3/9/2021 0 Comentários Marcelo Vieira @ Radboud University – Nijmegen School of Management, Nimega, Holanda; Outubro 2020 - Fevereiro 2021Ano de internato 4º ano de internato, USP Porto Ocidental Como foi o processo de candidatura? Ainda antes do processo de candidatura, julgo ser relevante fazer referência ao processo de escolha do estágio. A minha motivação para a escolha foi quase exclusivamente obter formação em duas metodologias específicas: System Dynamics (SD) e Group Model Building (GMB). Em poucas palavras, SD é uma metodologia de modelação computacional que permite estudar o comportamento de sistemas complexos ao longo do tempo, possibilitando a avaliação do efeito de diferentes políticas/intervenções. GMB é uma metodologia de facilitação de grupos, em que modelos de SD são construídos em conjunto com grupos de peritos. Considerando que não existe em Portugal nenhuma oportunidade de adquirir conhecimentos e competências nestas áreas, tentei contactar investigadores/faculdades no estrangeiro no sentido de perceber a disponibilidade para a realização de um estágio de alguns meses. Este processo implicou a procura de contactos em sites dedicados a estas metodologias, participação em conferências/formações organizadas por entidades relevantes na área, e partilha de opiniões/conhecimentos junto de investigadores portugueses com interesse e contactos nestas áreas. O contacto com a Radboud University – Nijmegen School of Management aconteceu por intermédio de um português que conheci numa conferência internacional, que me indicou um professor desta instituição, que é uma referência mundial nestas áreas, e que viria a ser meu orientador. A partir daí, trocamos emails e facilmente criamos uma proposta de estágio. Não existiu uma candidatura formal perante a instituição que me recebeu para a realização do estágio. Após o contacto informal inicial com o professor da instituição, seguiram-se pequenas burocracias para a oficialização do estágio junto da instituição, que foram facilmente ultrapassadas. O processo burocrático perante o internato médico foi também bastante simples, tendo a coordenação do internato sido bastante facilitadora. O processo demorou cerca de um mês. Quais foram as tuas funções? Como já referi anteriormente, a principal finalidade do estágio foi a obtenção de conhecimentos e competências em duas metodologias específicas: SD e GMB. As minhas principais funções foram orientadas para essa finalidade:
Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as maiores aprendizagens? A experiência foi extremamente enriquecedora. Deixo algumas reflexões: O contacto com o sistema de ensino universitário público holandês gerou-me grande reflexão. A qualidade do corpo docente é de assinalar, com investigadores de renome, incluindo convidados estrangeiros. O modelo pedagógico assenta em aulas práticas, exigindo grande preparação teórica prévia e realização de múltiplas tarefas/trabalhos, o que é de grande exigência para alunos e docentes. A organização da instituição e dos programas formativos são exemplares. Este espírito de competência, exigência e organização reflete-se em vários aspetos da instituição, sendo este um dos aspetos que mais valorizei no estágio. O “espírito de missão” de muitos profissionais que conheci, que me ajudaram de forma genuinamente interessada e a sua postura despretensiosa. O facto de conviver e integrar grupos de trabalho com pessoas de várias nacionalidades e num contexto multicultural enriqueceu o estágio, permitindo adquirir competências para o trabalho em instituições com equipas multiculturais. As competências que tive oportunidade de desenvolver nas metodologias SD e GMB foram também marcantes na minha evolução profissional, principalmente considerando que tais oportunidades são inexistentes em Portugal. Para além disto, as ligações estabelecidas com investigadores da instituição são essenciais para o desenvolvimento de trabalho com estas metodologias no futuro. Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde decorreu o estágio? O que achaste da Holanda? Devido à situação pandémica na Holanda durante o período de estágio, uma parte do contacto com a faculdade decorreu através de videoconferência. Os encontros de lazer eram desaconselhados, os restaurantes e outros estabelecimentos estavam encerrados. Por tudo isto, o contexto não foi o mais favorável para atividades de grupo, pelo que o contacto com os colegas foi sobretudo em contexto de trabalho. Os museus estavam encerrados, pelo que as obras dos grandes mestres holandeses ficarão para mais tarde, bem como os campos de tulipas, apenas visíveis noutras épocas do ano. Contudo, tive a oportunidade de conhecer bem a cidade e uma parte substancial do país. Contactei com uma dose substancial de bicicletas, canais, moinhos, monumentos, queijos e cervejas (holandesas e belgas) num grande número de cidades holandesas. A Holanda é um país extremamente organizado e desenvolvido, em que os espaços são bem planeados e cuidados, tendo os holandeses uma elevada qualidade de vida. É um país pequeno e concentrado, com muitos pontos de interesse separados por poucos quilómetros. É fácil e relativamente rápido realizar viagens entre as principais cidades. Dentro das cidades, as deslocações são realizadas sobretudo de bicicleta, não sendo necessário utilizar outros transportes. A dificuldade em arranjar alojamento por poucos meses e os preços praticados (consideravelmente mais elevados do que em Portugal) são os únicos pontos negativos do país e do estágio. O que mais te marcou nesta experiência? Para além de todas as aprendizagens já referidas, que considero ser o mais marcante desta experiência, foi também marcante a viagem que fiz por todo o país. Pude alugar carro e visitar uma parte substancial do país, como as suas principais cidades e diversos pontos turísticos. O facto de ter realizado esta experiência numa altura de pandemia, em que o número de pessoas a circular era muito reduzido, permitiu-me conhecer uma realidade distinta do habitual, mas muito marcante e interessante. Um exemplo foi poder circular de carro e estacionar sem dificuldade no centro de grandes cidades, como Amesterdão, Roterdão, Utrecht, Haia ou Eindhoven, conhecer os principais pontos turísticos…e passar à cidade seguinte! Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? Antes de mais, recomendo a todos os colegas que não deixem de aproveitar a possibilidade de realizarem um estágio fora do país. O contacto com realidades distintas das que conhecemos faz-nos evoluir em muitos níveis e adquirir competências importantes, além de ter o potencial de aportar contributos importantes para a Saúde Pública em Portugal. Para os colegas que, como foi o meu caso, tenham identificado uma área de interesse, recomendo que repitam os passos que realizei: procurar contactos de investigadores/profissionais/instituições (procurem por contactos na internet, em conferências e, sobretudo, através de outras instituições/investigadores portugueses que possam ter ligação à área de interesse) e não se inibam de enviar emails e apresentar as vossas propostas de estágios. A minha perceção é que, pelo menos em instituições de cariz académico, existe grande abertura para dar oportunidades formativas a quem estiver interessado na sua valorização.
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