4/7/2023 0 Comentários Guilherme Queiroz @ Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Manaus, Brasil - 2023Nome Guilherme Queiroz Experiência/Estágio Estágio Opcional na Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Manaus, Brasil Como soubeste da existência desta oportunidade?
Já há algum tempo que queria trabalhar em doenças transmitidas por mosquitos, e de ter contacto com a Saúde Pública brasileira. Acionei a minha rede de contactos e fui aconselhado a falar com o Dr. Marcus Vinicius de Lacerda, infecciologista da Fundação de Medicina Tropical (FMT) de Manaus, que acabou por ser o meu responsável de estágio. Já na FMT acabei por ser direcionado para a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS), onde passei a maioria do tempo. Como foi o processo de candidatura? Havia oportunidade de financiamento? Entrei em contacto direto com o Dr. Marcus Vinicius, que me passou aos serviços académicos da FMT. O exigido, além do cartão da Ordem dos Médicos, era a vacinação para a febre amarela e um seguro de viagem. Consegui financiamento do Fundo de Formação do Sindicato Independente dos Médicos. Em que consiste o projeto? Que atividades inclui? Quais são as tuas funções? Durante os 3 meses de estágio acompanhei as atividades da FVS nos seus diversos departamentos. O grande foco da minha atividade foi a Divisão de Vigilância Ambiental, onde estavam as equipas de malária e arboviroses. Com elas pude acompanhar os processos de vigilância e monitorização dos dados epidemiológicos do Estado e algumas atividades de planeamento. Tive também oportunidade de viajar com a FVS para Humaitá, no Sul do estado, para participar, durante uma semana, numa intervenção num surto de Dengue e Oropouche, que incluiu formação de equipas técnicas e clínicas e ações de controlo vetorial no terreno. Pude ainda viajar até São Gabriel da Cachoeira, no Noroeste do Estado, 900 km acima de Manaus, subindo o Rio Negro. Aí trabalhei durante duas semanas com o apoiador municipal de malária e com o Distrito Sanitário Indígena do Alto Rio Negro, trabalhando diretamente nas atividades de terreno de assistência à saúde indígena na região periurbana do Parawarí, em comunidades maioritariamente da etnia Hupda. Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as maiores aprendizagens? Este estágio foi uma experiência profundamente enriquecedora do ponto de vista profissional. Durante este período, tive um contacto contínuo e direto com profissionais altamente experientes e com a realidade epidemiológica das doenças transmitidas por vetores, incluíndo, para além de malária e arboviroses, doença de Chagas, leishmaniose e filariose. Compreendi vários aspetos do combate a estas doenças e aprendi estratégias específicas relacionadas com o contexto rural / urbano e com territórios como o gairmpo, a terra indígena e os assentamentos. Aprofundei ainda conhecimentos sobre a malária causada pelo Plasmodium vivax, que necessita de estratégias diferentes do falciparum. E por fim, compreendi um pouco do enorme contexto amazónico e dos desafios que impõe à Saúde Planetária. Conheci, com um pouco mais de detalhe, questões como as do desmatamento, grilagem, garimpo (mineração), tráfico humano e o ainda mantido genocídio dos povos indígenas. Consegui ainda perceber o impacto das alterações climáticas e políticas globais num ecossistema tão complexo. Tens tido oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde decorreu o evento? O que achaste do país/cidade/local/organização? A FMT e em particular a FVS apresentaram-se como exemplares na sua ação, dinamismo e abertura a ideias novas. Fui muito bem recebido por todas as equipas por onde passei. Apesar de o Amazonas ser um estado de enorme dimensão, o sentimento de preocupação com a descentralização e com a totalidade e diversidade do território amazonense vivido na FVS foi inspirador para um português, como eu, que frequentemente critica o centralismo de Lisboa. Além disso, a confiança que depositaram em mim, ao enviarem-me em missão um pouco mais de um mês depois de estar lá, demonstra que, de facto, têm abertura e capacidade para providenciar experiências formativas deste nível. O que mais te marcou nesta experiência? Sem dúvida o contacto com a saúde indígena e com etnias de recente contacto, como os Pirahã, os Hupda e os Yanomami. O modo de vida que levam, a diferente relação social e com a natureza e os desafios que enfrentam, na sua adaptação à civilização e à inerente devastação imposta pelo (neo)colonizador, foram inesquecíveis e levam-me a querer continuar a trabalhar nestas áreas. Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? Aconselharia a conhecerem bem a realidade do local para onde vão. Estudar bem a saúde brasileira, a Secretária da Saúde Indígena (SESAI) e as questões indígenas e relacionadas com a floresta é essencial, não só para não fazer “má figura”, como para aproveitar ao máximo o potencial desta oportunidade. Além disso, deixo sempre o conselho de não recusarem nada. Nestes contextos, as oportunidades surgem sempre… e só dá mesmo para descansar quando voltamos. Sites relevantes:
0 Comentários
|
Histórico
Janeiro 2024
CategoriasTudo Constança Carvalho Diogo Martins Gisela Leiras Guilherme Duarte João Mota João Pedro Vieira Maria Moitinho De Almeida Marta Lemos Miguel Marques Paulo Luís |
Contactos
Email
[email protected] |
Twitter
twitter.com/saudemaispubli1 |
Instagram
instagram.com/saudemaispublica |