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15/9/2025 0 Comentários Inês Medeiros @ DGS - Divisão de Saúde Sexual,Reprodutiva, infantil e juvenil, Lisboa, PortugalNome Inês Medeiros Experiência Estágio de Auditoria na DGS - Divisão de Saúde Sexual, Reprodutiva, Infantil e Juvenil Instituição, Cidade e País DGS, Lisboa, Portugal Como soubeste desta vaga/ oportunidade? Sempre tive um interesse profundo pela área da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), pelo que procurei de forma ativa uma oportunidade de estágio que me permitisse trabalhar neste tema. Durante uma visita do CESP à DGS em 2024, aproveitei para perguntar diretamente se havia possibilidade de realizar auditorias clínicas nesta área. Foi-me explicado que as auditorias formais aos serviços clínicos são conduzidas pela IGAS ou pela ERS, mas que a DGS detém competências para realizar outro tipo de auditorias, nomeadamente a nível dos sistemas de informação, estabelecimentos, complicações das IGs e de apoio à organização dos serviços. Contactei, assim, por e-mail a divisão da DGS com interesse em colaborar, e após uma reunião presencial para discussão de ideias, ficou definido o âmbito da auditoria e consultoria. Foi dessa forma, por iniciativa e proposta minha no que toca ao tema, mas depois averiguação das necessidades da Divisão neste tema especifico. Que passos tiveste de dar para obter o estágio? Não houve processo de candidatura formal. A iniciativa partiu de um contacto por email, seguido de reuniões presenciais com a equipa da Divisão de Saúde Sexual, Reprodutiva, Infantil e Juvenil para delinear o plano de trabalho. O processo foi formalizado tanto na DGS como na minha unidade. Como era o ambiente no local de trabalho? Muito bom! É um ambiente diferente da restante DGS, extremamente inclusivo e compreensivo. Muito acolhedor e bastante flexíveis e informal até. Gostei muito do ambiente da divisão, muito tranquilo mas com o alinhamento das ideias e prontos para o trabalho! Como era uma semana habitual? Quais foram as tuas funções exatas? O meu horário era semelhante ao da Unidade, mas tinha bastante flexibilidade sem marcação de ponto, e normalmente acabava por ficar um dia em teletrabalho - preferencialmente à sexta-feira (com possibilidade de mais). Durante o estágio, trabalhei principalmente na realização de uma auditoria à implementação da Norma n.º 001/2013 da DGS (complicações da IG), na avaliação do sistema de informação das Interrupções da Gravidez, e na análise da informação e funcionamento da Lista de Estabelecimentos Oficiais e Oficialmente reconhecidos. Paralelamente, desenvolvi uma consultoria para reorganização dos serviços de IVG em Portugal. As semanas incluíam revisão bibliográfica e análise documental, condução de entrevistas com peritos e participação em reuniões técnicas sobre o tema (e não só). Normalmente ficava durante o dia a desenvolver os meus objetivos específicos do estágio com reuniões por teams ou presenciais, contudo também me envolvi noutras questões, e normalmente quando haviam outras reuniões como do PNSIJ, da ENIND (igualdade e não discriminação), dignidade menstrual e da mortalidade fetal e infantil também estava envolvida e ajudava com a construção de alguns documentos e/ou pesquisa bibliográfica. O que mais te marcou? A oportunidade de trabalhar num tema sensível e politicamente relevante, com impacto direto sobre os direitos sexuais e reprodutivos e na igualdade de género, foi particularmente marcante. Na DGS, o que mais me marcou foi mesmo perceber o tipo de trabalho que é feito dentro da instituição — por um lado, uma divisão extremamente acolhedora, empenhada e muito dedicada à defesa dos direitos das pessoas, mas por outro, muito limitada pelos poucos recursos disponíveis. Mais do que isso, o que me frustrou bastante foi notar a desvalorização clara que ainda existe em relação aos temas da saúde sexual e reprodutiva , e infantil e juvenil, mesmo dentro de instituições que deviam liderar a sua proteção. Outra coisa que me impactou também bastante foi perceber que, em quase 20 anos desde que saiu a lei da IVG, não houve quase nenhuma evolução legislativa, apesar de existirem dados, estudos e até guidelines internacionais a mostrar a necessidade de mudanças e de boas práticas. Inclusive tive a sorte de durante o meu estágio conseguir assistir à discussão em Assembleia da República sobre as IVGs. Contudo, na verdade, esta plenária corroborou ainda mais a minha sensação de inércia política e legislativa que se faz sentir em relação a este assunto. Foi um misto de frustração e vontade de intervir! Quais as maiores aprendizagens? Aprendi imenso sobre o tema da IVG, mas também sobre como se lê e interpreta legislação (coisa que ninguém nos ensina bem…). O mais enriquecedor foi, sem dúvida, poder combinar várias metodologias — desde entrevistas a peritos até à análise documental e quantitativa de dados de morbilidade hospitalar. Consegui cruzar tudo isso para construir recomendações com base real e prática. Também percebi melhor como funciona a comunicação dentro da DGS, e como é que se articulam com outras instituições, o que ajuda a ganhar noção da realidade nacional. Por outro lado, cresci bastante enquanto médica de Saúde Pública no que toca à advocacia e à coragem para abordar temas sensíveis. Com base na evidência e nos direitos humanos, há uma base sólida para agir — e trabalhar com uma equipa que reforçava esse compromisso deu-me confiança para continuar a fazê-lo. Farias alguma coisa diferente? Sim, provavelmente teria procurado mais cedo uma formação específica na área da auditoria e qualidade. Embora tenha investido bastante tempo a estudar e a perceber as metodologias, uma base prévia teria facilitado o processo.
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Nome Ana Cecília Chaves Experiência Missão Permanente em Portugal - Núcleo da Saúde - Junto da NUOI (Estágio consultoria em diplomacia em saúde) Instituições, Cidade e País NUOI (Nações Unidas e outras organizações internacionais), Genebra, Suíça 1. Como soubeste desta vaga/oportunidade? Desde o início do internato que tinha a ideia de fazer o maior número de estágios "fora da caixa" possível, de contactar com ambientes diferentes, e aos quais seria difícil ter acesso noutra circunstância. Acabei por ler as rubricas "Internos pelo Mundo" à procura de inspiração. Foi aí que me apercebi de que vários outros colegas já tinham estado na Missão Permanente de Portugal junto das Nações Unidas e outras Organizações Internacionais em Genebra (NUOI), aos quais pedi feedback sobre o estágio, sobre custos e sobre as burocracias necessárias. Além disso, no mesmo ano, no CESP, o Dr Guilherme Duarte, na altura Conselheiro para a área da Saúde na NUOI, veio dar-nos uma aula ao ISPUP, na qual também nos lançou o convite para, se quiséssemos, fazermos estágios com ele em Genebra. 2. Caso tenha havido processo de candidatura, como foi? Não houve processo de candidatura. Bastou contactar o Dr. Guilherme, que se mostrou prontamente disponível para me receber. Foi apenas necessário submeter um plano de estágio simples (2 páginas, com local, datas e objetivos do estágio) para a Coordenação do Internato Médico aprovar. Como já tinham existido estágios prévios de MISP na NUOI, não foi necessário fazer pedido de aprovação à Ordem dos Médicos, pelo que o processo foi bastante célere. Por último, a NUOI acabou por tratar da autorização de residência na Suíça (o chamado Permit). 3. Como foi a adaptação a uma nova cidade? Foi bastante fácil. Genebra, como toda a Suíça, é uma cidade muito bem organizada. A deslocação para a NUOI, para as agências da ONU ou outras instituições nas quais tínhamos reuniões/eventos era sempre de transportes públicos (passe custava cerca de 70eur/mês). A parte mais desafiante talvez seja encontrar alojamento, não só pelo preço, mas pelo facto de ser um período de tempo curto, 5 meses (eles preferem alugar por períodos de 1 ano ou mais). Além disso, eles exigem uma série de documentação e um salário bastante acima do valor da renda o que, na qualidade de MISP, se torna inviável. A forma mais fácil é subalugar um quarto de alguém que vai estar fora durante um período de tempo e que, por isso, aluga o próprio quarto; alternativamente, ficar numa residência de estudantes. Eu acabei por conseguir ficar num estúdio que encontrei no Airbnb, cujo proprietário aceitou alugar pelo período de 5 meses. Genebra é uma cidade com uma população extremamente internacional tendo, inclusivamente, uma grande comunidade de jovens que vêm estagiar/trabalhar para agências da ONU ou outras instituições internacionais. Existem vários grupos no whatsapp/facebook, pelo que é fácil fazer amizades e encontrar planos. Outra das grandes diferenças entre Portugal e Suíça é o facto de o comércio local e os supermercados fecharem bastante cedo (18-19h), assim como aos domingos 4. Como era uma semana habitual? Nunca haviam semanas iguais. O nosso trabalho dependia das agendas dos diversos stakeholders da Saúde em Genebra, principalmente da OMS e outros programas/agências da ONU, assim como do grupo de países da União Europeia. Para além da assistência a eventos/reuniões, tínhamos atividades de comunicação com os órgãos nacionais (Ministério da Saúde, Ministério dos Negócios Estrangeiros, etc), através da redação de telegramas e emails a relatar os acontecimentos em Genebra mais relevantes para os interesses nacionais. Pude ainda contactar, a título opcional, com o trabalho e eventos de outras agências da ONU e stakeholders - Organização Internacional do Comércio, Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, empresas do setor privado, etc. Aos fins de semana aproveitei sempre para viajar na Suíça e arredores (França, Alemanha e Itália). 5. Quais as maiores aprendizagens? Iniciei o estágio com pouca/nenhum ideia sobre qual era o trabalho da NUOI. Acabei por perceber que existem dois contextos muito diferentes de trabalho na OMS (que se aplica às restantes agências da ONU): um lado mais técnico (monitorização e análise de dados de saúde global, produção de evidência científica/guidelines/documentos técnicos, desenvolvimento e implementação de programas de saúde, formação e capacitação de profissionais de saúde, apoio técnico aos países na implementação de políticas de saúde, etc.); e um lado mais político/diplomático (negociações entre países a nível de políticas, financiamento e cooperação internacional, desenvolvimento de parcerias, etc.) - na qual se inclui o trabalho da NUOI. Ambos os contextos beneficiam do envolvimento de MSP, ainda que muitas das Missões diplomáticas ainda careçam de profissionais dedicados à área da saúde, nomeadamente pessoal técnico das áreas da saúde. O estágio foi particularmente rico pelo facto de ter coincidido com dois hot topics da saúde global, nomeadamente as negociações do Tratado Pandémico e as Revisões do Regulamento Sanitário Internacional, cuja adoção estava prevista para a 77ªAssembleia Mundial da Saúde, em maio 2024. As negociações foram bastante tensas e pude experienciar os processos de diplomacia no seu auge, tendo percebido o poder que as divergências políticas e económicas dos diferentes Estados-Membros têm sobre os processos negociais em Saúde e as relações internacionais. Por ser um ambiente muito dinâmico e sobre o qual não tinha nenhum background prévio ao estágio, a adaptação ao tipo e ritmo de trabalho foi algo exigente, especialmente no que toca à redação de telegramas e intervenções nacionais em linguagem técnica, horários de trabalho alargados, extensas horas de reuniões de negociação e à necessidade de desenvolver sensibilidade geopolítica. No entanto, tive oportunidade de aprimorar competências de comunicação e linguagem técnica, advocacia, networking e negociação, assim como apurar a minha sensibilidade política e cultural, especialmente num ambiente diplomático cada vez mais politizado e exigente. A par do crescimento profissional, o contacto com grandes nomes da Saúde Global e a oportunidade de representar o país lado a lado com elementos do Governo e de outros profissionais que dão voz a Portugal nos grandes fóruns internacionais foram também, sem dúvida, muito gratificantes do ponto de vista pessoal.
6. Que conselhos darias a quem gostasse de ter uma experiência de estágio semelhante? O IMSP dá-nos a possibilidade de podermos explorar contextos de trabalho em Saúde Pública muito diversos. Acho que são oportunidades únicas para termos contacto com áreas e instituições sobre as quais temos curiosidade, mesmo que nem sempre nos vejamos trabalhar nelas no futuro, como foi o meu caso neste estágio - eu tinha plena consciência de que não tinha perfil para trabalhar num ambiente político, mas queria ter contacto com o ambiente internacional e com o trabalho nos grandes palcos da Saúde Global. Crescemos muito a sair da nossa zona de conforto, ganhamos plasticidade emocional, maior awareness para diferentes problemas de saúde pública e para diferentes formas de os resolver. Não tenham medo de explorar! Nome Francisca Pulido Valente Instituições, Cidade e País INSERM - EHESP École des Hautes Études En Santé Publique Rennes, França Como soubeste da existência desta vaga/ oportunidade? Foi durante o CESP, enquanto fazia um trabalho, que encontrei um artigo que mudou a minha forma de pensar e começou a “limitar” os tópicos que mais gosto de estudar e trabalhar em saúde pública: um artigo da Prof.ª Mélissa Mialon e da nossa colega Margarida Paixão sobre a atividade corporativa política da indústria do álcool em Portugal. Descobri um mundo novo — o dos determinantes comerciais de saúde — e o trabalho da Mélissa ficou-me na cabeça desde então. Caso tenha havido processo de candidatura, como foi? Procurei o LinkedIn da Mélissa (que é Inserm Chair on “Research on Health Services” e publicou centenas de artigos) porque queria aprender sobre determinantes comerciais da saúde. Enviei-lhe uma mensagem direta e sem rodeios: queria fazer um estágio com ela porque essa área ainda está em desenvolvimento em Portugal. A resposta foi rápida e generosa. Conversámos sobre o que faria sentido desenvolver juntas, alinhámos objetivos e depois esperei pelo processo formal da instituição francesa (INSERM/EHESP). Tive de assinar uma espécie de contrato, mas tudo correu com muito profissionalismo e abertura da parte deles. Como foi a adaptação a uma nova cidade? Foi surpreendentemente fácil. Falo francês — nasci em França — e isso ajudou imenso. Rennes é uma cidade maravilhosa, cheia de vida, com um mercado incrível, pequenos restaurantes com menus locais, livrarias, ruas antigas, estudantes por todo o lado e uma energia acolhedora. A comida era uma festa à parte: o queijo, os crepes… e claro, o maravilhoso caramel salé. Inicialmente fiquei nas residências do campus da EHESP, mas depois procurei a minha própria casa. Senti-me em casa muito rapidamente, também graças às pessoas que me acolheram. Como era o ambiente no local de trabalho? Havia uma enorme generosidade, alegria e evolução intelectual. Trabalhava com pessoas de vários países — México, Colômbia, Canadá, Senegal — e havia sempre espaço para discussão crítica, perguntas difíceis e partilha de experiências. A Mélissa é uma líder inspiradora: exigente, mas humana, e sempre com um sentido de justiça muito claro. A equipa era superdivertida e, além do trabalho, almoçávamos quase sempre juntos. Ria-me muito e falávamos em várias línguas, mas entendíamo-nos perfeitamente. Como era uma semana habitual tua? Quais foram as tuas funções exatas? As semanas eram muito variadas. Tinha dois projetos principais, dois futuros estudos para publicar: um com recolha documental e análise temática, e outro que envolvia a construção de um questionário. Também participei em reuniões, conheci vários investigadores, assisti a aulas do mestrado de saúde pública dadas pela Mélissa (onde participei em discussões de grupo com alunos, facilitei aulas e participei na avaliação de estudantes). Tivemos atividades diversas como visitas a comunidades e ONGs locais. Fiz um período em Lisboa para participar em duas conferências (uma delas com a Mélissa). Lecionei uma aula no CESP–NOVA sobre determinantes comerciais da saúde, usando tudo o que tinha aprendido ali. A semana também incluía passeios com baguetes acabadas de comprar nas maravilhosas padarias (barradas com manteiga incrível), ouvir música francesa de Natal na cozinha (vivia mesmo no centro e a música entrava pela casa), fazer jantares com colegas, e receber os meus amigos, namorado e família… Aproveitei para visitar a Bretanha — fui ao Mont-Saint- Michel, por exemplo. E num sábado fomos com a Mélissa a Paris para uma reunião com uma organização. Havia uma sensação constante de estar a viver algo que era mais do que trabalho: era um mergulho total numa outra forma de estar — à maneira dos bretões. O que mais te marcou? A primeira aula da Mélissa. A Mélissa falou de justiça social, da importância das palavras certas, do véu da ignorância, do modelo da moeda de Rawls. Parecia que tudo encaixava e ao mesmo tempo desmontava formas antigas de pensar. Nunca tinha olhado para a saúde pública com aquela abrangência. Também me marcou muito a relação com a equipa: acolheram-me, ensinaram-me, desafiaram-me. Fiquei uma semana em casa de uma colega — dormi lá, partilhámos tudo. Cozinhou para mim e tratou-me como família. E o último retiro de escrita que fizemos todos juntos foi muito especial. Quais as maiores aprendizagens? Aprendi a identificar as estratégias das várias indústrias para influenciarem políticas e ciência, saí claramente do meu tópico de eleição, que é realmente o álcool. Aprendi ferramentas concretas para investigar essas práticas no meu país. E aprendi que não estamos sós — há pessoas por todo o mundo a trabalhar com coragem e rigor para mudar sistemas profundamente enraizados. E finalmente, aprendi a sair da minha bolha. Farias alguma coisa de forma diferente? Sim: teria ficado mais tempo. Senti que estava no sítio certo. Teria prolongado o estágio. Teria tentado garantir uma bolsa, porque o preço do alojamento foi elevado, ou procurado alternativas mais baratas. Mas admito que não fiz qualquer poupança porque queria aproveitar tudo o que podia. Valeu cada euro. Que conselhos darias a quem gostasse de ter uma experiência de estágio semelhante? Não esperes por convites formais. Vai atrás das pessoas cujo trabalho te inspira. Sê claro nos teus objetivos, mas flexível no caminho. E, se possível, prepara-te financeiramente para conseguires aproveitar a experiência com tranquilidade. Ah — e mergulha de cabeça. O conhecimento técnico é importante, mas o que mais fica são as pessoas e o crescimento interno. |
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