Nome Joana Sofia da Silva Maia Experiência Saúde Sexual e Reprodutiva no contexto de um país de baixo-médio rendimento: um problema de Saúde Pública (Estágio opcional) Instituições, Cidade e País Aga Khan University (AKU), Carachi, Paquistão O que te motivou a desenvolver o teu próprio projeto? Devido à demografia do ACES onde me encontro colocada (Estuário do Tejo), em que mais de 10% da população residente nos concelhos de abrangência é natural de país estrangeiro, tentei desenvolver projetos que incidissem nesta população-alvo. Isso refletiu-se nas escolhas dos meus estágios de intervenção em saúde pública, auditoria em saúde pública e no estágio opcional. Durante o estágio de auditoria que desenvolvi na Escola Nacional de Saúde Pública, tive contacto direto com 2 médicos internos de saúde pública do Paquistão que se encontravam lá a estagiar. Neste contacto, surgiram trocas de ideias que despertaram o interesse na realização de um estágio num contexto do país de baixo-médio rendimento. Assim, depois de me informar um pouco mais sobre os problemas e necessidades de saúde no Paquistão, e indo de encontro com os meus interesses profissionais e pessoais, decidi candidatar-me ao estágio de 3 meses para trabalhar a temática de saúde sexual e reprodutiva na AKU, no Paquistão. Havia parcerias com outras entidades/instituições? Havia oportunidades de financiamento? A AKU tem uma parceria com a Universidade Nova de Lisboa, onde me encontrava a desenvolver a minha tese de mestrado em Saúde Pública. Assim, articulei com o professor Paulo Sousa, para, através das relações institucionais da Escola Nacional de Saúde Pública, pedir a oportunidade de estágio opcional. Devido ao timing da minha tese de mestrado, não foi possível obter financiamento para este estágio, mas se realizarem doutoramentos, mestrados ou pós-graduações na Universidade Nova de Lisboa, podem concorrer a bolsa de estudos da Erasmus plus, que poderá financiar este estágio na AKU. Em que consistia o projeto? Que atividades incluía? Quais foram as tuas funções? O projeto consistiu no desenvolvimento atividades e projetos no foro da saúde sexual e reprodutiva, nomeadamente a implementação de um programa rural de planeamento familiar, advocacia para o problema da mutilação genital feminina e ainda o desenvolvimento de trabalhos em contexto académico, nomeadamente uma scoping review sobre o envolvimento masculino na saúde sexual e reprodutiva, na qual ainda me encontro a colaborar remotamente. Como funciona o sistema de saúde nesse país? Que dificuldades existem? Qual é a tua perspetiva em relação aos serviços de saúde? O sistema de saúde no Paquistão está dividido entre serviços de saúde privados e públicos, sendo que o serviço público é tendencialmente gratuito. O sistema de saúde no Paquistão enfrenta várias dificuldades, desde infraestruturas, ao número deficitário de profissionais qualificados e ao acesso aos cuidados de saúde. Os cuidados de saúde, já previamente fragilizados no combate a doenças transmissíveis, enfrentam agora maiores dificuldades relacionadas com a carga de doença imposta pelas doenças não transmissíveis, acentuando ainda mais as dificuldades já anteriormente sentidas. Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais foram as maiores aprendizagens? Penso que foi uma experiência extremamente enriquecedora a nível profissional e pessoal, que me permitiu ter uma visão mais abrangente de como os determinantes de saúde influenciam os níveis de saúde da população. As melhores aprendizagens deste estágio consistiram na necessidade de adaptação dos médicos de saúde pública aos diferentes contextos, para que possam intervir nos problemas de saúde de forma eficiente. Adaptarmo-nos a diferentes contextos sociais e culturais e usarmos o respeito pelos mesmos como um complemento a intervenção em saúde pública, e não como um obstáculo, foram, sem dúvida, os maiores desafios enfrentados neste estágio. Ainda assim, o balanço geral foi muito positivo, uma vez que as aprendizagens feitas neste contexto podem ser facilmente reproduzidas no contexto local. Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde desenvolveste o projeto? O que achaste do país/cidade/local/organização? Durante o projeto tive a oportunidade de trabalhar em contato direto com os médicos internos do departamento no qual colaborei. Foi nestas relações interpessoais que surgiu a oportunidade de conhecer melhor a cidade e o país, com saídas sociais com os colegas. A AKU é uma instituição de renome internacional, e que me apoiou em todos os momentos logísticos, tanto na preparação da viagem, como durante a duração do estágio. Foi-me dada a possibilidade de ficar alojada na residência exclusiva para mulheres dentro do campus universitário, garantindo assim a minha segurança e bem-estar em todos os momentos. Foi-me dado também apoio logístico na emissão do visto e em termos de transporte durante a duração do estágio. Assim, trabalhar na AKU foi, sem dúvida, uma experiência enriquecedora que recomendo a qualquer médico interno de saúde pública. O que mais te marcou nesta experiência? O que mais marcou nesta experiência foi a resiliência dos profissionais de saúde no contexto de um país de baixo-médio rendimento, que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas, tentam responder às necessidades de saúde da população de forma eficiente. Também me marcou a forma como a desigualdade de género tem um impacto tão grande na vida das mulheres neste país. E as dificuldades e barreiras que estas enfrentam no acesso aos cuidados de saúde são muito difíceis de ultrapassar. O respeito e a compreensão para com estas mulheres foram, sem dúvida, fortalecidos por esta experiência, e espero no futuro poder continuar a colaborar neste contexto e contribuir para a sua formação e educação. Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante?
Para outros médicos internos que tenham vontade de colaborar neste contexto, aconselharia informarem-se sobre as dificuldades práticas de intervir em problemas de saúde tão culturalmente sensíveis. Aconselharia também informarem-se sobre as leis do país no qual irão estagiar, de forma a tornarem a vossa estadia o mais agradável possível. Tentaria também obter conselhos de outros médicos internos que tenham realizado estágio nessa instituição e informação sobre as dificuldades que estes tenham sentido, de forma a estarem psicológica e logisticamente mais preparados para as enfrentar.
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4/12/2023 0 Comentários JOSÉ CHEN @ Barcelona Science and Technology Diplomacy Hub (SciTech Hub), Barcelona, Espanha E OCDE, Paris, França (remoto) - 2023Nome José Chen Experiência Estágio de Consultoria na SciTech DiploHub e OCDE Instituições, Cidade e País Barcelona Science and Technology Diplomacy Hub (SciTech Hub), Barcelona, Espanha OCDE, Paris, França (remoto) Como soubeste da existência destas oportunidades?
SciTech DiploHub: Curiosamente, foi através da newsletter da Planetary Health Alliance. OCDE: Conhecimento da oportunidade e candidatura através da plataforma específica da organização - Taleo Como foi o processo de candidatura? Havia oportunidades de financiamento? SciTech DiploHub: A candidatura foi por email. OCDE: Candidatura feita através da plataforma dedicada. Em ambos os casos, foi marcada entrevista online. Para a SciTech DiploHub, não houve qualquer financiamento, mas essa informação já tinha sido veiculada. Para a OCDE, o processo requereu que estivesse inscrito como estudante. Foi assinado contrato e enviado material informático da OCDE. Fornecia ajudas de custo a estagiários. Em que consistiam os projetos? Que atividades incluiam? Quais foram as tuas funções? Na SciTech DiploHub, fiquei responsável por duas atividades principais:
Adicionalmente, forneceram uma formação inicial para dotar os estagiários de conhecimento básico sobre diplomacia científica. Na OCDE, tive um único projeto: alterações climáticas e saúde, mais precisamente a pegada carbónica dos sistemas de saúde. O meu trabalho principal foi a preparação de um relatório para os membros da OCDE, reunindo a evidência existente sobre metodologias de determinação da pegada carbónica neste contexto específico. Achas que foram experiências enriquecedoras a nível profissional? Quais as maiores aprendizagens? Ambas as experiências foram enriquecedoras. O estágio em Barcelona permitiu-me perceber como a área da saúde é negociada no contexto da ciência, e a sua interligação com as várias áreas científicas, como educação, ambiente e biotecnologia, assim como inteligência artificial. Foi também interessante perceber as áreas de trabalho na área de saúde que constituem uma lacuna para diplomatas, e investir em construir programas de formação que permitem colmatar essas mesmas falhas. Adicionalmente, foi interessante detetar aspetos em que a diplomacia científica poderia melhorar, como a monitorização e avaliação de impacto. Por outro lado, o estágio na OCDE permitiu contribuir para um relatório que servirá de base na definição do rumo que a OCDE irá tomar relativamente à determinação da pegada carbónica dos sistemas de saúde. Em ambos os casos, foi necessário muito trabalho para realizar um diagnóstico de situação compreensivo, e que permita traduzir rapidamente em projetos que colmatar as falhas encontradas. Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde decorreu o estágio? O que achaste do país/cidade/local/organização? Sim, a SciTech DiploHub era constituída por uma equipa jovem de várias áreas, incluindo relações internacionais, marketing e antropologia. Esta multidisciplinaridade é bastante importante para que esteja exposto a diferentes perspetivas e outros conhecimentos. Na OCDE, trabalhei com Policy Analysts e outros estagiários, o que permitiu perceber como funcionava a estrutura e compreender a necessidade de expandir o trabalho na área das alterações climáticas e saúde. Por outro lado, Barcelona é uma cidade que apresenta uma oferta cultural bastante extensa, aberta a diferentes expressões culturais. Recomendo vivamente! O que mais te marcou nesta experiência? A possibilidade de trabalhar em áreas fora da zona de conforto e pouco exploradas por médicos de saúde pública. Eu era o único estagiário da área da saúde na organização, o único que, de facto, vinha de áreas científicas. Porém, não só aprendi eu, como as pessoas da organização para as quais trabalhei. Com estas experiências, fortaleci o meu conhecimento sobre relações internacionais, comunicação e negociação, soft skills importantes em negociação e argumentação. Foi também enriquecedor a possibilidade de compreender o papel dos processos de negociação e o potencial do impacto da diplomacia em saúde. Por outro lado, é importante para um médico de saúde pública perceber como orientar a evidência para políticas de saúde robustas, mas também como traduzir a evidência para os legisladores. Por isso, estas duas experiências foram cruciais para mim. Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? Tenham a coragem de se expor a diferentes contextos, de explorar diferentes áreas e de adquirir ferramentas que permitam que tenham um maior impacto na saúde das nossas populações. Outras páginas relevantes: SciTech DiploHub: https://www.scitechdiplohub.org/ OCDE Taleo: https://oecd.taleo.net/careersection/ext/joblist.ftl 28/10/2023 0 Comentários FRANCISCO BARCELOS @ University of Maastricht (Holanda)/ McMaster University - DeGroot Business School (Canadá) - 2023Nome: Francisco Freitas Barcelos Experiência: University of Maastricht (Holanda)/ McMaster University - DeGroot Business School (Canadá) Como soubeste da existência desta oportunidade? Optei por fazer o Mestrado em Saúde Global (Global Health) na Universidade de Maastricht, como equivalente ao CESP. o programa está organizado em trimestres, sendo que o primeiro e o segundo são estritamente curriculares e o terceiro mais dedicado à tese. No segundo semestre os alunos têm a oportunidade de fazer um elective em intercâmbio numa das universidades parceiras. Eu escolhi a McMaster University, no Canadá, uma vez que, nesta faculdade, tinha a oportunidade de explorar a área de healthcare business. Como foi o processo de candidatura? Havia oportunidade de financiamento? A cada aluno do mestrado em Maastricht foi pedido que fizesse uma lista com as 3 opções de electives, e consegui ser colocado na primeira opção. No geral, é feito um esforço para todos serem colocados nos locais que desejam, embora houvesse algumas exceções. Depois de estar colocado nesta Universidade, era necessário escolher o track que pretendia seguir. Acabei por escolher o Business and Management in Healthcare, porque era aquele que conhecia menos bem. Não há oportunidade interna de financiamento - e destacaria este facto como um dos pontos menos positivos da experiência, em comparação com outras oportunidades. O Canadá continua a ter um custo de vida muito superior ao de Portugal e o vencimento de um interno não é suficiente para cobrir os custos de vida básicos no Canadá, principalmente se queres viajar dentro do país. Em que consiste o projeto? Que atividades inclui? Quais são as tuas funções? À semelhança do que acontecia em Maastricht, é um trimestre normal com aulas presenciais nas várias disciplinas, em que o método de avaliação baseia-se em apresentações e trabalhos de grupo, com projetos muito práticos e essencialmente "hands on". Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as maiores aprendizagens? Definitivamente! Sendo o Canadá um país com um sistema de saúde maioritariamente privado, mas também com grande investimento público na Saúde Pública, esta oportunidade permitiu-me conhecer melhor o funcionamento do mesmo, as suas vantagens e desvantagens. Sendo também um país com grande influência multicultural, fez-me entender o peso da mesma num sistema de saúde. Houve várias possibilidades de networking, com professores da faculdade, com pessoas convidadas para lecionar aulas, outros colegas e alguns eventos com essa finalidade. Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde decorreu o curso? O que achaste do país/cidade/local/organização? Conheci muitas pessoas e travei amizades com colegas de diferentes backgrounds e culturas, que considero ter sido um ponto enriquecedor a nível pessoal. A faculdade preocupa-se em que tiremos o máximo proveito desta experiência, facilitando o contacto com profissionais já bem estabelecidos na área. Hamilton - a cidade onde está situada a faculdade - não é das mais convidativas, e o facto desta experiência ter sido vivida na época de inverno fez com que não passasse muito tempo em atividades outdoor. Contudo, o facto de estar muito perto de Toronto, onde existem inúmeras oportunidades (bares, restaurantes, museus e experiências) fez com que passasse muito tempo lá. O que mais te marcou nesta experiência? Para além de ter tido contacto com uma faculdade com imensos recursos e instalações de qualidade, e de tudo o que aprendi, viajar pelo Canadá também foi muito interessante. Deslumbrei-me com paisagens incríveis num clima de "gelo", muito diferente dos sítios em que já tinha vivido. Os Canadianos também são, no geral, muito amáveis e prestáveis, com um nível de educação exímio. Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? Acho que a minha experiência é difícil de replicar, a menos que ingressem no Mestrado em Maastricht. Contudo, acho que a McMaster University seria um local muito bom para Estágio de Investigação, por exemplo, uma vez que é umas das mais conceituadas em Saúde Pública no Canadá, com muitos projetos a decorrer e ligados a várias áreas. |
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