Nome Inês Morais Vilaça Conferência/cidade/país Participação e Comunicação Oral no 17º Congresso Mundial de Saúde Pública (17th World Congress on Public Health) - Roma (Itália), 2023 Como tomaste conhecimento do congresso? Tomei conhecimento do congresso através de conversas com colegas durante o CESP. Posteriormente, também vi divulgações do evento nas redes sociais da Saúde+Pública e da ANMSP. O que te motivou a participares? Foram vários os motivos que me levaram a participar: em primeiro lugar, a vontade de trocar experiências com outros profissionais e conhecer a realidade da saúde pública de outros países; em segundo lugar, a vontade de ouvir conversas e discussões entre grandes investigadores e líderes envolvidos na política internacional. Tinha a certeza de que algumas das questões com as quais já me debatia, entre elas as razões pelas quais ser tão difícil encontrar soluções para os problemas da saúde pública, já teriam sido objeto de reflexão e discussão por estes especialistas, pelo que queria presenciar esta conversa para que, no futuro, possa talvez participar na resolução desses problemas. Outro dos motivos que me levou a participar foram os temas que seriam discutidos no congresso. Entre os vários temas, interessavam-me particularmente três: Saúde Planetária, Iniquidades e Inteligência Artificial. Fui particularmente atraída pelo tema da Saúde Planetária, que é, de facto, a minha maior área de interesse dentro da Saúde Publica. As alterações climáticas e os seus impactos na saúde e nos ecossistemas são um tema pelo qual me interesso há muito tempo, ainda antes de ter ingressado em qualquer curso superior. Portanto, tinha certeza de que não poderia faltar a uma discussão mundial sobre o assunto. No entanto, o fator decisivo para eu tomar a decisão de ir foi a vontade de apresentar o meu trabalho de investigação neste congresso. Quais foram os temas abordados e workshops/atividades destacados no congresso? Ao longo dos quatro dias de congresso, ocorreram várias sessões paralelas. Portanto, foi necessário tomar decisões sobre quais sessões e workshops participar. Além dos três temas referidos acima foram também abordados outros temas, nomeadamente: os desafios e lições aprendidas após a pandemia COVID-19, saúde mental, doenças preveníveis por vacinação, melhoria da capacidade de trabalho e habilidades de governação em saúde pública, além de conflitos e catástrofes em saúde pública. Naturalmente, preferi participar de workshops sobre os temas que me interessavam, mas também tive a oportunidade de assistir a uma sessão plenária sobre cada um dos temas do congresso. Paralelamente, ocorreram também comunicações orais e apresentações de pósteres que, em comparação com as sessões plenárias, eram uma forma melhor de participar na discussão científica e partilhar ideias relativamente a questões de investigação pertinentes, uma vez que eram mais focadas. Entre as sessões a que assisti, destaco a primeira sessão plenária, com o tema “No Public Health Without Planetary Health”, palestrada por Samuel Myers, Maria Neira e Txai Suruí. Os três foram excelentes palestrantes, mas foi, sem dúvida, uma sessão marcada pela capacidade oratória de Samuel Myers e sua habilidade em fazer advocacia pela ação. Nesta sessão, falou-se sobre as consequências das alterações climáticas em saúde, com particular enfoque na insegurança alimentar, na saúde mental e no risco de migrações forçadas (displacement). Foi ressaltado o modo como todos esses fenómenos são agravados por diversos outros fatores sociais, demográficos e económicos. Os workshops eram, em geral, mais práticos do que as sessões plenárias e proporcionavam mais oportunidades de participar nos debates. Gostaria de destacar três workshops em que participei e que considerei especialmente relevantes: 1) “Conflicts of interest (CoI) and undue corporate influence in public health: from the international context to local interventions”. Neste workshop, foram debatidos os vieses de fazer investigação e intervenção com apoio da indústria. Foram expostas algumas estratégias politicas adotadas pelas empresas para impor a utilização do seu produto e discutiu-se como devem ser interpretados os resultados de estudos financiados pelas mesmas. A discussão foi mais focada na influência da industria alimentar, mas também foram apresentados exemplos relacionados com as indústrias do álcool e do tabaco. 2) “Could humanity build a new planetary governance system able to tackle pandemics and other existential threats? A thoughtexperiment.” Após uma breve apresentação sobre os erros cometidos e os desafios impostos pela última pandemia, bem como sobre as principais ameaças à saúde pública atual, formaram-se pequenos grupos de discussão entre os participantes. Foi solicitado que elaborássemos um conjunto de medidas que, implementadas num mundo ideal, ajudassem a lidar com futuras ameaças e promovessem a coesão social e a adesão da população às medidas de saúde pública. De seguida, as ideias foram partilhadas por um porta-voz de cada grupo, tendo surgido vários aspectos que destaco como reflexão da discussão. Em primeiro lugar, a necessidade de um trabalho conjunto com outras áreas de conhecimento, promovendo uma melhor cooperação entre os profissionais de saúde e outros profissionais. Também foi realçada a importância de uma comunicação mais efetiva, tanto entre as instituições, quanto para a população em geral, incluindo a necessidade de transmitir mensagens claras, mas também de saber comunicar a incerteza quando esta existe, bem como o impacto de notícias falsas. Por fim, discutiu-se a necessidade de trabalhar com mais projeções e dados no futuro, em vez de adotar uma perspectiva retrospectiva, como é frequentemente feito em investigação. 3) “Is the high-income/ low-middle income country classification still relevant in today’s healthequity dialogue?” Esteve em debate o sistema de classificação criado pelo Banco Mundial, que divide os países em três categorias com base no seu PIB: baixo, médio e alto rendimento. Discutiu-se se esta seria uma classificação justa num mundo em que existe tanta mobilidade da população e em que o PIB de um país pode não refletir o acesso à saúde da população geral, ou de comunidades mais vulneráveis que façam parte dessa população. Neste contexto, foi discutido o impacto da corrupção e dos pagamentos out-of-pocket nos custos da saúde e dos serviços. Foi utilizado o exemplo da variação da esperança média de vida ao longo da linha metro de Glasgow para discutir o papel das iniquidades dentro de um mesmo país que é classificado como de alto rendimento. Foram também discutidas as implicações que essa classificação pode ter para cada país. Neste contexto, foi mencionado como exemplo o financiamento disponível para intervenções em saúde em países de baixo rendimento, que muitas vezes é “cortado”, quando o país passa de baixo para médio rendimento. Por fim, foi debatido se seria importante substituir esta classificação e, em caso afirmativo, quais as melhores alternativas e medidas a ser incluídas nesta nova classificação. Falou-se na inclusão do índice de Gini e na necessidade de rever as normas de atribuição de financiamento, de modo a não eliminar os investimentos anteriores. Quanto à tua comunicação oral, em que consistiu? A minha comunicação oral apresenta alguns resultados preliminares da investigação que estou a realizar no âmbito do Internato Médico. Este trabalho é feito em colaboração com uma equipa de investigadores do ISPUP, sob orientação da Professora Ana Isabel Ribeiro. Resulta do protocolo de investigação que desenvolvi durante o Curso de Especialização em Saúde Pública (CESP) nessa mesma instituição. O tema desta investigação é “Ecoansiedade, seus determinantes e adoção de comportamentos pró-ambientais”, e apresenta dados recolhidos na coorte Geração XXI, uma coorte de crianças nascidas entre 2005 e 2006 na área metropolitana do Porto. Foi uma experiência gratificante desenvolver este trabalho, pois deu-me a oportunidade de trabalhar com uma boa equipa de investigação e aprender muito ao estar envolvida em todas as fases do processo de investigação. No ano do CESP, comecei a elaborar o protocolo logo após a introdução da disciplina correspondente, porque pretendia ter dados para análise de forma atempada para dar cumprimento ao estágio de investigação. Consciente de que as comissões de ética e a recolha de dados primários podem ser demoradas, finalizei o meu protocolo em agosto e submeti-o no mês seguinte à comissão de ética. Felizmente, em setembro, o protocolo foi aprovado. A recolha de dados na coorte começou em novembro de 2022, através de um questionário online, e só terminou em março de 2023, após alguns contactos telefónicos para aumentar a amostra. Esses prazos permitiram que, em dezembro de 2022, quando terminavam as submissões para o congresso mundial, eu já tivesse dados preliminares da subamostra recolhida até então, o que me permitiu elaborar um resumo com alguns resultados. Agora, em maio, a recolha de dados já estava concluída, e os dados apresentados durante o congresso foram quase os resultados finais desta investigação, que espero que sejam aceites para publicação no futuro. Este é um tema que surge da necessidade de estudar as consequências das alterações climáticas na saúde, algo que realmente me interessa muito e, por isso, fazer este trabalho foi gratificante. Entre as várias consequências em saúde, decidi focar-me na saúde mental, dado que é uma área que representa uma elevada carga de doença no nosso país, em especial em adolescentes. Até à data em que iniciamos o estudo, não havia nenhuma quantificação ou caraterização do fenómeno em Portugal e, a nível internacional, são necessários mais estudos para consolidar o conhecimento sobre o tema. Os resumos submetidos para o congresso foram publicados numa revista científica, podendo o mesmo, bem como a equipa de investigação completa ser consultados aqui. Por fim, senti que o meu trabalho estava muito alinhado com os temas do congresso, já que a ecoansiedade foi mencionada, por Samuel Myers, durante a primeira sessão plenária do congresso, como uma das consequências das alterações climáticas na saúde. Figura 1: Apresentação da comunicação oral “Eco-anxiety, its determinants and the adoption of pro-environmental behaviours: Findings from the Generation XXI cohort” Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as tuas maiores aprendizagens? Foi, sem dúvida, uma experiência enriquecedora. Além de todo o conhecimento que adquiri nas sessões e nas respetivas discussões, tive também a oportunidade de ser co-moderadora de uma sessão de pósteres sobre Saúde Materna, da Criança e do Adolescente, em conjunto com a Professora Alena Petrakova. Esta experiência contribuiu para a melhoria das minhas competências de comunicação e moderação de diálogo, permitiu-me conhecer em maior detalhe os trabalhos de investigação que os colegas apresentavam nos respetivos posters e fez sentir-me envolvida na discussão dos mesmos. A experiência mais enriquecedora a nível profissional foi, sem dúvida, realizar a comunicação oral. Vários foram os motivos que tornaram essa experiência a mais enriquecedora. Em primeiro lugar, destaco a discussão e as perguntas que surgiram após a apresentação, pois permitiram-me receber contribuições e insights do público sobre o significado e as implicações dos resultados apresentados, assim como sugestões para aprimorar o trabalho antes da sua publicação e apresentação do relatório final do internato. Além disso, essa oportunidade foi importante para desenvolver habilidades de comunicação numa língua não materna, bem como a capacidade de síntese, já que a apresentação não poderia ultrapassar os 6 minutos. Mas, acima de tudo, esta experiência foi fundamental para “perder o medo” das comunicações orais em congressos internacionais, que na verdade correm bem se forem bem preparadas. Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde decorreo congresso? O que achaste do país/cidade/local/organização? Sim, conheci colegas dos Estados Unidos, de Hong Kong, das Filipinas e de Myanmar, com quem mantive contato ao longo do congresso, e espero contunuar a manter. Também tive conversas esporádicas e discussões interessantes com muitas outras pessoas durante as sessões. Confesso que nunca tinha ido à Itália, por isso decidi fazer uma semana de férias após o congresso para fazer turismo, o que me deu tempo para conhecer bem a cidade. Roma é uma cidade interessante e cheia de história e mitologia por isso gostei muito de passear, de visitar os museus e de aprender todas as histórias que os quadros e esculturas aí expostas contam. No entanto, a cidade possui um grande problema, que é o lixo nas ruas e as ervas das bermas não cortadas. Além de ser visualmente desagradável, o lixo no chão acaba eventualmente ir parar ao rio e, posteriormente, ao mar, prejudicando os ecossistemas. O lixo, juntamente com as ervas altas, também representa um risco para a disseminação de vetores. Por outro lado, como a maioria das capitais europeias, a cidade possui um bom sistema de transportes públicos, o que é um ponto positivo. Quanto ao congresso em si, estava bem organizado. O que mais te marcou nesta experiência? Tudo o que já fui dizendo até agora, mas em resumo fazer a comunicação oral e criar algumas relações internacionais. Também soube muito bem ter tantos portugueses na audiência da comunicação oral para me dar apoio: é bom saber que estou a crescer numa coorte de internos de saúde publica interessados em cooperar, e não em divergir. Figura 2: Colegas Portugueses de Saúde Pública uns breves momentos antes de ter inicio a comunicação oral. Recomendarias a experiência a outros internos?
Sim, recomendo. Participar num congresso internacional é sempre uma ótima oportunidade, mas principalmente recomendo sempre que pensem em trabalhos de investigação com tempo, para, caso surja a oportunidade de ir a um congresso como este, se poder divulgar os resultados, tornando, quer a experiência do congresso, quer o trabalho de investigação, mais enriquecidos. Vale a pena realçar que, apesar de tudo, os congressos desse tipo tendem a ter um custo elevado, pelo que é importante tirar o máximo partido de cada participação. Recebeste algum tipo de financiamento? O ISPUP lançou, recentemente, uma bolsa de apoio financeiro à pesquisa realizada no âmbito do CESP, direcionada para trabalhos desenvolvidos em colaboração com a instituição. Concorri à mesma e ganhei uma destas bolsas, que me cobriu o custo de inscrição no congresso.
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Como soubeste da existência desta oportunidade?
A possibilidade de realizar Estágio Opcional neste Serviço foi divulgada aos Médicos Internos de Saúde Pública (MISP) do Alentejo pelo Coordenador de Internato Médico de Saúde Pública do Alentejo, salientando o processo simplificado de candidatura pela existência prévia de um protocolo entre a ARS Alentejo e o Hospital Universitário de Badajoz. Até ao presente, três Médicos Internos de SP do Alentejo já realizaram este estágio, neste serviço. Como foi o processo de candidatura? Havia oportunidade de financiamento? Realizei a candidatura com cerca de três meses de antecedência, através de um pedido formal de Estágio Opcional ao Diretor do Serviço de Medicina Preventiva e Saúde Pública do Hospital Universitário de Badajoz e à Comisión de Docencia del Complejo Hospitalario Universitario de Badajoz, facilitado pelo Coordenador de Internato Médico de Saúde Pública do Alentejo. Obtive resposta com a confirmação de aceitação no estágio um mês e meio antes do início do mesmo. Por existir um protocolo interinstitucional, não foram necessários outros procedimentos burocráticos. Não obtive ajudas de custo ou subsídio de deslocação por parte da minha Instituição de colocação em Portugal, nem financiamento ou ajuda na procura de alojamento através da instituição de estágio. Que atividades incluiu? Quais foram as tuas funções? Enquanto Médica Interna de Saúde Pública, realizei atividades inerentes às funções dos médicos especialistas em Medicina Preventiva (designados de "Preventivistas") e acompanhei algumas das atividades dos Enfermeiros e dos Técnicos de Saúde Ambiental deste Serviço Hospitalar. Estas atividades estão claramente enumeradas e agrupadas em blocos temáticos na Carteira de Serviços de Medicina Preventiva e Saúde Pública, que é constitucionalmente transversal a nível nacional. Durante o estágio participei maioritariamente nas atividades dos seguintes blocos:
Consideras ter sido uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais foram as maiores aprendizagens? Considero que o estágio no Serviço de Medicina Preventiva e Saúde Pública foi importante para a aquisição de conhecimentos em áreas com as quais não tinha tido a oportunidade de contactar em Portugal - e que não são habitualmente integradas nas atividades dos Médicos de Saúde Pública no nosso país - nomeadamente vigilância epidemiológica hospitalar, biossegurança do meio ambiente hospitalar e vacinação de grupos de risco. Destaco a importância da vacinação de grupos de risco (doentes com imunodeficiências primárias e secundárias, transplantados, doentes renais crónicos, hemodialisados, doentes hepáticos, doentes oncológicos, entre outros) e da vigilância epidemiológica diária e sistemática através de processos e protocolos bem definidos e articulados, não só dentro do hospital, mas também entre os níveis local-regional-nacional da saúde pública. O facto de o estágio ter sido realizado no estrangeiro foi também um ponto positivo, pois permitiu-me conhecer e contactar com outro sistema de saúde, refletir sobre os seus pontos fortes e oportunidades de melhoria e comparar com os obstáculos e potenciais soluções no contexto de Portugal. Tiveste oportunidade de conhecer outros colegas e a cidade onde decorreu o estágio? O que achaste do país/cidade/local/organização? Durante o estágio pude contactar com colegas deste serviço, tanto durante o horário de trabalho, como fora dele. Gostei da cidade de Badajoz e penso que consegui aproveitar a cultura e as atrações turísticas da cidade durante o período de estágio, apesar de ter acontecido durante um verão rigoroso. O facto de Badajoz se localizar perto de Elvas permitiu-me ficar alojada em Portugal, por um custo inferior ao do alojamento em Espanha. O Hospital tem uma ótima localização, dentro do campus universitário, facilmente acessível de carro e de transportes públicos. O que mais te marcou nesta experiência? A equipa de profissionais que me acolheu no serviço foi extraordinária e muito prestável, o que contribuiu para uma experiência mais rica e proveitosa dos pontos de vista profissional e pessoal. Sinto que consegui adquirir conhecimentos essenciais e inovadores para aplicação no futuro, em atividades dos Médicos de Saúde Pública em contexto hospitalar. Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? Para os MISP que gostariam de realizar estágio opcional na área da Saúde Pública Hospitalar em Espanha: todos os Hospitais Universitários terão um Serviço de Medicina Preventiva e Saúde Pública, pelo que aconselho a questionarem os seus Coordenadores de Internato quanto à existência de protocolos com esses serviços. Tanto quanto sei, a candidatura a estágios hospitalares em Espanha costuma ser geralmente morosa, o que apenas não aconteceu no meu caso pela existência de um protocolo entre instituições. |
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