29/9/2023 0 Comentários CARINA SILVA @ Projeto IMAGINE Bissau (Infant Malnutrition and Anemia in GuINE Bissau) - 2023Nome Carina Castro Silva, 3º ano Experiência Projeto IMAGINE Bissau (InfantMalnutritionandAnemia in GuINE Bissau), inserido no Estágio de Investigação. O que te motivou a desenvolver o teu próprio projeto? Nos últimos 16 anos, tentei sempre realizar projetos em África, tanto em contexto de trabalho como de investigação, tendo passado por 5 países (Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Conacri). Assim, quando surgiu a oportunidade de conjugar um estágio do internato com um gosto pessoal, foi, sem dúvida, o mote para a criação do projeto IMAGINE Bissau. Durante o CESP, tentei perceber junto do Instituto de Higiene e Medicina Tropical se seria possível realizar uma investigação num dos países com quem já tinha relações interinstitucionais. E foi-me lançado o desafio de regressar à Guiné-Bissau. Houve parcerias com outras entidades/instituições? Havia oportunidade de financiamento? O início do meu estágio foi dedicado à realização de fundraising para o projeto. Infelizmente, após imensos e-mails e contactos na tentativa de desenvolver parcerias, nunca consegui uma resposta positiva. Acho que não obtive sucesso por se tratar de um projeto a ser executado num curto espaço de tempo e com um orçamento reduzido. Talvez não tenha aliciado os possíveis financiadores, que estão habituados a projetos com equipas e com períodos mais longos. Apesar desta dificuldade, consegui concretizar o projeto com a ajuda do IHMT, de uma empresa da indústria (Quilaban) que me cedeu um hemoglobinómetro portátil e algumas microcuvetes, de um crowdfunding, de apoio logístico por parte do Instituto Camões em Bissau e de algum investimento monetário pessoal. Em que consistia o projeto? Que atividades incluía? Quais foram as tuas funções? Sendo um projeto incluído no estágio de Investigação, como o nome refere, consiste na realização de uma investigação. Normalmente são utilizados dados secundários para a concretização da mesma, mas neste projeto, incidiu-se na colheita de dados primários, o que se tornou um dos seus grandes desafios. O objetivo principal do projeto era a determinação da prevalência dos vários tipos de malnutrição e anemia, em crianças dos 6 aos 59 meses, nas regiões de Gabu e Bafatá, e, posteriormente, a análise de possíveis relações com fatores sociodemográficos. Contudo, ao longo de toda a preparação, o projeto foi crescendo, e acabou por se tornar um projeto de âmbito nacional, com uma amostra de aproximadamente 1600 crianças, distribuídas pelas 11 regiões da Guiné-Bissau. Face aos objetivos expostos, foi criado um questionário que recolheu informações como: demografia, educação dos pais, parto, informações clínicas, aleitamento e alimentação nas últimas 24 horas, e condições de saneamento. Para além do questionário, as crianças foram avaliadas antropometricamente (peso, altura/estatura); foi-lhes medido o perímetro braquial e a concentração da hemoglobina - recorrendo ao uso de um hemoglobinómetro portátil. Todo este processo decorreu entre os meses de junho e julho de 2023, durante os quais fiz, sozinha, toda a colheita de dados. Consegui avaliar 1608 crianças e percorri várias áreas sanitárias de todas as regiões da Guiné-Bissau. Como funciona o sistema de saúde no país? Que dificuldades existem? Qual é a tua perspetiva em relação aos serviços de saúde? O sistema de saúde da Guiné tem imensas limitações. Sendo um país de baixo rendimento, tem as suas dificuldades, necessitando de ajuda internacional para poder ultrapassá-las. Existe um hospital central, com carências a todos os níveis - por vezes duras de observar. É frequente os profissionais de saúde não receberem há meses e, quando estive em Bissau em fevereiro, mais de 1000 profissionais tinham sido despedidos por incapacidade, por parte do governo, de pagar o seu salário. Isto leva a que haja muito pouco acompanhamento dos doentes, tanto agudos como crónicos, agravando a situação de saúde de todos os guineenses. As principais causas de morte ainda continuam a ser as doenças infetocontagiosas - como a diarreia, infeções respiratórias e HIV - e, adicionalmente, as doenças crónicas, como as doenças cardiovasculares. Depois de percorrer quase todos os cantos da Guiné, a minha perspetiva do que pode melhorar os serviços de saúde é a aposta na educação e investimento na organização e planeamento dos serviços de saúde. Foi impactante, para mim, perceber que, num país com cerca de 2 milhões de pessoas, uma percentagem considerável nunca foi à escola. Há tabancas (aldeias) em que quase nenhum dos pais das crianças que avaliei tinha ido um único dia à escola. Como poderemos dar informações e esperar que estas sejam recebidas e interpretadas sem educação? Para um tratamento efetivo, para além de um bom sistema de saúde, precisamos de utentes que entendam a mensagem. Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as maiores aprendizagens? Apesar de já ter tido muitas experiências a este nível, todas acabam por ser únicas e ricas em muitos aspetos. Confesso que esta foi, deveras, a mais intensa fisicamente. Percorrer estradas todos os dias - várias delas sem qualquer semelhança com as nossas, onde o alcatrão é escasso, ou não existe, e onde os buracos são predominantes - levava, ao fim de uns quilómetros, à sensação de ter feito um passeio de barco com muita turbulência ou de ter sido “agredida” por alguém, tal era a dor de costas com que se ficava. Por outro lado, ver criança a criança - por vezes com ajuda, outras vezes sem ninguém para me auxiliar - fez com que, em certos dias, após cerca de 100 crianças avaliadas, dissesse que não conseguia mais, por já estar noite cerrada, por já estar de lanterna na cabeça e por não ter comido nada desde o pequeno-almoço (um pão e um café). Muitas vezes, dormia onde calhava, mas, em parte, tive a sorte de ser acolhida em alguns locais por congregações religiosas, que, à parte da religião, faziam-me companhia no final do dia e partilhavam comigo a experiência de quem está no terreno há mais de 30 anos - sem falar da boa comida que me “obrigavam” a comer. Foram, sem dúvida, dias muito intensos que, mais uma vez, me fizeram crescer pessoalmente e profissionalmente. Foi o despertar da minha resiliência, que achava que não “esticava” mais, ao ver e aprender com a resiliência de colegas que trabalhavam sem condições, ou de populações que lutavam todos os dias para ter alimento. Foi relembrar que, às vezes, com pouco se faz muito e que é apenas necessária vontade. Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde desenvolveste o projeto? O que achaste do país/cidade/local/organização? Por coincidência, consegui cruzar-me com dois colegas de saúde pública, um especialista que foi trabalhar para a Cooperação Portuguesa e outro colega que suspendeu o internato para trabalhar nas Nações Unidas. Além disso, como é um país com uma forte presença de ONGs e Cooperações, temos a oportunidade de conhecer vários profissionais, mesmo fora da área da saúde. Apesar de ter uma “base” na capital, Bissau, acabei por passar lá sempre “de fugida” aos fins de semana ou quando passava entre regiões. Sinto que não aproveitei o país ou os locais por onde passei, pois os dias estavam contados e dedicava sempre um dia a um sector ou, às vezes, dois. O que mais te marcou nesta experiência? Tenho alguma dificuldade em conseguir ser objetiva nesta resposta. Há ainda muita coisa que precisa de ser mudada na Guiné-Bissau e torna-se quase uma frustração pessoal ver a potencialidade de um país não ser aproveitada. São 50 anos de independência, outros tantos de cooperação internacional, que acabam por não confluir numa sustentabilidade de crescimento e melhoria da qualidade de vida dos guineenses. Perceber que ainda há pessoas sem educação, que passam fome, que morrem sem apoio, é um tanto difícil. Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? Por mais espetacular e intensa que tenha sido a experiência, honestamente, não a aconselharia nos moldes em que a realizei. Se gostarem de aventura, incerteza e, por vezes, alguma insegurança, até pode ser interessante. Contudo, sugiro fazerem este tipo de experiências integrados em projetos já implementados ou com uma estrutura já montada no país. Sozinhos num projeto desta dimensão e sem experiência prévia, tornar-se-á um desafio difícil de ultrapassar.
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4/7/2023 0 Comentários Guilherme Queiroz @ Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Manaus, Brasil - 2023Nome Guilherme Queiroz Experiência/Estágio Estágio Opcional na Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Manaus, Brasil Como soubeste da existência desta oportunidade?
Já há algum tempo que queria trabalhar em doenças transmitidas por mosquitos, e de ter contacto com a Saúde Pública brasileira. Acionei a minha rede de contactos e fui aconselhado a falar com o Dr. Marcus Vinicius de Lacerda, infecciologista da Fundação de Medicina Tropical (FMT) de Manaus, que acabou por ser o meu responsável de estágio. Já na FMT acabei por ser direcionado para a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS), onde passei a maioria do tempo. Como foi o processo de candidatura? Havia oportunidade de financiamento? Entrei em contacto direto com o Dr. Marcus Vinicius, que me passou aos serviços académicos da FMT. O exigido, além do cartão da Ordem dos Médicos, era a vacinação para a febre amarela e um seguro de viagem. Consegui financiamento do Fundo de Formação do Sindicato Independente dos Médicos. Em que consiste o projeto? Que atividades inclui? Quais são as tuas funções? Durante os 3 meses de estágio acompanhei as atividades da FVS nos seus diversos departamentos. O grande foco da minha atividade foi a Divisão de Vigilância Ambiental, onde estavam as equipas de malária e arboviroses. Com elas pude acompanhar os processos de vigilância e monitorização dos dados epidemiológicos do Estado e algumas atividades de planeamento. Tive também oportunidade de viajar com a FVS para Humaitá, no Sul do estado, para participar, durante uma semana, numa intervenção num surto de Dengue e Oropouche, que incluiu formação de equipas técnicas e clínicas e ações de controlo vetorial no terreno. Pude ainda viajar até São Gabriel da Cachoeira, no Noroeste do Estado, 900 km acima de Manaus, subindo o Rio Negro. Aí trabalhei durante duas semanas com o apoiador municipal de malária e com o Distrito Sanitário Indígena do Alto Rio Negro, trabalhando diretamente nas atividades de terreno de assistência à saúde indígena na região periurbana do Parawarí, em comunidades maioritariamente da etnia Hupda. Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as maiores aprendizagens? Este estágio foi uma experiência profundamente enriquecedora do ponto de vista profissional. Durante este período, tive um contacto contínuo e direto com profissionais altamente experientes e com a realidade epidemiológica das doenças transmitidas por vetores, incluíndo, para além de malária e arboviroses, doença de Chagas, leishmaniose e filariose. Compreendi vários aspetos do combate a estas doenças e aprendi estratégias específicas relacionadas com o contexto rural / urbano e com territórios como o gairmpo, a terra indígena e os assentamentos. Aprofundei ainda conhecimentos sobre a malária causada pelo Plasmodium vivax, que necessita de estratégias diferentes do falciparum. E por fim, compreendi um pouco do enorme contexto amazónico e dos desafios que impõe à Saúde Planetária. Conheci, com um pouco mais de detalhe, questões como as do desmatamento, grilagem, garimpo (mineração), tráfico humano e o ainda mantido genocídio dos povos indígenas. Consegui ainda perceber o impacto das alterações climáticas e políticas globais num ecossistema tão complexo. Tens tido oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde decorreu o evento? O que achaste do país/cidade/local/organização? A FMT e em particular a FVS apresentaram-se como exemplares na sua ação, dinamismo e abertura a ideias novas. Fui muito bem recebido por todas as equipas por onde passei. Apesar de o Amazonas ser um estado de enorme dimensão, o sentimento de preocupação com a descentralização e com a totalidade e diversidade do território amazonense vivido na FVS foi inspirador para um português, como eu, que frequentemente critica o centralismo de Lisboa. Além disso, a confiança que depositaram em mim, ao enviarem-me em missão um pouco mais de um mês depois de estar lá, demonstra que, de facto, têm abertura e capacidade para providenciar experiências formativas deste nível. O que mais te marcou nesta experiência? Sem dúvida o contacto com a saúde indígena e com etnias de recente contacto, como os Pirahã, os Hupda e os Yanomami. O modo de vida que levam, a diferente relação social e com a natureza e os desafios que enfrentam, na sua adaptação à civilização e à inerente devastação imposta pelo (neo)colonizador, foram inesquecíveis e levam-me a querer continuar a trabalhar nestas áreas. Que conselhos darias a outros internos que gostassem de ter uma experiência semelhante? Aconselharia a conhecerem bem a realidade do local para onde vão. Estudar bem a saúde brasileira, a Secretária da Saúde Indígena (SESAI) e as questões indígenas e relacionadas com a floresta é essencial, não só para não fazer “má figura”, como para aproveitar ao máximo o potencial desta oportunidade. Além disso, deixo sempre o conselho de não recusarem nada. Nestes contextos, as oportunidades surgem sempre… e só dá mesmo para descansar quando voltamos. Sites relevantes: Nome Inês Morais Vilaça Conferência/cidade/país Participação e Comunicação Oral no 17º Congresso Mundial de Saúde Pública (17th World Congress on Public Health) - Roma (Itália), 2023 Como tomaste conhecimento do congresso? Tomei conhecimento do congresso através de conversas com colegas durante o CESP. Posteriormente, também vi divulgações do evento nas redes sociais da Saúde+Pública e da ANMSP. O que te motivou a participares? Foram vários os motivos que me levaram a participar: em primeiro lugar, a vontade de trocar experiências com outros profissionais e conhecer a realidade da saúde pública de outros países; em segundo lugar, a vontade de ouvir conversas e discussões entre grandes investigadores e líderes envolvidos na política internacional. Tinha a certeza de que algumas das questões com as quais já me debatia, entre elas as razões pelas quais ser tão difícil encontrar soluções para os problemas da saúde pública, já teriam sido objeto de reflexão e discussão por estes especialistas, pelo que queria presenciar esta conversa para que, no futuro, possa talvez participar na resolução desses problemas. Outro dos motivos que me levou a participar foram os temas que seriam discutidos no congresso. Entre os vários temas, interessavam-me particularmente três: Saúde Planetária, Iniquidades e Inteligência Artificial. Fui particularmente atraída pelo tema da Saúde Planetária, que é, de facto, a minha maior área de interesse dentro da Saúde Publica. As alterações climáticas e os seus impactos na saúde e nos ecossistemas são um tema pelo qual me interesso há muito tempo, ainda antes de ter ingressado em qualquer curso superior. Portanto, tinha certeza de que não poderia faltar a uma discussão mundial sobre o assunto. No entanto, o fator decisivo para eu tomar a decisão de ir foi a vontade de apresentar o meu trabalho de investigação neste congresso. Quais foram os temas abordados e workshops/atividades destacados no congresso? Ao longo dos quatro dias de congresso, ocorreram várias sessões paralelas. Portanto, foi necessário tomar decisões sobre quais sessões e workshops participar. Além dos três temas referidos acima foram também abordados outros temas, nomeadamente: os desafios e lições aprendidas após a pandemia COVID-19, saúde mental, doenças preveníveis por vacinação, melhoria da capacidade de trabalho e habilidades de governação em saúde pública, além de conflitos e catástrofes em saúde pública. Naturalmente, preferi participar de workshops sobre os temas que me interessavam, mas também tive a oportunidade de assistir a uma sessão plenária sobre cada um dos temas do congresso. Paralelamente, ocorreram também comunicações orais e apresentações de pósteres que, em comparação com as sessões plenárias, eram uma forma melhor de participar na discussão científica e partilhar ideias relativamente a questões de investigação pertinentes, uma vez que eram mais focadas. Entre as sessões a que assisti, destaco a primeira sessão plenária, com o tema “No Public Health Without Planetary Health”, palestrada por Samuel Myers, Maria Neira e Txai Suruí. Os três foram excelentes palestrantes, mas foi, sem dúvida, uma sessão marcada pela capacidade oratória de Samuel Myers e sua habilidade em fazer advocacia pela ação. Nesta sessão, falou-se sobre as consequências das alterações climáticas em saúde, com particular enfoque na insegurança alimentar, na saúde mental e no risco de migrações forçadas (displacement). Foi ressaltado o modo como todos esses fenómenos são agravados por diversos outros fatores sociais, demográficos e económicos. Os workshops eram, em geral, mais práticos do que as sessões plenárias e proporcionavam mais oportunidades de participar nos debates. Gostaria de destacar três workshops em que participei e que considerei especialmente relevantes: 1) “Conflicts of interest (CoI) and undue corporate influence in public health: from the international context to local interventions”. Neste workshop, foram debatidos os vieses de fazer investigação e intervenção com apoio da indústria. Foram expostas algumas estratégias politicas adotadas pelas empresas para impor a utilização do seu produto e discutiu-se como devem ser interpretados os resultados de estudos financiados pelas mesmas. A discussão foi mais focada na influência da industria alimentar, mas também foram apresentados exemplos relacionados com as indústrias do álcool e do tabaco. 2) “Could humanity build a new planetary governance system able to tackle pandemics and other existential threats? A thoughtexperiment.” Após uma breve apresentação sobre os erros cometidos e os desafios impostos pela última pandemia, bem como sobre as principais ameaças à saúde pública atual, formaram-se pequenos grupos de discussão entre os participantes. Foi solicitado que elaborássemos um conjunto de medidas que, implementadas num mundo ideal, ajudassem a lidar com futuras ameaças e promovessem a coesão social e a adesão da população às medidas de saúde pública. De seguida, as ideias foram partilhadas por um porta-voz de cada grupo, tendo surgido vários aspectos que destaco como reflexão da discussão. Em primeiro lugar, a necessidade de um trabalho conjunto com outras áreas de conhecimento, promovendo uma melhor cooperação entre os profissionais de saúde e outros profissionais. Também foi realçada a importância de uma comunicação mais efetiva, tanto entre as instituições, quanto para a população em geral, incluindo a necessidade de transmitir mensagens claras, mas também de saber comunicar a incerteza quando esta existe, bem como o impacto de notícias falsas. Por fim, discutiu-se a necessidade de trabalhar com mais projeções e dados no futuro, em vez de adotar uma perspectiva retrospectiva, como é frequentemente feito em investigação. 3) “Is the high-income/ low-middle income country classification still relevant in today’s healthequity dialogue?” Esteve em debate o sistema de classificação criado pelo Banco Mundial, que divide os países em três categorias com base no seu PIB: baixo, médio e alto rendimento. Discutiu-se se esta seria uma classificação justa num mundo em que existe tanta mobilidade da população e em que o PIB de um país pode não refletir o acesso à saúde da população geral, ou de comunidades mais vulneráveis que façam parte dessa população. Neste contexto, foi discutido o impacto da corrupção e dos pagamentos out-of-pocket nos custos da saúde e dos serviços. Foi utilizado o exemplo da variação da esperança média de vida ao longo da linha metro de Glasgow para discutir o papel das iniquidades dentro de um mesmo país que é classificado como de alto rendimento. Foram também discutidas as implicações que essa classificação pode ter para cada país. Neste contexto, foi mencionado como exemplo o financiamento disponível para intervenções em saúde em países de baixo rendimento, que muitas vezes é “cortado”, quando o país passa de baixo para médio rendimento. Por fim, foi debatido se seria importante substituir esta classificação e, em caso afirmativo, quais as melhores alternativas e medidas a ser incluídas nesta nova classificação. Falou-se na inclusão do índice de Gini e na necessidade de rever as normas de atribuição de financiamento, de modo a não eliminar os investimentos anteriores. Quanto à tua comunicação oral, em que consistiu? A minha comunicação oral apresenta alguns resultados preliminares da investigação que estou a realizar no âmbito do Internato Médico. Este trabalho é feito em colaboração com uma equipa de investigadores do ISPUP, sob orientação da Professora Ana Isabel Ribeiro. Resulta do protocolo de investigação que desenvolvi durante o Curso de Especialização em Saúde Pública (CESP) nessa mesma instituição. O tema desta investigação é “Ecoansiedade, seus determinantes e adoção de comportamentos pró-ambientais”, e apresenta dados recolhidos na coorte Geração XXI, uma coorte de crianças nascidas entre 2005 e 2006 na área metropolitana do Porto. Foi uma experiência gratificante desenvolver este trabalho, pois deu-me a oportunidade de trabalhar com uma boa equipa de investigação e aprender muito ao estar envolvida em todas as fases do processo de investigação. No ano do CESP, comecei a elaborar o protocolo logo após a introdução da disciplina correspondente, porque pretendia ter dados para análise de forma atempada para dar cumprimento ao estágio de investigação. Consciente de que as comissões de ética e a recolha de dados primários podem ser demoradas, finalizei o meu protocolo em agosto e submeti-o no mês seguinte à comissão de ética. Felizmente, em setembro, o protocolo foi aprovado. A recolha de dados na coorte começou em novembro de 2022, através de um questionário online, e só terminou em março de 2023, após alguns contactos telefónicos para aumentar a amostra. Esses prazos permitiram que, em dezembro de 2022, quando terminavam as submissões para o congresso mundial, eu já tivesse dados preliminares da subamostra recolhida até então, o que me permitiu elaborar um resumo com alguns resultados. Agora, em maio, a recolha de dados já estava concluída, e os dados apresentados durante o congresso foram quase os resultados finais desta investigação, que espero que sejam aceites para publicação no futuro. Este é um tema que surge da necessidade de estudar as consequências das alterações climáticas na saúde, algo que realmente me interessa muito e, por isso, fazer este trabalho foi gratificante. Entre as várias consequências em saúde, decidi focar-me na saúde mental, dado que é uma área que representa uma elevada carga de doença no nosso país, em especial em adolescentes. Até à data em que iniciamos o estudo, não havia nenhuma quantificação ou caraterização do fenómeno em Portugal e, a nível internacional, são necessários mais estudos para consolidar o conhecimento sobre o tema. Os resumos submetidos para o congresso foram publicados numa revista científica, podendo o mesmo, bem como a equipa de investigação completa ser consultados aqui. Por fim, senti que o meu trabalho estava muito alinhado com os temas do congresso, já que a ecoansiedade foi mencionada, por Samuel Myers, durante a primeira sessão plenária do congresso, como uma das consequências das alterações climáticas na saúde. Figura 1: Apresentação da comunicação oral “Eco-anxiety, its determinants and the adoption of pro-environmental behaviours: Findings from the Generation XXI cohort” Achas que foi uma experiência enriquecedora a nível profissional? Quais as tuas maiores aprendizagens? Foi, sem dúvida, uma experiência enriquecedora. Além de todo o conhecimento que adquiri nas sessões e nas respetivas discussões, tive também a oportunidade de ser co-moderadora de uma sessão de pósteres sobre Saúde Materna, da Criança e do Adolescente, em conjunto com a Professora Alena Petrakova. Esta experiência contribuiu para a melhoria das minhas competências de comunicação e moderação de diálogo, permitiu-me conhecer em maior detalhe os trabalhos de investigação que os colegas apresentavam nos respetivos posters e fez sentir-me envolvida na discussão dos mesmos. A experiência mais enriquecedora a nível profissional foi, sem dúvida, realizar a comunicação oral. Vários foram os motivos que tornaram essa experiência a mais enriquecedora. Em primeiro lugar, destaco a discussão e as perguntas que surgiram após a apresentação, pois permitiram-me receber contribuições e insights do público sobre o significado e as implicações dos resultados apresentados, assim como sugestões para aprimorar o trabalho antes da sua publicação e apresentação do relatório final do internato. Além disso, essa oportunidade foi importante para desenvolver habilidades de comunicação numa língua não materna, bem como a capacidade de síntese, já que a apresentação não poderia ultrapassar os 6 minutos. Mas, acima de tudo, esta experiência foi fundamental para “perder o medo” das comunicações orais em congressos internacionais, que na verdade correm bem se forem bem preparadas. Tiveste oportunidade para conhecer melhor outros colegas e a cidade onde decorreo congresso? O que achaste do país/cidade/local/organização? Sim, conheci colegas dos Estados Unidos, de Hong Kong, das Filipinas e de Myanmar, com quem mantive contato ao longo do congresso, e espero contunuar a manter. Também tive conversas esporádicas e discussões interessantes com muitas outras pessoas durante as sessões. Confesso que nunca tinha ido à Itália, por isso decidi fazer uma semana de férias após o congresso para fazer turismo, o que me deu tempo para conhecer bem a cidade. Roma é uma cidade interessante e cheia de história e mitologia por isso gostei muito de passear, de visitar os museus e de aprender todas as histórias que os quadros e esculturas aí expostas contam. No entanto, a cidade possui um grande problema, que é o lixo nas ruas e as ervas das bermas não cortadas. Além de ser visualmente desagradável, o lixo no chão acaba eventualmente ir parar ao rio e, posteriormente, ao mar, prejudicando os ecossistemas. O lixo, juntamente com as ervas altas, também representa um risco para a disseminação de vetores. Por outro lado, como a maioria das capitais europeias, a cidade possui um bom sistema de transportes públicos, o que é um ponto positivo. Quanto ao congresso em si, estava bem organizado. O que mais te marcou nesta experiência? Tudo o que já fui dizendo até agora, mas em resumo fazer a comunicação oral e criar algumas relações internacionais. Também soube muito bem ter tantos portugueses na audiência da comunicação oral para me dar apoio: é bom saber que estou a crescer numa coorte de internos de saúde publica interessados em cooperar, e não em divergir. Figura 2: Colegas Portugueses de Saúde Pública uns breves momentos antes de ter inicio a comunicação oral. Recomendarias a experiência a outros internos?
Sim, recomendo. Participar num congresso internacional é sempre uma ótima oportunidade, mas principalmente recomendo sempre que pensem em trabalhos de investigação com tempo, para, caso surja a oportunidade de ir a um congresso como este, se poder divulgar os resultados, tornando, quer a experiência do congresso, quer o trabalho de investigação, mais enriquecidos. Vale a pena realçar que, apesar de tudo, os congressos desse tipo tendem a ter um custo elevado, pelo que é importante tirar o máximo partido de cada participação. Recebeste algum tipo de financiamento? O ISPUP lançou, recentemente, uma bolsa de apoio financeiro à pesquisa realizada no âmbito do CESP, direcionada para trabalhos desenvolvidos em colaboração com a instituição. Concorri à mesma e ganhei uma destas bolsas, que me cobriu o custo de inscrição no congresso. |
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