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Nome Ana Cecília Chaves Experiência Missão Permanente em Portugal - Núcleo da Saúde - Junto da NUOI (Estágio consultoria em diplomacia em saúde) Instituições, Cidade e País NUOI (Nações Unidas e outras organizações internacionais), Genebra, Suíça 1. Como soubeste desta vaga/oportunidade? Desde o início do internato que tinha a ideia de fazer o maior número de estágios "fora da caixa" possível, de contactar com ambientes diferentes, e aos quais seria difícil ter acesso noutra circunstância. Acabei por ler as rubricas "Internos pelo Mundo" à procura de inspiração. Foi aí que me apercebi de que vários outros colegas já tinham estado na Missão Permanente de Portugal junto das Nações Unidas e outras Organizações Internacionais em Genebra (NUOI), aos quais pedi feedback sobre o estágio, sobre custos e sobre as burocracias necessárias. Além disso, no mesmo ano, no CESP, o Dr Guilherme Duarte, na altura Conselheiro para a área da Saúde na NUOI, veio dar-nos uma aula ao ISPUP, na qual também nos lançou o convite para, se quiséssemos, fazermos estágios com ele em Genebra. 2. Caso tenha havido processo de candidatura, como foi? Não houve processo de candidatura. Bastou contactar o Dr. Guilherme, que se mostrou prontamente disponível para me receber. Foi apenas necessário submeter um plano de estágio simples (2 páginas, com local, datas e objetivos do estágio) para a Coordenação do Internato Médico aprovar. Como já tinham existido estágios prévios de MISP na NUOI, não foi necessário fazer pedido de aprovação à Ordem dos Médicos, pelo que o processo foi bastante célere. Por último, a NUOI acabou por tratar da autorização de residência na Suíça (o chamado Permit). 3. Como foi a adaptação a uma nova cidade? Foi bastante fácil. Genebra, como toda a Suíça, é uma cidade muito bem organizada. A deslocação para a NUOI, para as agências da ONU ou outras instituições nas quais tínhamos reuniões/eventos era sempre de transportes públicos (passe custava cerca de 70eur/mês). A parte mais desafiante talvez seja encontrar alojamento, não só pelo preço, mas pelo facto de ser um período de tempo curto, 5 meses (eles preferem alugar por períodos de 1 ano ou mais). Além disso, eles exigem uma série de documentação e um salário bastante acima do valor da renda o que, na qualidade de MISP, se torna inviável. A forma mais fácil é subalugar um quarto de alguém que vai estar fora durante um período de tempo e que, por isso, aluga o próprio quarto; alternativamente, ficar numa residência de estudantes. Eu acabei por conseguir ficar num estúdio que encontrei no Airbnb, cujo proprietário aceitou alugar pelo período de 5 meses. Genebra é uma cidade com uma população extremamente internacional tendo, inclusivamente, uma grande comunidade de jovens que vêm estagiar/trabalhar para agências da ONU ou outras instituições internacionais. Existem vários grupos no whatsapp/facebook, pelo que é fácil fazer amizades e encontrar planos. Outra das grandes diferenças entre Portugal e Suíça é o facto de o comércio local e os supermercados fecharem bastante cedo (18-19h), assim como aos domingos 4. Como era uma semana habitual? Nunca haviam semanas iguais. O nosso trabalho dependia das agendas dos diversos stakeholders da Saúde em Genebra, principalmente da OMS e outros programas/agências da ONU, assim como do grupo de países da União Europeia. Para além da assistência a eventos/reuniões, tínhamos atividades de comunicação com os órgãos nacionais (Ministério da Saúde, Ministério dos Negócios Estrangeiros, etc), através da redação de telegramas e emails a relatar os acontecimentos em Genebra mais relevantes para os interesses nacionais. Pude ainda contactar, a título opcional, com o trabalho e eventos de outras agências da ONU e stakeholders - Organização Internacional do Comércio, Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, empresas do setor privado, etc. Aos fins de semana aproveitei sempre para viajar na Suíça e arredores (França, Alemanha e Itália). 5. Quais as maiores aprendizagens? Iniciei o estágio com pouca/nenhum ideia sobre qual era o trabalho da NUOI. Acabei por perceber que existem dois contextos muito diferentes de trabalho na OMS (que se aplica às restantes agências da ONU): um lado mais técnico (monitorização e análise de dados de saúde global, produção de evidência científica/guidelines/documentos técnicos, desenvolvimento e implementação de programas de saúde, formação e capacitação de profissionais de saúde, apoio técnico aos países na implementação de políticas de saúde, etc.); e um lado mais político/diplomático (negociações entre países a nível de políticas, financiamento e cooperação internacional, desenvolvimento de parcerias, etc.) - na qual se inclui o trabalho da NUOI. Ambos os contextos beneficiam do envolvimento de MSP, ainda que muitas das Missões diplomáticas ainda careçam de profissionais dedicados à área da saúde, nomeadamente pessoal técnico das áreas da saúde. O estágio foi particularmente rico pelo facto de ter coincidido com dois hot topics da saúde global, nomeadamente as negociações do Tratado Pandémico e as Revisões do Regulamento Sanitário Internacional, cuja adoção estava prevista para a 77ªAssembleia Mundial da Saúde, em maio 2024. As negociações foram bastante tensas e pude experienciar os processos de diplomacia no seu auge, tendo percebido o poder que as divergências políticas e económicas dos diferentes Estados-Membros têm sobre os processos negociais em Saúde e as relações internacionais. Por ser um ambiente muito dinâmico e sobre o qual não tinha nenhum background prévio ao estágio, a adaptação ao tipo e ritmo de trabalho foi algo exigente, especialmente no que toca à redação de telegramas e intervenções nacionais em linguagem técnica, horários de trabalho alargados, extensas horas de reuniões de negociação e à necessidade de desenvolver sensibilidade geopolítica. No entanto, tive oportunidade de aprimorar competências de comunicação e linguagem técnica, advocacia, networking e negociação, assim como apurar a minha sensibilidade política e cultural, especialmente num ambiente diplomático cada vez mais politizado e exigente. A par do crescimento profissional, o contacto com grandes nomes da Saúde Global e a oportunidade de representar o país lado a lado com elementos do Governo e de outros profissionais que dão voz a Portugal nos grandes fóruns internacionais foram também, sem dúvida, muito gratificantes do ponto de vista pessoal.
6. Que conselhos darias a quem gostasse de ter uma experiência de estágio semelhante? O IMSP dá-nos a possibilidade de podermos explorar contextos de trabalho em Saúde Pública muito diversos. Acho que são oportunidades únicas para termos contacto com áreas e instituições sobre as quais temos curiosidade, mesmo que nem sempre nos vejamos trabalhar nelas no futuro, como foi o meu caso neste estágio - eu tinha plena consciência de que não tinha perfil para trabalhar num ambiente político, mas queria ter contacto com o ambiente internacional e com o trabalho nos grandes palcos da Saúde Global. Crescemos muito a sair da nossa zona de conforto, ganhamos plasticidade emocional, maior awareness para diferentes problemas de saúde pública e para diferentes formas de os resolver. Não tenham medo de explorar!
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