28/4/2022 0 Comentários DIOGO CORTES LOPES @ Elective do Mestrado em Saúde Global, na Universidade do Rosário, Bogotá - 20221) Nome, ACES de colocação, Ano de internato.
Diogo Cortes Lopes, ACES Amadora, segundo ano (CESP) 2) Estágio do internato. Instituição, Cidade e País. Data de realização do estágio. Encontro-me a realizar o Curso de Especialização em Saúde Pública (CESP) na Universidade de Maastricht, nos Países Baixos, de Setembro de 2021 a Agosto de 2022. Estou a realizar o mestrado em Saúde Global, que tem vários electives. Um destes é em Saúde Comunitária na Universidad del Rosario, em Bogotá. 3) Como foi o processo de candidatura? Para o mestrado em Maastricht foi bastante fácil, basta preencher um formulário online e no dia seguinte já tinha a confirmação de que tinha sido aceite. É preciso mostrar um nível de inglês (B2 ou superior) e depois enviar o certificado de conclusão do curso de Medicina. Posteriormente, é preciso pedir autorização à Comissão Regional do Internato Médico (CRIM), que pede parecer à Ordem dos Médicos (OM). Este processo demorou uns 2-3 meses, pelo que recomendo começar o mais cedo possível. Para o elective em Bogotá, todos os alunos do mestrado puderam realizar os electives onde queriam (se não houvesse vagas para todos onde queriam, seria por carta de motivação). Para este elective é preciso ter um bom nível de espanhol (B1 ou superior). Eu acho que pelo menos B2/C1 é necessário para poder comunicar com as pessoas de forma eficaz (basicamente não falam inglês). 4) O que achaste da Universidad del Rosario, Bogotá? A Universidad del Rosario é uma das mais prestigiantes universidades da América do Sul. Toda a parte de integração e imigração estava bem organizada. Também nos recomendaram locais de alojamento e nomearam um aluno colombiano para ser nosso “buddy” local. Como as aulas foram muito práticas, num projecto local, não passei muito tempo nas instalações da Universidade. 5) Quais foram as tuas funções? O elective em saúde comunitária está integrado nos cursos de Medicina e Saúde Pública da Universidad del Rosario. É-nos dada liberdade para escolher entre vários projetos. Eu fiquei numa fundação no muito empobrecido bairro El Codito, a norte de Bogotá. Desenvolvi, com outra colega, um projeto para idosos de avaliação de necessidades em saúde mental. Implementámos questionários de rastreio de depressão e o mini-mental state examination (MMSE). Desenvolvemos ainda atividades de envelhecimento ativo. Ao mesmo tempo, tínhamos as aulas do mestrado, principalmente online (já eram assim antes da pandemia). De vez em quando pediam-me, como médico, para ir visitar pessoas doentes nas suas casas. 6) Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as maiores aprendizagens? Foi, definitivamente, uma experiência muito enriquecedora a todos os níveis. Nunca tinha sido exposto a um nível tão elevado de pobreza. Muitos dos idosos com quem trabalhei não sabiam ler nem escrever (pelo que o MMSE não era o teste mais apropriado, o que foi uma aprendizagem sobre colonialismo na Medicina). Muitos não iam ao médico porque não conseguiam pagar o bilhete de autocarro para chegar ao hospital, que custava 2000 pesos colombianos, cerca de 0,50€. Algo paradoxal, creio que a minha maior aprendizagem foi quando ia às visitas domiciliárias. Todos os que visitei tinham acesso gratuito aos medicamentos prescritos pelo/a médico/a. Porém, falhava muito a parte seguinte, de os ajudar a tomá-los. Vi doentes com diabetes que tomavam a insulina “corretamente” mas não tinham comida e sofriam de hipoglicemia. Outros muito jovens com retinopatia e nefropatia, a fazer diálise justamente porque familiares tinham falecido de hipoglicemia e tinham medo de fazer a insulina. Doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) que confundiam inaladores porque as embalagens têm a mesma cor e não as conseguem distinguir porque não sabem ler. 7) Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde decorreu o estágio? Sim, estava neste elective com mais seis colegas da Universidade de Maastricht e dois da Universidade de McMaster no Canadá (outra universidade parceira e também um dos locais onde há possibilidade de realizar o elective). Passávamos bastante tempo juntos. Também conheci alguns alunos colombianos de Medicina e Saúde Pública que estavam a desenvolver os seus projetos na fundação. A cidade de Bogotá é enorme (cerca de 8 milhões de habitantes) e tem muito para oferecer. Contudo, o destaque vai, sem dúvida, para as viagens ao fim de semana que fazíamos para o resto do país. A Colômbia é muito grande e oferece muitos climas e regiões diferentes, desde o Caribe ao Amazonas, passando por cidades coloniais ou o vale cafeteiro nos Andes. 8) O que mais te marcou nesta experiência? Creio que o que mais me marcou foram as experiências de vida dos idosos colombianos que conheci no bairro El Codito. São várias histórias de pessoas reais cuja saúde e vida é altamente impactada pelos determinantes sociais da saúde. Acho que, como médicos e futuros médicos de saúde pública, é nossa responsabilidade trazer o foco a estes determinantes. O que os nossos colegas fazem na prática clínica é extremamente importante, mas há uma oportunidade de melhorar a saúde (e as vidas) de muitas pessoas com ações relativamente simples que não exigem procedimentos tecnológicos complexos ou breaktroughs científicos avançados. 9) Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? Como disse, preparar a candidatura a Maastricht o mais cedo possível e levar logo à CRIM para ter uma resposta em tempo útil. Depois, ter em conta que o mestrado é mais longo do que os 3 meses na Colômbia, acaba por ser muito intenso, mas muito recompensador e com muitas oportunidades. Por fim, para os colegas que querem ir para a Colômbia, é mesmo preciso um nível muito elevado de espanhol. O “Portunhol” não serve. Eu ia com o C1 e tive dificuldades, mas até as espanholas que me acompanharam tinham alguns problemas em entender as particularidades colombianas, principalmente com as máscaras e as dificuldades na fala dos idosos. De resto, é preciso ter paciência para o modo de vida latino, as coisas não funcionam tão bem e rápido como estamos habituados, mas funcionam. E sim, é normal e comum as aulas começarem antes das 7 da manhã.
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