ótima via para descobrir oportunidades, existem outras vias para explorar possibilidades semelhantes, de forma estruturada. Em primeiro lugar, destaco a Rede Europeia de Médicos Internos de Saúde Pública (EuroNet MRPH), que tem um programa de estágios internacionais. Para além desta via, aconselho também o uso da base dos Centros Colaborativos da OMS, que permite procurar por instituições com base na localização ou nos temas que abordam. Através desta última, é necessário estabelecer um estágio por nossa “conta e risco”, por assim dizer, mas penso que, na maioria dos casos, haverá muito interesse em acolher profissionais motivados e qualificados como os internos de saúde pública portugueses. O conselho mais importante que posso dar é mesmo não deixar de ter uma experiência deste tipo. Temos a sorte de ter um programa de internato que nos permite fazer um estágio no estrangeiro e considero que não devemos desperdiçar esta oportunidade. O percurso de internato sairá valorizado e a experiência pessoal tenderá a ser positiva.
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