13/10/2019 0 Comentários Tammy messias @ Departamento de Saúde Pública da Universidade Médica de Jichi - JapãoLegenda
Em cima: à esquerda, fachada principal do Hospital Universitário de Jichi; à direita, eu e o Dr.º Masato Sasaki, médico e coordenador da Clínica Pública Chikusei de Baixa Complexidade; Em baixo: à esquerda, jantar de despedida do estágio opcional, eu sentada ao centro da foto, o Prof.º Dr.º Yosikazu Nakamura a minha esquerda e o staff médico e de assistentes operacionais do Departamento de Saúde Pública; à direita, Centro de Pesquisa e Ensino da Universidade. Nome Tammy Fumiko Messias Takara Instituição/Conferência/Encontro, Cidade e País Departamento de Saúde Pública da Universidade Médica de Jichi Cidade de Shimotsuke, Japão Estágio Opcional (3 meses) Porquê o Japão? Sou brasileira com ascendência japonesa, realizei a minha graduação médica no Brasil e actualmente estou no 3º ano do Internato Médico de especialização em Saúde Pública, na Unidade de Saúde Pública do ACES de Gondomar. Sempre tive interesse em Medicina das Catástrofes e Preparedness na Saúde Pública, e sendo o Japão localizado no Anel de Fogo do Pacífico, no qual há alta actividade vulcânica e grande número de ocorrência de sismos, acreditava ser um país bastante preparado para estes eventos, inclusive nos cuidados médicos. Tinha muito interesse também, de estar em contacto com um Sistema de Saúde diferente dos que eu conhecia (português e brasileiro). Além disso, possuo um conhecimento intermediário da língua japonesa e ligações afectivas e culturais com o país. Por estas razões, tinha muito interesse em estagiar no Japão. Como foi o processo de candidatura? Eu fiz o CESP (Curso de Especialização em Saúde Pública) no ISPUP (Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto), e conversei com o Prof.º Dr. º Henrique de Barros sobre os meus interesses profissionais e pessoais. Ele aconselhou-me e recomendou-me a um colega, o Prof.º Dr. º Yosikazu Nakamura, que é chefe do Departamento de Saúde Pública da Universidade Médica de Jichi e pertence ao Comité Executivo da Associação Internacional de Epidemiologia. Ao Professor Nakamura enviei uma carta com os meus objetivos e motivações, juntamente com o meu currículo. Em poucas semanas, recebi a resposta de aceitação e preenchi alguns documentos para serem enviados à Universidade, referentes a formalização do estágio e ao pedido de alojamento. Estes foram os únicos documentos que respondi em Japonês. Depois, tratei das autorizações do internato e do meu serviço, sempre utilizando uma carta explicativa dos meus objetivos e motivações para realizar o estágio opcional no Japão. Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as maiores aprendizagens? Com certeza foi uma experiência muito enriquecedora em todos os aspectos. No âmbito profissional, foi possível conhecer de perto o funcionamento do sistema de saúde japonês, que é bastante diferente do português e do brasileiro. Acompanhei os trabalhos médicos e de enfermagem nos serviços do Hospital Universitário de Jichi, na Clínica Pública Chikusei de baixa complexidade e no Centro de Saúde Pública em Kanuma. Além disso, fiquei a conhecer o trabalho dos DMATs (Disaster Medical Assistance Team), que são equipas médicas voluntárias presentes em diversos locais do Japão, treinadas pelo governo para dar assistência médica em casos de desastres. E como estava numa universidade, acompanhei o curso de epidemiologia dos alunos de medicina do 3º ano da graduação, no qual participei no trabalho de conclusão dos alunos. Como a medicina das catástrofes e o preparedness na saúde pública são temas que me interessam, aproveitei também, para conhecer os centros de prevenção de desastres que existem em muitas cidades japonesas. Portanto, estive em dois centros na cidade de Tokyo e um em Kyoto. Nestes centros, aprendemos a proteger-nos de incêndios, terramotos, tufões e tsunamis, sendo aberto a qualquer pessoa que tenha interesse. Além disso, estive atenta a todas intervenções públicas relativas ao tema e, portanto, utilizei as aplicações disponíveis, li e guardei diversos folhetos e cadernetas relacionados com o tema e estive atenta à sinalética de alerta de evacuação nas ruas e diferentes cidades, até para minha própria proteção! Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde decorreu o evento? Sim. Na Universidade, conheci professores de outras áreas, como a Sociologia, Filosofia e Inglês Médico, e os fellows no departamento de Saúde Pública da Universidade de Jichi e da Universidade de Tokiwa. Há bastante abertura para realizar parcerias e boa parte deles ajudaram-me imenso a entender o sistema de saúde e, como muitos deles eram pesquisadores nos temas que me interessavam, pude ler os seus trabalhos e conversar diretamente com eles, e isso foi e está a ser incrível. A cidade onde estive, Shimotsuke, tem pouco menos que 60 mil habitantes e concentra-se em torno da Universidade. Então, conheci bem a cidade e seus arredores. O que achaste da cidade? Shimotsuke é pequena, tem uma parte rural e de indústria e praticamente tudo gira em torno do Hospital e da Universidade. Não há muitas atrações turísticas, mas é muito bem servida de transportes públicos, o que me possibilitou conhecer as cidades ao redor. Gostei muito de poder vivenciar um Japão, o qual como turista não teria a oportunidade de conhecer. Então, tive que aprender a lidar com a complexa separação do lixo, terramotos, o silêncio e a escuridão das ruas durante a noite e comer muito sashimi. Pode parecer estranho, mas eu adorei! O que mais te marcou nesta experiência? O mais marcante no âmbito profissional, foi constatar que o Japão não é tão high tech como eu imaginava. Eles ainda utilizam bastante o papel, não há integração electrónica das informações dos doentes no sistema de saúde dentro e entre as diferentes regiões do país, não há um sistema electrónico para vigilância epidemiológica, as receitas são em papel e existe muita burocracia. Tudo necessita de autorizações e assinaturas. E para o meu espanto, eles ainda usam muito o fax! Mas, por outro lado a relação com o trabalho é bastante diferente da nossa. O chefe é uma das pessoas mais importantes na vida de um japonês, participando até nos discursos de casamento, e o trabalho é algo essencial, ser um bom trabalhador é uma virtude e não gostar de trabalhar ou dizer que está com preguiça é algo bastante mal visto. Portanto, a eficiência dos japoneses é invejável. Acho que com esta experiência pude perceber duas coisas: não é preciso existirem sistemas avançados (high tech) para se fazer um bom trabalho, é claro que ajudam e facilitam a nossa vida, mas às vezes reclamamos muito de "barriga cheia" e, a ter paciência para as mudanças que quero ver na Saúde Pública portuguesa, porque às vezes gostava que tudo mudasse para ontem, mas temos que respeitar a evolução do pensamento e da cultura local e aprender a desconstruir aquilo que não é tão bom com paciência e respeito. Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? Meu conselho é, primeiro saber quais são os seus objetivos profissionais e pessoais e, se possível, tentar conciliá-los ao máximo. Além disso, preparar-se com bastante antecedência, penso até que um ano antes, pois há algumas autorizações a serem pedidas, vistos e cuidados com a viagem que podem levar bastante tempo para serem resolvidos. Por fim, saber a língua japonesa ajuda imenso e consegues aproveitar muito melhor o estágio, porém não acho que seja essencial. Eles entendem muito bem a língua inglesa, mas tem muita vergonha em falar errado, no entanto são muito esforçados e querem mostrar sempre o melhor do Japão. Portanto, se é um sonho ou se é algo essencial para ti no âmbito profissional, não saber falar o japonês, definitivamente, não é um motivo para desistir! Caso necessitem de mais informações, podem contactar-me por e-mail ([email protected]), tenho imenso prazer em compartilhar esta experiência com quem tiver interesse.
0 Comentários
|
Histórico
Janeiro 2024
CategoriasTudo Constança Carvalho Diogo Martins Gisela Leiras Guilherme Duarte João Mota João Pedro Vieira Maria Moitinho De Almeida Marta Lemos Miguel Marques Paulo Luís |
Contactos
Email
[email protected] |
Twitter
twitter.com/saudemaispubli1 |
Instagram
instagram.com/saudemaispublica |