5/11/2021 0 Comentários Data feminismAutoras: Catherine D’Ignazio and Lauren F. Klein Editado por David Weinberger Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 2020 Série: <Strong> ideas series 327 p., Hardcover EUR 25.25/USD 29.95 ISBN: 9780262044004 “Os Dados são o novo Petróleo” – esta é uma frase amplamente utilizada, muitas vezes por políticos ou empresários, normalmente homens privilegiados e, não raras vezes, pessoas sem conhecimentos ou competências em Ciência de Dados. Todavia, a utilização desta frase ilustra o potencial na extração e conversão de dados para lucro ou benefícios do próprio, de empresas ou de instituições. As autoras do livro Data Feminism (1), no entanto, utilizam esta frase para lançar a discussão sobre a utilização de dados, a digitalização e a inovação tecnológica como novas formas de criar hierarquias de poder e opressão estruturada, enfrentadas há séculos por mulheres, imigrantes, pessoas de cor, comunidades indígenas e membros da comunidade LGBTQ+. Assim, o objetivo principal do livro é, não só explorar e examinar as estruturas de poder desiguais no domínio dos dados, com uma perspetiva intersecional e uma lente feminista, como destacar as tentativas feitas para retificar as desigualdades e as opressões, na área da Ciência de Dados. O ponto de partida para Data Feminism é algo que quase nunca é reconhecido na área de Ciência de Dados – o poder não é distribuído igualmente no Mundo. Aqueles que detêm o poder são desproporcionalmente da elite, heterossexuais, brancos, saudáveis, cisgéneros, do Hemisfério Norte. O trabalho de Data Feminism pretende, em primeiro lugar, perceber como as práticas existentes na Ciência de Dados servem para reforçar as desigualdades existentes e, em segundo lugar, utilizar a área de Ciência de Dados para desafiar e mudar a distribuição de poder. Data Feminism é uma convicção e um compromisso para a ação – a ideia que sistemas opressivos de poder nos prejudicam a todos, que debilitam a qualidade e a validade do nosso trabalho e que nos impedem de criar impacto social verdadeiro e duradouro, com recurso à Ciência de Dados. Se dados são poder, quem beneficia com eles? Quem deixamos para trás? Como são usados os dados para manter as estruturas de poder? Ao longo de sete capítulos, são explorados sete princípios que evidenciam as forças desiguais de poder, com recurso a dados, dando exemplos históricos e factuais, que ilustram limites na utilização de dados e procuram responder a estas questões e providenciar (algumas) soluções ou esforços realizados nesta temática. Um dos principais argumentos do livro coloca em oposição os conceitos de “justiça de dados” e o de “ética de dados”. As autoras defendem que a “ética de dados”, ao focar-se na justiça e nos preconceitos, cria estruturas que protegem o poder. Para exemplificar o seu ponto de vista, apresentam dois ótimos exemplos, de fácil compreensão. O primeiro, é a utilização desmedida de Inteligência Artificial (IA) em processos de recrutamento “justos”, em que a IA obtém informação de um conjunto de dados pré-existentes (onde existe sobrerrepresentação de homens, brancos, privilegiados). Este facto prejudica as oportunidades de mulheres e minorias na análise curricular automatizada por IA. O segundo exemplo descreve softwares de policiamento em que as comunidades marginalizadas estão sobrerrepresentadas, levando a situações em que os algoritmos de IA vão prever nestes bairros e, junto destas comunidades, uma maior ameaça e risco, dando origem a um fenómeno designado como pernicious feedback loop, que consiste na amplificação dos efeitos do preconceito racial e da criminalização da pobreza, pois as predições do futuro assemelham-se às práticas racistas do passado. As autoras argumentam, de forma convincente, que as empresas e as instituições precisam mais do que meros “consertos” tecnológicos para lidar com dados para a equidade e a justiça. Estas tecnologias são, ainda hoje, desenhadas e produzidas por uma sociedade significativamente influenciada por uma história de supremacia branca e pela opressão do patriarcado. As autoras argumentam que “uma sociedade racista dará uma ciência racista”. Por outro lado, a “justiça de dados” reconhece desigualdades históricas e diferenciais de poder, o que, pode culminar no desafio das dinâmicas existentes. Para ilustrar este conceito, as autoras contam o episódio, quase anedótico, da Dra. Christine Darden, uma das mulheres que serviu de inspiração para o livro e filme Elementos Secretos. Darden, matemática em Langley (agência espacial americana NASA), percebeu desde cedo na sua carreira que, embora tivesse as mesmas qualificações e fizesse o mesmo trabalho, os seus colegas homens eram mais rapidamente promovidos. Darden recorreu à área de “Iguais Oportunidades” de Langley, onde uma colega lhe forneceu dados públicos e gráficos que mais que evidenciavam um problema sistémico na NASA. Ao levar estes mesmos dados ao seu Diretor, este mostrou-se “chocado com a disparidade” – mas os dados existiam e eram públicos, simplesmente antes de Darden ninguém os tinha analisado ou, mais importante que isso, ninguém os tinha utilizado de forma a reconhecer as desigualdades e alterar as dinâmicas. A Dra. Christine Darden tornou-se a primeira mulher afro-americana a ocupar uma posição Sénior em Langley e era Diretora quando se aposentou da NASA em 2007, trilhando o caminho para muitas outras que lhe seguiram os passos. Apesar destes exemplos, as autoras destacam ainda outra problemática – a ausência de dados (e o impacto que isso tem) sobre membros de comunidades marginalizadas. Esta ausência não pode servir como prova insuficiente para justificar e validar as suas reivindicações de opressão. Para tal, destacam a falta de dados disponíveis nos Estados Unidos da América (EUA) sobre a mortalidade materna, especialmente em mães negras. Tal facto, leva a uma situação de desvalorização das (assustadoras) taxas de mortalidade materna em mulheres negras e, como fator agravante, uma descredibilização dos medos e receios destas mulheres. Serena Williams, provavelmente a tenista mais famosa da atualidade, trouxe este assunto para as luzes da ribalta ao partilhar a sua experiência traumatizante e foi a voz necessária para que muitas mulheres negras percebessem que não estavam sozinhas. Atualmente, as estimativas sugerem que a mortalidade materna de mulheres negras pode ser mais de três vezes superior à de mulheres brancas, e a falta de validação da sua dor contribuiu, muitas vezes, para tirar a vida dessas mulheres. Ao longo de todo o livro, as autoras incorporam princípios da Teoria Interseccional. Esta teoria procura examinar como diferentes categorias biológicas, sociais e culturais, tais como género, raça, classe, capacidade, orientação sexual, religião, idade e outros eixos de identidade interagem em níveis múltiplos e, muitas vezes, simultâneos. Este quadro pode ser usado para entender como a injustiça e a desigualdade social sistémica ocorrem numa base multidimensional. (2) A interseccionalidade sustenta que os conceitos clássicos de opressão dentro da sociedade — tais como o racismo, o sexismo, o classismo, o capacitismo, a xenofobia, a bifobia, a homofobia, a transfobia e intolerâncias baseadas em crenças — não agem independentemente uns dos outros, mas que essas formas de opressão se inter-relacionam, criando um sistema de múltiplas formas de discriminação. (3) Deste modo, as autoras fazem questão de incluir referências bibliográficas sobre e escrita por membros da comunidade LGBTQ+, pessoas de cor, nações anteriormente colonizadas e comunidades indígenas. As autoras vão ativamente além dos trabalhos académicos, pois este tem sido um espaço que frequentemente negligencia as contribuições de grupos marginalizados. Quase dois terços das suas citações são de mulheres ou pessoas não binárias; quase todos os capítulos têm um projeto do Hemisfério Sul; um terço de todas as citações são de pessoas de cor; e quase metade de todos os projetos mencionados no livro são liderados por pessoas de cor. Alguns dos exemplos de projetos preponderantes incluem uma iniciativa liderada por María Salguero para registar casos de feminicídio no México (assassinatos de mulheres e meninas com base no género) de maneira aberta e acessível. A falta de dados publicados pelo Governo, levou Salguero a vasculhar artigos de jornais e alertas do Google, encontrando todas as ocorrências que podia e registando-as num mapa. Outro exemplo é o projeto “Gender Shades”, em que a equipa liderada por Joy Buolamwini e Timnit Gebru descobriu que as mulheres negras têm 40 vezes mais probabilidade de serem classificadas incorretamente pela tecnologia de reconhecimento facial do que os homens brancos. Esta pesquisa rapidamente estimulou a IBM a lançar seu projeto “Diversity in Faces”, que visa construir uma tecnologia de reconhecimento facial que seja racialmente justa e precisa. No entanto, a IBM abandonou recentemente este projeto, após discussões mais alargadas sobre o uso antiético deste software no perfil racial e vigilância em massa. Quanto a ideias de reforma, em Data Feminism há algo que ressalta: o processo de formulação de políticas é inerentemente confuso, mas a melhor maneira de o tornar mais equitativo é garantir a participação o mais ampla possível, tanto na formulação do problema, como na implementação de soluções. As autoras declaram os seus próprios preconceitos e privilégios logo no início do livro, sendo francas sobre as suas limitações e deficiências. Incluem até os seus valores e métricas, para que possa haver responsabilização e prestação de contas – algo muito frequentemente esquecido em publicações académicas. Este livro destina-se a feministas, mulheres ou homens, que procuram aprender sobre o feminismo na era digital e como o seu próprio ativismo pode contribuir para a criação de uma forma mais justa e equitativa de Ciência de Dados. Data Feminism vai muito além de um trabalho académico que compila pesquisas, literatura ou histórias – serve como uma chamada à ação. Como Médica Interna de Saúde Pública, reconheço a importância da análise de dados e informação em saúde, bem como da utilização de ferramentas informáticas de apoio ao planeamento, vigilância, intervenção e investigação em saúde, duas das competências essenciais ao exercício do Médico Especialista em Saúde Pública (4) e reconheço o impacto que as novas tecnologias e a Saúde Digital vão trazer aos Médicos de Saúde Pública em particular, e a toda a sociedade no geral. Todavia, não existe nenhuma quantidade de dados - de consertos tecnológicos a ajustes algorítmicos - que nos dê aquilo que procuramos – uma sociedade mais justa e equitativa. As formas sistémicas de opressão não podem ser eliminadas ou corrigidas por coleção de dados suficientes. Os dados que recolhemos e analisamos, foram e ainda são, representativos da nossa sociedade desigual, moldada por formas racistas, sexistas e imperialistas. Mais dados e novos livros não mudam as sociedades nem desmantelam os sistemas de opressão – este poder está nas pessoas. Apesar deste livro não dar as respostas, incentiva a ação e lança a semente para a mudança de pensamentos e paradigmas. Assim, recomendo-o a todos os que, utilizando dados, façam a escolha diária de fazer parte da solução. Autoria Patrícia Pita Ferreira Edição Filipa Gomes Referências bibliográficas 1. D’Ignazio C, Klein LF. Data Feminism. Strong ideas series ed. Weinberger D, editor. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press; 2020. 2. Crenshaw K. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics. In The University of Chicago Legal Forum; 1989; Chicago. p. 139-167. 3. Knudsen SV. Intersectionality – a theoretical inspiration in the analysis of minority cultures and identities in textbooks. In Caught in the Web or Lost in the Textbook, 8th IARTEM conference on learning and educational media; 2006; Utrecht, The Netherlands. p. 61-76. 4. Colégio de Saúde Pública. Competências Essenciais ao Exercício do Médico Especialista em Saúde Pública, Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos ; 2013.
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8/10/2021 0 Comentários A PESTEAlbert Camus Livros do Brasil Editions Gallimard, 1947 264 pp., Paperback EUR 16.60 ISBN 978- 972-38-2934-1 Albert Camus nasceu na costa da Argélia a 7 novembro de 1913, durante a ocupação francesa, numa localidade chamada Mondovi, hoje denominada Dréan. Foi escritor, filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista e ensaísta franco-argelino. O seu trabalho profícuo inclui peças de teatro, novelas, notícias, filmes, poemas e ensaios, através dos quais desenvolveu um humanismo baseado na consciência do absurdo da condição humana. Para Camus, a resposta ao absurdo é a revolta, que leva à ação e dá sentido ao mundo e à existência. Esta obra foi considerada um dos melhores romances europeus do período pós-guerra. Em 1957, Camus foi consagrado com o Prémio Nobel da Literatura. Orão, uma cidade real da Argélia onde, ao longo da história se registaram vários episódios de peste e epidemias, foi o cenário escolhido por Albert Camus para, em 1947, escrever aquela que muitos consideraram ser a sua obra-prima. Esta integra o chamado Ciclo da Revolta, juntamente com os romances O Homem Revoltado e Os Justos. A história inicia-se a 16 de abril do ano de 1940, em Orão, cidade situada de frente para o Mar Mediterrâneo. Tudo levava a crer que se tratava de um dia normal, até um rato sair das sombras e vir a morrer ensanguentado numa rua primaveril. Pensou-se que era artimanha de adolescentes ociosos, até que dezenas, centenas e, depois, milhares de ratos juncaram a cidade quase indiferente. Este é o primeiro sinal de uma epidemia de peste que, em breve, tomará conta da cidade. No entanto, só quando ocorreu a primeira morte humana é que o médico Bernard Rieux, personagem principal desta obra, teve coragem de pronunciar a palavra “Peste”, mas já era tarde demais. Sujeita a quarentena, Orão torna-se um território irrespirável e os seus habitantes são conduzidos até estados de sofrimento, de loucura, mas também de compaixão de proporções desmedidas. O narrador, aparentemente exterior aos factos, vai elegendo algumas personagens como emblemas dos seus impasses morais, conferindo um andamento mitológico a este romance. Descreve como reage a população, indo da apatia à ação e como alguns se expõem ao risco para enfrentar a disseminação da peste. É evidente o sofrimento da população ao longo do processo, tanto pelas mortes como pela quarentena na cidade. Esta traduziu-se numa fase difícil para todos os moradores, pois viviam tristes e indolentes, separados dos entes queridos e tendo a convicção de que eram prisioneiros, uma vez que até o envio de cartas foi proibido por ser um possível meio de transmissão da doença. No entanto, há quem se aproveite desta situação; um desses exemplos é o desenvolvimento de um mercado paralelo de produtos. Liderando a comunidade médica, Rieux vê-se em conflito não só com colegas, mas também com instituições da cidade, tendo de lidar com um governo burocrático, representado pelo Prefeito e pelo magistrado Othon, e com a fé religiosa, simbolizada pelo padre Paneloux. Num primeiro momento, as autoridades hesitam em aceitar a doença. Essa imagem do indivíduo infetado ao invés da comunidade coletiva infetada permite que as autoridades municipais desconsiderem o problema crescente, uma vez que, “desde que cada médico tenha encontrado apenas dois ou três casos, ninguém havia pensado em tomar ação”. O principal objetivo do Prefeito focava-se em impedir o reconhecimento formal da praga, ao invés de se preocupar com a segurança da sua população. Enquanto os médicos debatiam o possível diagnóstico daquela situação, “o Prefeito, estremeceu e voltou-se maquinalmente para a porta, como para verificar se ela tinha impedido aquela enormidade de se espalhar pelos corredores”. Apesar de cético em relação a este surto, até o Dr. Richard afirma que deviam ser implementadas “medidas de profilaxia previstas na lei”, se a situação não se resolvesse. Tal como o Prefeito, também a população de Orão evita reconhecer a praga, até que esta dura realidade não possa mais ser negada. Na visão do narrador, os indivíduos, incluindo os médicos, deveriam agir em prol dum bem comum, dado que a inação resultaria apenas da ignorância dos mesmos. “Os que se dedicaram às formações sanitárias não tiveram grande mérito em fazê-lo, pois sabiam que era a única coisa a fazer e, pelo contrário, não se decidirem é que teria sido inacreditável”. Enquanto o Dr. Rieux luta com toda a sua força contra o mal, recusando qualquer justificação metafísica para a calamidade, o padre Paneloux vê na praga uma maldição divina, uma punição pelos pecados humanos. No decurso do seu primeiro sermão, Paneloux recorre à peste para repescar a fé dos habitantes de Orão, afirmando que só o arrependimento pode redimir o género humano. O jesuíta Paneloux interpreta a pandemia como uma merecida maldição punitiva coletiva sobre os oranenses, da qual ele se exclui: “Meus irmãos, a desgraça caiu sobre vós; mereceste-la, meus irmãos”. Na Bíblia, a peste constitui um símbolo de punição divina. À medida que a narrativa prossegue, a agonia dos seres humanos e, sobretudo, a morte de uma criança começam a abalar Paneloux, que perde a sua ênfase oratória, começando com mea culpa, e passando de «vós» para «nós». Também Rieux é afetado pela morte desta criança, filho do juiz Othon: “e hei de recusar até à morte amar esta criação em que as crianças são torturadas”. É através de Rieux que testemunhamos o avanço da epidemia, sendo este o elemento que alista as brigadas sanitárias. Todos os homens válidos serviriam para ajudar a combater a peste. A Prefeitura decidira afastar os parentes dos enterros, dada a falta de caixões e de panos para mortalha. As covas eram feitas de forma que homens e mulheres fossem enterrados sem nenhuma distinção, sendo cobertos de cal e de terra, deixando espaço para corpos futuros. Tal deixava as famílias tristes e ofendidas. Em dezembro, sinais de melhoria começaram a aparecer. A peste perdia a sua força com rapidez e a doença tinha partido tal como tinha chegado, misteriosa e silenciosa. O narrador finaliza a obra afirmando que a peste não morre nem desaparece, simplesmente adormece, esperando pacientemente que chegue o dia em que acordará os ratos e os mandará morrer numa cidade feliz. Autoria Sandra Cabral Edição Filipa Gomes Nicolau Sevcenko São Paulo, Cosac Naify, 2010 144 p., Paperback R$16,99 ISBN: 978-85750-3868-0 Resumo Enquanto decorre aquela que possivelmente é a maior campanha de vacinação da história, na corrida para a imunização de toda a população mundial contra o SARS-CoV-2, é útil remontar a 1904 e recordar como outra campanha de vacinação, desta contra a varíola no Rio de Janeiro, conduziu à então batizada "Revolta da Vacina". Escrito pelo historiador Nicolau Sevcenko, o livro apresenta um relato breve, completo e acutilante da complexidade de fatores que dominavam o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, nos anos que se sucederam à implantação da República (1889) e abolição da escravatura (1888). Culminar dramático da convulsão social vivida, e em especial da radical política de saneamento do jovem Dr. Oswaldo Cruz, a imposição da vacina obrigatória contra a varíola foi o gatilho que disparou a maior revolta urbana verificada no Rio de Janeiro, deixando um saldo oficial de 30 mortos, 110 feridos, 945 detidos e 461 deportados. Impregnado da própria subjetividade crítica do autor, o livro vai além do estéril relato histórico, sendo fértil em lançar a discussão não só sobre os métodos de implementação de medidas em saúde pública, mas principalmente sobre o seu fim e reais beneficiários. A Revolta A Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes, organiza-se num jogo cronológico distribuído em 4 capítulos curtos e concisos: o autor começa por descrever a revolta em si, logo recua para analisar a conjuntura e os processos de segregação envolvidos, e, por fim, dedica-se à repressão consequente. O foco do livro não é, afinal, apenas a revolta, mas o seu conglomerado significante. Partindo precisamente da aprovação, a 31 de outubro de 1904, da "lei da vacina obrigatória" contra a varíola, descreve-se o desenrolar de eventos que culminaram na violenta sublevação, terminada apenas a 16 de novembro do mesmo ano com a revogação da obrigatoriedade vacinal. Deste momento intenso, Sevcenko destaca dois eixos de análise essenciais: o do debate meramente sanitário e o da tentativa de apropriação política dos eventos. No primeiro, a visão governista, sob a efígie de Oswaldo Cruz, chamava-a de "humana lei", e querendo seguir exemplos europeus impunha a obrigatoriedade da vacina. Contudo, como sublinha o autor, a "insensibilidade política e tecnocrática" descurou a preparação psicológica da população, "da qual só se exigia a submissão incondicional". A oposição foi veemente na sua reprovação da lei, elencando-se razões de quatro ordens: 1) históricas, pelas marcas negativas do racismo institucional e das anteriores campanhas de vacinação contra a febre amarela, onde os recursos eram tão parcos que a inoculação nas populações mais pobres chegou a usar cacos de vidro para escarificação, provocando sérias infeções e dor nos vacinados e gerando uma vacinofobia latente; 2) liberais, advogando que tal medida atentava contra a liberdade de consciência da população; 3) morais, por conceder aos médicos de saúde pública o poder indiscriminado de atestar as marcas de vacinação nos braços e coxas, então partes íntimas, de mulheres e crianças. 4) anti-científicas, com insólita mobilização de figuras médicas de prestígio que na praça pública expunham dúvidas insustendadas sobre a validade das vacinas. O segundo eixo, já em pleno desenrolar dos acontecimentos, parte dos fatores que levaram à mobilização social. O texto foca em particular a Liga contra a Vacinação Obrigatória, organização criada dias antes da publicação do regulamento vacinal e liderada por elementos do Centro da Classes Operárias, que viu na vacina obrigatória um meio de catapultar as suas próprias ambições políticas e contestar o modelo político vigente. Servindo-se dos meios estruturais e propagandísticos do Centro, foi a principal impulsionadora dos comícios que levaram milhares às ruas, inflamando os amotinados e desencadeando a violenta repressão das forças policiais. É, no entanto, reveladora a sua incapacidade de organizar a turbulência que desencadeara, acabando por dissolver-se, completamente apoderada pelas massas sociais e pelas sublevações dos bairros periféricos. Este foi um momentum aproveitado ainda por outros grupos, incluindo uma ala subversiva do exército que, vendo na brecha de segurança a oportunidade para um golpe de estado já planeado, acrescentou ao conflito popular um embate das forças armadas. Figura 1. Fotografia tirada na manifestação de 3 de julho de 2021 na Avenida Paulista. Autor desconhecido. Contrariando a tese de um acontecimento isolado, causada "somente pela apreensão de uns e a estupidez de outros", é na análise das "conjunturas sombrias" que o livro traça a sua mais valiosa contribuição. O autor analisa, assim, este processo, na transição para o século XX, de galopante endividamento, abertura aos mercados externos e captação de imigrantes europeus, ao mesmo tempo que se gerava uma profunda crise económica e social. É aqui que o porto e a cidade do Rio de Janeiro surgem na narrativa. Se assumidamente estratégica enquanto porta de entrada, Sevcenko relembra como a capital era à época foco endémico de múltiplas doenças, fazendo valer à cidade a alcunha internacional de "túmulo de estrangeiros". Efetivamente, é bem descrito o quão a situação no Rio replicava aquilo que se sentia em muitas cidades globais, primeiro passo no nascimento das grandes urbes. Com o afluxo migratório das regiões rurais empobrecidas, escravizados libertos que procuravam oportunidades e crescente imigração, a população urbana crescia contra os limites da cidade. À medida que a densidade populacional aumentava, aumentavam as questões sanitárias, aliadas à pobreza, desigualdades e instabilidade social. Tal como em Paris no final do séc. XIX, o centro histórico passou a constituir uma ameaça sanitária e social à estabilidade do Estado. Podemos associar aqui outra análise, a de Mike Davis, que desenha um Haussmann dos Trópicos (1) - um cego arrasamento do antigo centro, progressivamente expulsando os pobres e indigentes para os morros e periferia da cidade e forçando a habitação precária e inflacionada, formando as primeiras favelas. Este entrançar compreensivo entre as políticas de Estado e a Saúde Pública torna-se, portanto, indissociável do relato dos acontecimentos, bem como os traços perversos que opõem a ideia de um progresso civilizacional à resistência popular. Se para as medidas estruturais, que envolviam a demolição de bairros inteiros para dar lugar a grandes avenidas, o prefeito Pereira Passos exigiu poderes absolutos, também os exigiu Oswaldo Cruz para levar a cabo a sua ambiciosa Reforma Sanitária. Sob a efígie do progresso e da higiene, milhares de famílias viram as suas casas arrasadas e os seus corpos invadidos, sem qualquer integração ou compensação. Ao longo do texto, Sevcenko torna inerente a questão sobre a quem serve uma estratégia sanitária que acarreta milhares de desalojados e vítimas, a quem pertence este "bem comum", suposto propósito maior tanto do Estado como da Saúde Pública. Figura 2. Tira de "O Malho" a 29 de outubro de 1904. Legenda: "Espetáculo breve nas ruas desta cidade. Oswaldo Cruz, o Napoleão de seringa e lanceta, à frente das suas forças obrigatórias, será recebido e manifestado com denodo pela população. O interessante dos combates deixará a perder de vista o das batalhas de flores e o da guerra russo-japoneza. E veremos no fim da festa quem será o vaccinador à força!..."
Inevitavelmente, o pendor foucaultiano é claro na análise de contexto. Tal como o "Grande Confinamento" (2) que, na Europa clássica, encarcerou loucos e indigentes longe dos olhos da cidade, também no Rio que nos é descrito a "imagem da grade é fundamental", tanto através da ampliação e modernização de presídios, manicómios e hospitais, como dos próprios espaços públicos da cidade. A afirmação de que "a Regeneração significou um processo tétrico de segregação" faz ecoar Gita Verma quando diz que "a causa básica da favelização urbana parece ser não a pobreza urbana, mas a riqueza urbana" (3). O biopoder e a biopolítica*, que através do controlo e higienização dos corpos impõe as suas próprias narrativas, surgem óbvios aqui na divisão entre corpos sãos e doentes, corpos ameaça e corpos ameaçados. Não por acaso se inverte a expectável adjetivação no subtítulo "Mentes Insanas em Corpos Rebeldes". Num mesmo processo violento, a intimidade dos corpos é sujeita em paralelo à cicatriz da vacina, do açoite e da tortura. Estas marcas viriam a tornar-se símbolo de corpos domesticados à luz de uma sociedade que, acabada de libertar-se da escravatura, desenhava uma "democratização da Senzala". Longe de Paris, Sevcenko deixa patente que, nos trópicos, o barão Haussmann é estruturalmente colonial. É fácil cair no cliché e recordar a circularidade da história num livro que, relatando um evento já centenário, continua tão atual. Em plena crise pandémica, ler A Revolta da Vacina remonta perigosamente a uma análise dos nossos próprios tempos - nele repetem-se os mesmos atores, os mesmos erros e as mesmas respostas. Em primeiro lugar, a insensibilidade social na adoção de medidas de controlo sanitário que, sem a devida mitigação, não só dificultam a adesão populacional, como agravam a crise da saúde mental (5). Por outro, a apropriação dos sentimentos de revolta e resistência popular pelas forças antidemocráticas, valendo-se do mesmo receio histórico (6), negacionismo científico (7), moralismo conservador e liberalismo radical (8,9). E, por fim, a geminiana relação entre poder e saúde pública onde os limites de uma e outra se diluem no desenho de projetos de Estado - ora promotores da morte no Brasil de Bolsonaro, ora de um autoritarismo produtivista na China de Xi Jinping, ora no amplo espectro observado em tempo real por todo o mundo. Escapando, contudo, desse ciclo sem fim, parece-nos mais útil olhar o livro de Sevcenko numa ótica benjaminiana - onde "a cadeia de factos que aparece diante dos seus olhos é para ele [o anjo da história] uma catástrofe sem fim, que incessantemente acumula ruínas sobre ruínas e lhas lança aos pés" (10). No meio desse vendaval a que Benjamin chama de progresso, o que "A Revolta da Vacina" faz é justamente "acordar os mortos e juntar os fragmentos", visibilizando esses corpos e ruínas deixadas para trás de forma que a sua história também possa construir futuro. É também nesta ótica que nos podemos lançar a compreender as obscuras redes de desinformação, os processos de segregação implicados na aparente justa implementação do passaporte sanitário, ou observar a inversão da opressão de uma população brasileira que, 100 anos depois de esmagada pelo sanitarismo excessivo, se revolta agora pelo direito à saúde. Ressoando a retórica amplamente difundida pelas instituições globais, tanto na distribuição de vacinas como na restante diplomacia geopolítica, ignorar as camadas pobres da sociedade e os países de baixa renda significa não só prolongar indefinidamente a crise pandémica como representa "uma crise moral catastrófica" (11). Se a COVID-19 pôs a nu as desigualdades dentro e fora de fronteiras, este livro mostra-nos que, se a saúde pública pretende zelar pela vida e saúde como "bem comum", cabe-lhe então saber priorizar, visibilizar, e compreender a população de quem deve cuidar. * Biopoder e biopolítica são conceitos introduzidos por Michel Foucault e característicos do seu pensamento. Enquanto o primeiro remonta ao séc. XVII e ao controlo individual para a produção de corpos economicamente ativos, o segundo desenvolve-se a partir do séc. XVIII com o controlo da população como um todo. "Se o desenvolvimento dos aparelhos de Estado garantiu a manutenção das relações de produção, os rudimentos de anátomo e de biopolítica (...) operam, também, como fatores de segregação e hierarquização social, agindo sobre as forças respetivas tanto de uns como de outros, garantindo relações de dominação e efeitos de hegemonia" (4) A Revolta da Vacina: Mentes insanas em corpos rebeldes, de Nicolau Sevcenko, foi publicado pela primeira vez em 1984 pela Brasiliense e ganhou segunda edição, aumentada e acrescida de ilustrações, em 1993 pela Scipione, depois reeditada em 2010 pela Cosac Naify (edição utilizada neste texto) e desde 2018 distribuída pela Editora UNESP. Em Portugal pode encontrar-se na Livraria da Travessa, em Lisboa. Autoria Guilherme Queiroz Revisão Filipa Gomes Referências bibliográficas 1. Davis, M. Planeta Favela. São Paulo: Boi Tempo; 2006. 2. Foucault M. Madness and Civilization: A History of Insanity in the Age of Reason. New York: Vintage Books: Randowm House Inc.; 1972. 277 p. 3. Verma GD. Slumminng India. London: Penguin Books; 2002. 4. Foucault M. História da Sexualidade Vol. 1: A Vontade de Saber. Lisboa: Relógio d’Água; 1976. 5. Almeida TC de, Heitor MJ, Santos O, Costa A, Virgolino A, Rasga C, et al. Saúde mental em tempos de pandemia - SM-COVID-19: relatório final [Internet]. Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, IP; 2020 Out [citado 25 de Janeiro de 2021] p. 1–222. Disponível em: http://repositorio.insa.pt/handle/10400.18/7245 6. Schraer R. Covid: Black leaders fear racist past feeds mistrust in vaccine. BBC [Internet]. 6 de Maio de 2021; Disponível em: https://www.bbc.com/news/health-56813982 7. Shackle S. Among the Covid sceptics: ‘We are being manipulated, without a shadow of a doubt’. The Guardian UK [Internet]. 8 de Abril de 2021; Disponível em: www.theguardian.com/news/2021/apr/08/among-covid-sceptics-we-are-being-manipulated-antilockdown 8. LUSA. DGS deu parecer desfavorável ao arraial da Iniciativa Liberal em Santos. Mas houve Festa. [Internet]. TVI24; 2021. Disponível em: tvi24.iol.pt/politica/arraial-liberal/dgs-da-parecer-desfavoravel-a-arraial-da-iniciativa-liberal-em-santos 9. Correspondent EC CNN Senior Medical. CDC facing formidable challenges in convincing conservatives to get Covid-19 vaccines [Internet]. CNN. 2021 [citado 29 de Junho de 2021]. Disponível em: https://www.cnn.com/2021/05/14/health/cdc-conservative-vaccine-hesitancy/index.html 10. Benjamin W. O Anjo da História. Lisboa: Assírio e Alvim; 2017. 11. Ghebreyesus TA. WHO Director-General’s opening remarks. Em 2021. Disponível em: www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-148th -session-of-the-executive-board Authors: Barbara Rylko-Bauer, Linda Witheford, Paul Farmer, Philippe Bourgois, Didier Fassin, H.K. Haggenhougen, Carolyn Nordstrom, James Quesada, Merril Singer Editors: Barbara Rylko-Bauer, Linda Witheford and Paul Farmer Santa Fe, United States of America, SAR Press, 2009 304 p, Paperback EUR 28.12 ISBN: 978-19346-9114-4 Global Health In Times of Violence, written in 2009, is a book edited by Barbara Rylko-Bauer, Linda Witheford and Paul Farmer. Its eleven chapters revolve around the impacts of different types of violence in population development and health, resulting from a combination of powerful ethnographic studies from renown anthropologists. It takes us on a journey around the world and shows us that violence can be everywhere, even if we do not recognize it. The first chapter, written by the book editors, is named “Prologue: Coming to Terms with Global Violence and Health”, and addresses violence, its manifestations, causes and consequences. It concerns the normalization of violence and its nefarious consequences, particularly on the poorest and marginalized people, and states the importance of increasing violence visibility as a mean to fight against it. It recognizes violence as a global health problem and reinforces the importance of health care in mitigating suffering. In chapter three, “Landmine Boy and the Tomorrow of Violence”, Paul Farmer presents the story of two Rwandan boys picked by a landmine while farming cows, in 2006. Although they did not die, they were severely injured. This story exemplifies how the violence from the past echoes in the future – the landmine, and the poverty that leads those two boys to work instead of going to school, are direct consequences of past violence, and are themselves violence. But the author goes far beyond and unveils all that lead to this unfortunate incident in 2006. This narrative begins with the Belgian colonization of Rwanda and the segregation of Hutus promoted by the colonizers, followed then by the independence of Rwanda and the interference by the French in Rwandan internal affairs. Hate and conflict escalated between Hutus and Tutsis, leading to the Rwandan genocide in 1994 which had grievous consequences, such as suffering, death, poverty and mental illness. The writer also explores the weapon responsible for mutilating these kids – the landmine, designed to look like a toy - and other warlike artifacts. The profits of selling them make wars appetizing for many countries and nearly impossible to end. Chapter five, “Failure to Protect, Failure to Provide: Refugee Reproductive Rights”, by Linda Whiteford, is a raw portrait of the failure to protect women’s rights in refugee camps. It tell us about the normalization of rape in these places and the stigma that women carry after being raped (many are shamed and ignored by camp administrators and even by their own families). It also describes the lack of protection of women’s health – the inexistence of emergency contraception or abortive pills for these women, and the absence of health care, which leads to the spread of sexually transmitted infections. In addition, this chapter focus on the intricate network of refugee camps funding, giving the example of the USA conservative policy and the cutting of funding to refugee camps that provided emergency contraceptives to women. In chapter ten, “Medicine in the Political Economy of Brutality: Reflections from the Holocaust and Beyond”, Barbara Rylko-Bauer reports the major role of Nazi doctors in supporting the ideologic regime brutality against Jewish, Gypsy and other ethnicities, considered by them as inferior, with pseudoscientific facts and heinous acts such as involuntary mass sterilization, scientific experiments, the murder of the mentally and physically disabled and the collaboration in concentration camps, namely in gas chamber’s killings. The author made a parallel between these doctors and her mother, a Polish medical doctor and prisoner that worked in concentration camps hospitals. She describes her mother’s struggle to survive and to give a proper treatment for those in need, in spite of the hospital’s terrible conditions – the lack of space and hygiene, often with more than one patient per bed and the shortage of healthcare staff and medicines available – and the impotence and guilt she felt by not being able to perform her medical duty. This chapter also compares Nazi doctors and the USA military doctors and the psychologists responsible for the torture and death of war prisoners, stating that, even though seventy years had gone by since World War II, the Hippocratic oath continued to be broken, and atrocities were still being perpetrated by the ones who had vowed to protect the health and wellbeing of their patients. In the last chapter, “Epilogue: Global Health in Times of Violence – Finding Hope”, editors state that, although we are surrounded by violence, there is still hope for a better world and emphasize that the first step is to acknowledge and expose that violence is present in our daily life. They advocate for the victim’s rights, not forgetting that many times the perpetrator is also a victim. In conclusion, Global Health in Times of Violence shows the importance of narrative and ethnographic studies in the understanding of the phenomenon of violence, its manifestations, causes, and consequences. At the same time, it humanizes the thematic, making it easier for the message to reach the audience. The main message of this book is that violence is a global health problem, ubiquitous, most of the time unrecognized. It is up to us, health professionals in particular, to recognize and expose violent patterns, advocate for victim’s rights and in, in this way, improve populations’ health. Autoria Joana Carvalho Edição Filipa Gomes Joseph E. Stiglitz New York, W. W. Norton & Company, 2013 560p, Paperback CHF: 15,22/ EUR:14.25/ USD: 14.62 ISBN: 9780393345063 Born in Gary, Indiana in 1943, Joseph E. Stiglitz is an American economist and professor at Columbia University. He was awarded the 2001 Nobel Prize in Economic Sciences for his analyses of markets with asymmetric information. His work focuses on income distribution, risk, corporate governance, public policy, macroeconomics and globalization. He is author of several books, one of them being The Price of Inequality (1). This book’s central thesis is that inequality is not inevitable, and we are paying a huge price for its existence. Not only the economy but also the society as a whole suffers its effects. In each chapter of the book, several misconceptions are evaluated and deconstructed; possible solutions are presented for each of them. One of the main ideas present in this book is that inequality varies between different countries. The Gini coefficient is a standard measure of inequality that can be useful to compare countries. If income were equally distributed to all, the Gini coefficient would be 0, which means absolute equality. On the contrary, if all the income were delivered to a single person, the Gini coefficient would be 1, which means maximum inequality. According to this measure, countries such as Sweden, Norway and Germany, with a coefficient around 0.3, may be considered more equal societies, when compared to the United States of America (US), which has a coefficient of approximately 0.4. Furthermore, and according to data from the World Bank, the US’ Gini index has increased from 0.403 in 2010 to 0.414 in 2016 (2). Conversely, Portugal’s Gini index decreased from 0.358 in 2010 to 0.338 in 2016 (2) Another of the myths that is deconstructed is that someone’s income is proportional to the value delivered to society. As the author explains, the richest individuals in American society are not scientists, for example, but people that know how the economy works and that take advantage from the loopholes in the system, such as CEOs of big companies or people who work in the financial sector, for example. Another idea explained is that the trickle-down economics, by reducing taxation at the top is, in the long run, bad for the economy, creating a snowball effect that can end up with an economic recession. In addition, the fact that the world is a global market means that anyone in any country is “competing” with other professionals in other countries. Those professionals can be hired for jobs at a lower cost than professionals from the same country. This devaluates the job and, consequently, reduces those professionals’ wages. Therefore, it seems that “The rich are getting richer and the poor are getting poorer”. Why does inequality tend to persist? The 1% top of society’s influence on policymakers and on the public perception about their activities may play an important role. Good legislation may have the power to prevent the generation of monopolies. The creation of monopolies hinders competitiveness, making the market not working as it should. Therefore, it is important to create laws which promote competitiveness in the market, political reforms, financial regulation, social legislation and better education, reducing inequality. Autoria Nuno Do Amparo Edição Filipa Gomes References 1. Columbia University 2020, accessed 17 June 2020, https://www8.gsb.columbia.edu/faculty/jstiglitz/bio 2. The World Bank 2020, accessed 28 June 2020, https://data.worldbank.org/indicator/SI.POV.GINI?end=2016&locations=US&start=2016&view=bar |
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