12/9/2023 0 Comentários Uma História da Saúde Pública“Ao longo da história humana, os maiores problemas de saúde que os homens enfrentaram sempre estiveram relacionados com a natureza da vida em comunidade.” “Uma História de Saúde Pública”, de George Rosen, é o livro de referência na área da educação em Saúde Pública americana. Este foi escrito no final da década de 1950 e descreve todos os grandes acontecimentos que contribuíram para o desenvolvimento da saúde pública. Trata-se de uma viagem no tempo, descrevendo acontecimentos desde a antiguidade clássica até ao século XX e dando especial ênfase ao desenvolvimento da medicina no Ocidente.
Rosen inicia esta obra com algumas observações sobre as civilizações antigas, salientando as preocupações básicas da higiene, sustentadas por evidências arqueológicas. O naturalismo da medicina hipocrática é amplamente considerado como o primeiro passo em direção ao empirismo, mas a apreciação de Rosen é substantiva: a observação sistemática das condições agroclimáticas permitiu aos médicos gregos discernir entre doenças endémicas e epidémicas, identificar padrões de incidência sazonal e estabelecer correlações entre lagos, ou pântanos, e malária. A evolução do conhecimento influenciou decisivamente as estratégias utilizadas na agricultura (um exemplo foi o estabelecimento da hipótese do contágio entre animais). Roma beneficiou do conhecimento grego, mas fomentou a inovação com a criação de locais especializados dedicados aos aquedutos, esgotos e banhos públicos nos principais centros urbanos. Com a crescente reorganização das cidades e a implementação de restrições de abastecimento, transformaram os médicos de itinerantes em profissionais fixos em cada cidade. Com a queda do império Romano, os mosteiros tornaram-se as únicas organizações que desenvolviam soluções para os problemas de saúde comunitários. A partir do século XIII, os municípios passaram a assumir as funções da saúde pública, restringindo a criação urbana de gado, regulamentando os mercados alimentares e pavimentando e limpando as ruas. A peste trouxe outra mudança importante – o estabelecimento da quarentena. Rapidamente emergiu a ideia de urgência na assistência em caso de doença ou infortúnio, tanto no Oriente, islâmico, quanto no Ocidente, cristão. Falando em religiões, é de realçar que motivos religiosos e sociais foram muito importantes na criação de Hospitais. No Oriente, em 805, o primeiro hospital geral tinha sido construído em Bagdá, durante o reinado do califa Harun al-Rashid. Ao longo do século, construiu-se um total de 34 hospitais, refletindo o elevado nível da medicina em terras muçulmanas. No Ocidente, os hospitais surgiram ligados à igreja, nas ordens monásticas. Os mosteiros possuíam um infirmitorium – lugar de tratamento – uma farmácia e uma horta de plantas medicinais. Apenas a partir do século XIII o hospital medieval começou a sair das mãos dos religiosos para pertencer aos municípios, porém sem a completa substituição do clero. Monges e freiras, cujo salário era pago pelo município, continuaram a cuidar dos doentes. Os estados mercantilistas rapidamente conceberam a saúde da população como riqueza nacional e começaram a contabilizar a mesma através da recolha de estatísticas de vida. A evolução da saúde populacional beneficiou de outros dois grandes marcos: a mudança no abastecimento de água urbana das fontes públicas para a distribuição privada no interior e a adoção da inoculação – a precursora da vacinação. O livro culmina na análise do movimento sanitário que percorreu a Europa e os EUA em meados do século XIX – explicando as bases dos modernos sistemas de saúde pública e a sua ligação ao capitalismo. Explora a exigência de uma reforma sanitária profunda – no abastecimento de água, saneamento, habitação e legislação fabril. Aborda a migração do meio rural para o urbano, impulsionada pela industrialização, que sobrecarregou os sistemas de saúde pública tradicionais, levando a uma deterioração acentuada da saúde urbana. As famílias burguesas fugiram dos centros das cidades, apenas para perceber que o tifo e a cólera corriam ainda mais rapidamente. Os dois últimos capítulos são dedicados ao fim do século XIX, à “era bacteriológica” e às suas consequências, incluindo a descoberta de micróbios e vetores, a pasteurização e a melhoria significativa da saúde pública. Deixa ainda reflexões sobre a saúde infantil, nutrição, educação em saúde, saúde ocupacional, seguros e a necessidade de cooperação internacional - temas cuja crítica permanece atual. Autoria Edição Teresa Carvalho Revisão Mariana Cardoso
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