Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são sistemas computacionais usados para capturar, armazenar, gerir e analisar dados geográficos.
Os SIG são extremamente flexíveis e admitem dados de vários tipos e origens: mapas com limites administrativos, fotografias aéreas, localizações obtidas usando um sistema de navegação por satélite, imagens de satélite, entre outros. Além de permitirem criar mapas temáticos (ex.: colorir unidades territoriais em função dos valores de uma determinada variável), os SIG permitem fazer inferências e cruzar informação de forma a dar solução a problemas geográficos. E, quase tudo em saúde pública, é um problema geográfico – desde identificar onde estão as áreas de alto risco de uma dada infeção, a investigar se uma determinada indústria está a gerar danos na saúde das pessoas que vivem nas suas imediações. Num SIG, o território é representado por um conjunto de camadas (em inglês designadas “layers”), cada uma das quais representando um tipo de objeto. Por exemplo, imaginemos que queremos estudar o impacto do ambiente construído na prevalência da obesidade. Uma das camadas poderá conter a localização das residências dos vários utentes de um Agrupamento de Centros de Saúde (e seu respetivo índice de massa corporal), outra a rede de estradas, outra a localização de espaços verdes, outra a localização de restaurantes de fast-food, etc., etc. Nos SIG, estas camadas estão georreferenciadas (ou seja, posicionadas de acordo com um determinado sistema de referência), o que permite fazer análises que cruzem as diferentes camadas de informação. Esta capacidade única permite-nos, por exemplo, determinar a distância entre a residência do utente e os espaços verdes mais próximos e, posteriormente, avaliar a associação entre essa distância e a condição de saúde do utente (neste caso ser ou não obeso). Contributos dos SIG para o exercício da especialidade de Saúde Pública O estudo de John Snow (pai da epidemiologia moderna) sobre o surto de cólera de 1854 em Londres é o exemplo mais conhecido que ilustra o poder do mapeamento e da abordagem geográfica na saúde pública, demonstrando que a epidemiologia, a saúde pública e os SIG caminham de mãos dadas desde a sua origem. Mas, focando-nos na realidade presente, os SIG e a análise espacial permitem atuar em várias vertentes que fazem parte das atividades de um Médico de Saúde Pública. Eu destacaria aqui três áreas:
Expectativas futuras Os SIG são tecnologias relativamente recentes (o seu uso generalizado começa nos anos 1990) e em constante transformação, o que significa que se esperam grandes inovações neste campo. Falando estritamente nas metodologias que poderão servir à saúde pública, diria que aqui a expectativa é que a saúde pública se aproprie cada vez mais das ferramentas que já estão disponíveis nos SIG, como análise de redes, métodos de deteção de aglomerados espácio-temporais, análise de decisão multicritério, modelos de locação-alocação, entre outras. Além disso, prevê-se que os mapas web se banalizem (no bom sentido) como veículo de monitorização e comunicação de dados em saúde. Para tal, muito contribuiu a pandemia causada pela COVID-19 cujos números são monitorizados e divulgados em tempo real através de mapas web e dashboards, como o criado pela John Hopkins ou o nosso equivalente nacional da Direção Geral de Saúde. Finalmente, é expetável que se comecem a usar cada vez mais fontes de dados recolhidas por cidadãos (ex.: posts geocodificados nas redes sociais, dados de sensores) para a investigação e prática em saúde pública, incluindo a gestão de crises em saúde pública (epidemias, desastres naturais). É igualmente esperada uma maior utilização de grandes dados caracterizados pela sua enorme granularidade temporal, espacial e multidimensionalidade, o que implica o uso de técnicas como machine learning, data mining e inteligência artificial, já implementadas em software comercial SIG como o ArcGIS. Desafios a enfrentar Há dois desafios principais. O primeiro diz respeito ao acesso à informação. Os dados com informação de localização são dados identificáveis e, se acoplados com informação de saúde, são considerados dados sensíveis. Logo, sobretudo com a entrada em vigor do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, as regras e limitações de acesso a dados de saúde georreferenciados a nível individual ou associados a pequenas áreas geográficas são cada vez maiores. O segundo desafio é o da formação. Os médicos de saúde pública têm um percurso académico e profissional extremamente exigente e curricularmente denso, havendo pouco tempo para aprofundar os conhecimentos técnicos necessários ao uso dos SIG, sobretudo os SIG da era atual, que oferecem ferramentas que cruzam saberes da estatística, informática, computação e gestão de dados. Logo, precisamos de apostar na formação dos profissionais de saúde pública e sensibilizar as organizações acerca da importância de divulgarem (de forma legal e segura) dados de saúde com a granularidade temporal e espacial necessária para se efetuarem análises com reais implicações práticas, conforme preconizado pela Saúde Pública de Precisão (do inglês “Precision Public Health”). Formação em SIG Atualmente, existem imensos cursos online e presenciais para aprender SIG. Mas aqui vou ter de ‘puxar a brasa à minha sardinha’… O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (2015) tem vindo a organizar um curso intensivo anual intitulado “Geographical Information Systems for Public Health” que aborda as metodologias de aquisição de dados, geoprocessamento e estatística espacial necessárias para desenvolver um projeto SIG na área da saúde pública. Além disso, o Curso de Especialização Médica em Saúde Pública (CESP), que tem lugar no ISPUP desde 2015, tem uma unidade curricular de 30h de SIG, o que garante que os internos em formação terminem o seu período de especialização com conhecimentos relativamente aprofundados na área. Finalmente, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), no nível pós-graduado – mestrado em Saúde Pública e Doutoramento em Saúde Pública - existe uma Unidade Curricular de SIG e outra de Métodos Avançados em SIG onde estas ferramentas são também abordadas. Autora Ana Isabel Ribeiro
Edição Valter Loureiro Júlia Martinho
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Creation and evolution of the Public Health (PH) residency program in France
Defined in 1982 by the law n° 82-1090 (loi relative aux etudes medicales et pharmaceutiques), and established from 1984, the French residency program of PH (Diplôme d’Etudes Spécialisés - DES - de Santé Publique) was created with the objective of providing a specialization path of excellence that aimed at training doctors in measuring and analyzing the health status of populations, integrating transversal population-based approaches to health. Since then, many reforms have taken place, renaming the residency program (from “Santé publique et médecine sociale” – Public Health and social medicine, to “Santé publique” – Public Health) and redefining its missions. The last reform (Réforme du 3e cycle des études médicales de 2016-2017) organized the residency around 9 main topics:
The residency today Today there are 27 different locations all over the country, including the Overseas Territories of France, offering a DES of PH (the full list is available here). The CNG (Centre National de Gestion) oversees the annual organization of the national test (ECN – Epreuves Classantes Nationales), that regulates the access of candidates to medical residency programs. Candidates must have successfully completed the 6 years of medical studies to participate to the test. After the ECN, the national ranking is published, and future residents can choose a specialty and a location based on their position in the ranking. On average, every year, there are between 60 and 80 places available in the PH residency program. The PH residency lasts a total of 4 years, and it is divided in 3 phases:
An additional year can be added to the program by applying for a specialized transversal training (Formation Spécialisée Transversale – FST). The training can cover the following topics: addictology, hygiene, medical pharmacology/therapeutics, school medicine, medical bioinformatics, and applied nutrition. For residents interested in improving their skills and knowledge in the field of healthcare management, another kind of optional training called “Option administration de la santé” - Health administration option - can be attended at the EHESP School of Public Health (École des Hautes Etudes en Santé Publique), adding an additional year of the residency as for the FST. Theoretical education during the residency During residency different possibilities and tools of theoretical education are available:
International experiences Applications for international rotations are allowed during the residency. Each University Hospital (CHU) defines the number of places available and the criteria for evaluating the applications of residents that would like to embark on this experience. Specific programs for national (Inter-CHU) and regional rotations (for example, Echanges HUGO) are also available. Associations of PH residents In France, PH residents are supported and can rely on different associations during and after their residency, based on their needs and interests. The CLISP (Collège de Liaison des Internes de Santé Publique) is the national association of PH residents. Among its main functions, it represents and defends the rights and moral interests of PH residents, it promotes communication and collaboration between residents, it concurs to enhance the quality of the PH residency in France, it promotes the PH specialty and a PH culture, it facilitates the training of PH residents, and it participates and/or coordinates all actions related to the goals of the association. Other associations of PH residents are also present at local, regional, and inter-regional level, helping PH residents to find more specific information on local programs, to guide them through their choices, and to have a high-quality training and education. Finally, EuroNet MRPH, the European Network of Medical Residents in Public Health, is a non-profit, international, independent, and non-governmental association made of European national associations of PH residency programs. It connects PH residents from all the countries taking part in the association by organizing teleconferences and meetings, it facilitates international rotations for PH residents, and it creates working groups to produce scientific studies and knowledge. Careers of PH physicians after residency The structure of the PH residency program, highly comprehensive and diversified in its offer, consists in a unique opportunity of training and specialization. This provides PH physicians with a very competitive profile, both in the private and public sector. A study published in 2019 by Guerra et Al., explored the training paths and careers of 563 former French PH residents. Almost all the respondents to the questionnaire (98%) found a job within one month after completing residency. At the moment of the enquiry, they were mainly employed in the public sector (78%), and their main fields of work were epidemiology, clinical research, and biostatistics (36%), medical informatics (18%), and healthcare policy and management (14%). Moreover, 73% of the participants to the study worked in more than one field of public health during their post-residency experience, underlying the transversal employability of the competences acquired during the specialization. Challenges for the PH residency Even if the French PH residency program offers a unique opportunity of high-quality training, education, and professional development, it has struggled over the years to find visibility. In fact, since its creation, the PH residency has faced many challenges up to the point that it risked disappearing or to see a reduction of available places in the program. An improvement of PH education during the 6 years of medical studies preceding residency, as well as a harmonization of the residency programs across the country, are the first fundamental steps to make in order to promote a PH culture among physicians and, more widely, health professionals, and to provide the residency with the visibility and recognition it deserves. Author Giulio Borghi
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Maio 2022
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